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Deter

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    Quando eu percebo o outro enquanto ele próprio, isso me detém. É o encontro. Pode ser amizade, amor, pode também ser a descoberta do maldoso, do invejoso, do esperto, do ruim, do agressor.   Para perceber o outro enquanto ele próprio é necessário ser disponível, é necessário se aceitar, é assim que o outro nos detém para o bem ou para o mal. Perceber o ouro em função de molduras classificatórias é o mais frequente atualmente. Nos é explicado o que é bom, o que é mau. Esses critérios identificadores nada satisfazem, são véus que distorcem a percepção, mas infelizmente é assim que tudo é catalogado e vivenciado. Preconceitos e regras, conhecer por experiência e vivência distorcem a percepção do outro.   O outro é o que está comigo. Essa continuidade que estrutura amizade, que estrutura amor, certezas e duvidas é o que nos detém, e essa parada permite, por mais absurdo que pareça, movimento, dinâmica. É o encontro. Ele não é engendrado, é a resultante alqu

Transformar limites

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    Transformar é a possibilidade contínua de se relacionar com os outros e consigo mesmo sem ser o centro, o ponto de referência dos processos. Para que tal aconteça é necessário aceitação dos próprios limites, das contingências processuais. Estar no mundo é vivenciar o presente, é estar disponível sem ser detido por metas ou desejos. Viver em função do futuro, viver em função de realização de desejos é aniquilador das possibilidades humanas, pois transforma o indivíduo em caçador de resultados positivos, um buscador de vitórias. Geralmente os indivíduos não se aceitam, pois seus pais ou responsáveis não se aceitavam. É o eterno ciclo que se mantém. Vive-se para ser o que não se foi ou para continuar sendo o que se é. Esse propósito, a priori , estigmatiza. O medo de se expressar é uma característica que passa a existir, pois o indivíduo não quer destoar, não quer ferir expectativas. Essa omissão, que é o compromisso com o não falhar, geralmente se constitui em

Unificação

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    Unificação é a hercúlea tarefa atual do ser humano. Questionar posicionamentos, destruir preconceitos, redescobrir possibilidades e limitações, revitalizar processos destruidores é o que se coloca quando se busca humanização.   O outro, ao ser aceito como ele é, independente do que possa oferecer de bom ou de mal, é aceito como ser humano. Frequentemente esse processo de aceitação do outro é interrompido pelos esgares de raiva, medo, onipotência, submissão e inveja, e, assim, o outro está despersonalizado, coisificado. Nesse momento, a depender dos contextos relacionais nos quais ocorrem o relacionamento, as coisas podem mudar em função dos questionamentos que se faça. Para isso é necessário que não se use o outro para os próprios objetivos e desejos. Caso isso ocorra, é aumentada as fileiras dos despersonalizados e despersonalizadores. Enfim, é pelo relacionamento que podem ocorrer mudanças ao configurar as próprias impossibilidades ou possibilidades de outro modo.  

PONTUALIZAÇÃO – poço de insegurança

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  Reduzido a massa de manobra, o indivíduo alienado e despersonalizado busca apenas o melhor encaixe. Os processos de adaptação propostos pela sociedade realizam e até propiciam e determinam esse processo de despersonalização. A massa de reivindicações é tão extensa que começa a se constituir em material passível de legislação estatal, a fim de grupos e minorias conseguirem vantagens, melhores encaixes. Essa convergência abrange todo o sistema. As comunidades, as escolas, o ensino, tudo se endereça para isso: melhoria, amplos e confortáveis encaixes. É a grande comunidade que desumaniza. Não há mais afeto, não há criatividade, desde que tudo está comprometido com o resultado viabilizador da manutenção de seu próprio sistema. As artes e ciências estão voltadas para melhorar e ampliar as condições do ajuste. Compromisso é o que tudo decide e ratifica. Contratos, acertos, acordos, conveniências, inconveniências decidem o que se faz, quando e como. É o padrão, é o algo

DIVIDIR – é o fazer de conta

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    Para haver participação é necessário haver espontaneidade. É preciso concordância, vivência junta de erros, acertos, possibilidades realizadas e impossibilidades superadas ou aceitas. Igualdade é o fundamento da participação, consequentemente não há direitos, nem deveres.   Não existindo legitimidade começam as atribuições, estabelecendo-se assim, direitos e deveres. As regras impostas criam superiores, inferiores, líderes e seguidores. Não há mais participação, o que existe é comando e obediência. Líderes e liderados, pregadores e ouvintes, gurus e seguidores, organizadores e militantes. A ordem estruturante é quebrada, dividida em função dos propósitos. Há o que manda, o que tudo entende, e o que é mandado, que tudo obedece. Dividir para governar, criar facções, grupos, pontos, polos de discussão é a regra básica para organizar o que se considera campo minado, que tem que ser conquistado e transformado. Dividir é quebrar   rigidez e impossibilidades, é também quebrar e desv

