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Antagonismos

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  Lutar é explicitar o ponto do antagonismo. Quando a contradição consegue cravar, doer, surge espontaneamente reação. Nesse contexto é de estranhar não haver lutas diárias e constantes. Esse estranhamento desaparece quando configuramos ou percebemos os amortecedores. Os processos não são lineares, isso significa que a antítese, a contradição de A pode ser a síntese de B, ou ainda, afirmação de C. Dinâmicas, movimentos são constantes. Não existem fatos isolados, e essa constatação faz com que se entenda que as lutas são contidas por amortecedores. No plano individual, mais especificamente na vida psicológica diária, os deslocamentos, o fazer de conta, as distorções impedem atitudes, impedem questionamentos e assim as vivências escorrem, são diluídas e absorvidas por outros contextos aplacadores. Tudo pode esperar, tudo pode ser adiado, e isso vai ocorrendo de tal forma que a expectativa já não é de mudança, a expectativa é de finalização. Os propósitos, os desejos e

Adversidades

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  Na busca de reconhecimento, recompensa e afeto, qualquer coisa pode se constituir em obstáculo. Esperar retribuição é o equivalente de cobrar. A atitude de cobrança é uma das características do indivíduo carente. Tudo foi empenhado, muita renúncia foi feita, consequentemente é necessário que isso seja reconhecido, que as recompensas surjam. Essa atitude assemelha-se ao comportamento do “mal amado” e da “mal amada” descritos nas novelas. Diariamente assistimos a decepção das crianças que gritam e que choram, dos homens que agridem seus semelhantes, e reclamam quando não se sentem considerados e obedecidos, e não vamos esquecer também das mágoas comentadas pelas mães quando não recompensadas em seus desejos e anseios. A agressividade é uma das atitudes resultantes das demandas e exigências não atendidas. São esses quadros de carência que isolam os indivíduos, gerando os revoltados. Quanto maior a carência, maior o isolamento, o autorreferenciamento, e consequentemente mais distânci

Problemas

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    A maioria das pessoas quando se sente constantemente insatisfeita ou com dificuldades imagina que está com algum problema. Geralmente a constatação e demarcação de problemas é feita por meio dos referenciais de desejos não realizados, da observação de realidades insatisfatórias, pois são percebidos no referencial dos próprios medos, ou seja, da não aceitação.   Perceber problemas nem sempre é pelos questionamentos aos mesmos. Essa percepção, via de regra, vem acompanhada de dificuldades, medos e inseguranças. Ter falhado em alguma situação, não conseguir o bom resultado no dia a dia cria ansiedade que leva a não dormir, a ter insônia, ou a viver cansado, sonolento, por exemplo. Tudo isso é vivenciado como sintoma indicativo de problema, de não estar se sentindo bem. E são a ansiedade, a insegurança, o medo, a insônia ou a sonolência que levam a supor a existência de problema. Percebe-se com problema quando as coisas não andam como se deseja que andem. É

Propósitos não unificados

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    A falta de objetividade gera indecisão. E por que não existe objetividade? Por haver divisão. Querer uma situação, tanto quanto querer a outra antagônica ou diversa só pode ser resolvido quando desejo e propósito são unificados. É unificação do aqui e agora, vivenciando o antes como o criador do depois, e subordinando o agora às resultantes do que o caracteriza e cria divisões. O que está aí, o que está aqui e agora comigo, está aqui e agora comigo, entretanto essa obviedade situacional é percebida como fragmentada. Critérios de vantagens e desvantagens, de dúvidas, destroem a evidência, fazendo com que o que está diante de mim não se transforme em resultado, em crença, em índice indicativo de outros processos. É a dúvida, o medo, a vivência de estar sendo perseguido que passa a se constituir em contextos a partir dos quais tudo é percebido. Não se sabe o que se faz, pois não se sabe o que vai acontecer. Esse medo/desejo é destruidor do que está acontecendo,

Nada pode falhar

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      Quando a vivência do presente, do encontro, dos problemas é realizada por meio de filtros, dos objetivos e desejos, tudo conflui para ser considerado bom ou ruim. O que vai somar, o que vai diminuir, algo que multiplica, e como se divide, são vivências, são perguntas e dúvidas frequentes. Não se deter no vivenciado, estar sempre verificando o que ameaça ou o que pode acrescentar, é uma vivência redutora de possibilidades. Não se relacionar com o que está acontecendo, esperar sempre o depois redentor ou aplacador transforma o dia a dia em uma espera de certezas. Ser julgado positivo ou negativo vai acontecer a depender do que se faça ou do que não se faça. A vida, as expectativas, a inquietação, a ansiedade, o medo, são subprodutos que emergem e consequentemente esvaziam os encontros, as vivências e as constatações.   A explicitação da revolta, do medo de perder, a torcida para ganhar e conquistar destrói o cotidiano. Nada acontece como acontece. Tudo tem que ser referenciad