MULTIPLICAR – ir além dos próprios limites

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  Cruzar as tessituras do existente, se deter nas possibilidades e impossibilidades é a pólvora, é o fogo, é transformar o cru em cozido. Esse processo civilizatório, estruturado na operacionalidade de contraditórios, devolve ao homem o poder de ir além das contingências, de virar regra dos próprios limites. Isso é possível pela exploração do outro, pela transformação de si mesmo em objeto de lucro e troca. A alienação, por transformar-se em produto, viabiliza metas e desejos. Transformar o humano em massa de manobra é ingrediente necessário para o processo da multiplicação dos pães. É a criação de famílias, grupos, associações, empresas, partidos, religiões. Agir congruentemente é o que se exige, é o que se espera. Preencher fileiras, não destoar, capitalizar, acumular para ter base de decisões. São o iniciado, o adepto, o servil, e também o senhor, que encontramos nesses resultados, nessas aplicações eficientes. É a natureza transformada - mato, terras, chuva

DIMINUIR – liberdade e vazio

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  Tudo que existe, tudo que ocorre pode ser entendido pela dialética (tese, antítese, síntese). Suas configurações possibilitam açambarcar, globalizar existentes, universos, verdades e mentiras. Nesse sentido, após somar, se impõe diminuir. É operação matemática, é aritmética, é entendimento da quantificação, tanto quanto é possibilidade de operacionalizar fenômenos, de exercer motivações, de se comportar.   Questionar o existente gera cacifes para que se inicie outro jogo, é a possibilidade buscada quando a antítese do acúmulo se impõe.   O novo, o ainda não acumulado, o não somado, é rico, prenhe de possibilidades. Buscar esse infinito, exige atitudes demolidoras. Iconoclastas, questionadores, desbravadores surgem. O inédito, o início é tudo. É o infinito buscado, é a recriação do existente, é vácuo que tudo recebe e integra, geralmente vivenciado como infinito e disponibilidade, encontro com Deus, transcendência, ir além do próprio limite, quebrando regras, estabelecendo

SOMAR - contratos e permissões

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    Acrescentar, aumentar, adicionar é o resultado conseguido quando se soma. Essa operação matemática, por analogia, pode ser um modelo explicativo do comportamento humano. O propósito de ampliar, aumentar o que se tem, o que já se conseguiu, o que se quer, é atitude característica de expandir. O expansionista, o que luta por acréscimos parte sempre de um vazio incomensurável. Nunca haverá complementação satisfatória, pois se houver, o propósito de acrescentar será destruído, tanto quanto sua meta e objetivo, e desse modo a imobilidade reina.   Nesse sentido, somar é vitalizar, é animar e empreender. Balzac, em Le Père Goriot enfoca essa atitude de usura e ganância em sua brilhante descrição dos hábitos e comportamentos dos personagens. Buscar, conseguir, manter. Essa é a melodia, o compasso mantido, o representante do existir quando se busca acréscimo ao que se valoriza, considera e luta. São os grandes empreendedores e suas empresas estáveis, os clãs no

Propósito e despropósito

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A repetição da frustração - nada conseguir - estrutura desânimo e tédio. Viver para o depois, para alcançar o que se quer, o que não se tem, o que se deve ter é aniquilador de individualidades, pois a própria pessoa se divide, se transforma em instrumento de qualidade ou desigualdade, de erros ou de acertos. Quanto mais se vive para o depois, quanto mais se agarra no futuro para atravessar o que considera inóspito e desagradável – o presente, seu contexto de vida – mais o indivíduo se compromete com resultados. Esse comprometimento esvazia, e nada mais significa, tudo não passa de marcas de tempo, espaço e índices de estar no caminho. É, metaforicamente, o tostão a tostão guardado para permitir realizar planos e propósitos: casa, formatura, prazer e diversão. A vida para depois abandona a vida de agora e assim o que acontece não existe, não significa. É como se viver fosse um permanente jejum, uma imolação às causas buscadas e transformadas em significativas do pró

Contradição

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  Estar sempre se queixando das próprias incapacidades, muitas vezes é confundido com autocrítica, tanto quanto com impiedosa desvalorização de si mesmo. Essas queixas geralmente não passam de reclamações, de gritos de alerta, de pedidos de ajuda. O indivíduo que se queixa, em última análise, espera ser reconhecido, ajudado. A queixa, para ele, é uma maneira de dizer “estou atento, estou sendo prejudicado” . Ela é sempre o desejo falhado, não realizado. Quando assim percebida e conceituada, a queixa é uma indicação da não aceitação, da recusa sistemática da impotência, da incapacidade, da realidade. Frequentemente, ser vítima, construída por meio de queixas, bem ouvidas e auditadas (famílias, governos, até mesmo psicoterapeutas), é ocupar um lugar, e, às vezes, ter um destaque arregimentador de olhares e cuidados.