Conquistas e arbitrariedades

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    Apoiado no que precisa ser conseguido, no que precisa ser realizado, o indivíduo passa a verificar os acertos ou erros de seus comportamentos. Essa busca de concordância é aniquiladora, tanto quanto vivificadora. Saber-se criticado e advertido de erros e fracassos é vivenciado como ajuda, como orientação. A sideração em torno dos objetivos é tão intensa que pouco significa constatar fracassos ou comprovar erros. Vive-se para conseguir. Para isso basta saber se pode apoiar o pé para o pulo, ou o braço para não cair. Saber com o que se conta, é o que importa. Sempre regulado por palmas ou vaias, a busca de constatar resultados, de verificar likes é constante. As ações se voltam para os melhores resultados e consecução de metas, desconsiderando erros e falhas, e cultivando falsas amizades que viabilizem as conquistas. Viver desse modo é despersonalizador, entretanto isso não importa pois o que se objetiva é ganhar e não perder, é atingir resultados, é ser consid

Obstinação

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    Obstinação é o propósito e determinação que faz tudo ser mantido. Essa atitude provém de objetivos, de metas. É a autodeterminação comprometida com resultados. Olhando para si, olhando em volta o indivíduo constata que não pode e não quer abrir mão de seus objetivos, pois os mesmos foram estabelecidos para suprir faltas, carências. Tudo pode seguir, mas sem desistir de conseguir resultados fundamentais para manutenção da sobrevivência. É a escolha oportunista, contingenciada por medos, desejos e busca de resultados. Manter os desejos e objetivos, não importa como, é o propósito. Ao longo da vida, com o passar do tempo, essa atitude é o que sustenta, mas é também o que impede a liberdade, a abertura, a descoberta, a espontaneidade. O indivíduo obstinado é o forte, tanto quanto o fraco que só sobrevive por estar agarrado à tábua de salvação: é a insistência que permite flutuar, não afundar. Apenas isso, e assim a vida passa nessa constante realização de desejos: “que tudo dê certo e

Deter

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    Quando eu percebo o outro enquanto ele próprio, isso me detém. É o encontro. Pode ser amizade, amor, pode também ser a descoberta do maldoso, do invejoso, do esperto, do ruim, do agressor.   Para perceber o outro enquanto ele próprio é necessário ser disponível, é necessário se aceitar, é assim que o outro nos detém para o bem ou para o mal. Perceber o ouro em função de molduras classificatórias é o mais frequente atualmente. Nos é explicado o que é bom, o que é mau. Esses critérios identificadores nada satisfazem, são véus que distorcem a percepção, mas infelizmente é assim que tudo é catalogado e vivenciado. Preconceitos e regras, conhecer por experiência e vivência distorcem a percepção do outro.   O outro é o que está comigo. Essa continuidade que estrutura amizade, que estrutura amor, certezas e duvidas é o que nos detém, e essa parada permite, por mais absurdo que pareça, movimento, dinâmica. É o encontro. Ele não é engendrado, é a resultante alqu

Transformar limites

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    Transformar é a possibilidade contínua de se relacionar com os outros e consigo mesmo sem ser o centro, o ponto de referência dos processos. Para que tal aconteça é necessário aceitação dos próprios limites, das contingências processuais. Estar no mundo é vivenciar o presente, é estar disponível sem ser detido por metas ou desejos. Viver em função do futuro, viver em função de realização de desejos é aniquilador das possibilidades humanas, pois transforma o indivíduo em caçador de resultados positivos, um buscador de vitórias. Geralmente os indivíduos não se aceitam, pois seus pais ou responsáveis não se aceitavam. É o eterno ciclo que se mantém. Vive-se para ser o que não se foi ou para continuar sendo o que se é. Esse propósito, a priori , estigmatiza. O medo de se expressar é uma característica que passa a existir, pois o indivíduo não quer destoar, não quer ferir expectativas. Essa omissão, que é o compromisso com o não falhar, geralmente se constitui em