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Diferenças entre abandono e perda de apoios

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  Ninguém vive isolado, estamos sempre convivendo e esse convívio subentende encontros, combinações, alianças, e até pactos ou acertos que se fundamentam em confiança e apoiam o dia a dia mesmo que não sejam explicitados ou discutidos. Aliás, na maioria das vezes, eles são tomados ou assumidos como certos, como garantidos.  Sentir-se abandonado é a vivência que resulta da quebra do que foi acertado. Não é simplesmente o compromisso que é quebrado, é a crença no outro que é destruída. Acreditar no outro, estar junto sem dúvidas nem medos, estrutura bem-estar, é o encontro. Então, sentir-se abandonado é vivenciar um terremoto, tudo treme, nada mais é estável ou garantido, tudo mudou subitamente. Essa surpresa, essa descoberta é aniquiladora, é como se o chão se abrisse, só existe abismo, não há onde caminhar. A vivência é de que tudo acabou, tudo mudou, nada resta. Essas vivências são frequentes nos relacionamentos afetivos e vêm sempre acompanhadas da descoberta, da evidênc...

Vitórias e fracassos

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  Ninguém vai negar que é melhor o que resulta em vitória do que o que resulta em fracasso. Entretanto, todo mundo sabe que às vezes a vitória ou o fracasso são modalidades de casos genéricos, contínuos. Muitas vezes a vitória é o fracasso e vice-versa. Tudo depende do contexto. Se viver é reduzido a metas, desejos e situações a realizar e conseguir, ele é o chão que nutrirá vitórias e fracassos. É viver para conseguir realizar. Nesse contexto, busca-se modelos, o pai alcoólatra, por exemplo, ensina, pois ele se constitui em um emblema que grita: “beber faz mal”. Mas, pode ser também indicador de soluções problemáticas: “o único que se pode fazer na vida é beber, a vida é amarga, o álcool adocica”.   Viver em função de resultados, ou da descoberta do sentido da vida e do que está acontecendo, é, em tese, se colocar como fracasso, como impossibilidade, é achar que deve melhorar, o que implica em se perceber como atrapalhado e cheio de limitações irreversíveis.   ...

Cair em si

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      Cair em si é descobrir possibilidades e impossibilidades, é perceber como não se conseguiu realizar desejos, ou ainda, que quando os mesmos são realizados, tudo é esvaziado. A vida não é um jogo de perde e ganha. Ela é um processo que, quando iniciado, dispara propósitos e configura caminhos. Esses caminhos, na maior parte das vezes já existem, resta agora trilhar e, ainda, poder mudar direções e sinalizações. Não é preciso criar novos mundos, tampouco caçar, matar um leão por dia, é preciso apenas caminhar, apreender direções, vencer obstáculos, e também criar obstáculos a tudo que despersonaliza, prejudica e destrói. Vida é decorrência, decorrência possibilitando novas decorrências, onde não existe causalidade nem sincronismo. Esse aparente, improvável, contraditório – a continuidade relacional – é o que nos situa, submerge, constrói e destrói.   Descobrir o imponderável – o instante – possibilita a descoberta e a continuidade, possibilita integraçã...

Viabilizar

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      Fazer parte, propiciar, estar junto é o que permite viabilizar. Essa atitude pode ter objetivos bons ou ruins. Pode-se viabilizar bondade, pode-se viabilizar maldade.   O fazer parte, o estar junto deve sempre ser questionado. Do que se faz parte? Qual o objetivo básico deste grupo? Mesmo em família essas questões são fundamentais. Fazer qualquer coisa para garantir o lugar de classe do opressor ou do oprimido, por exemplo, são atitudes discutíveis. Dividir grupos, almejar resultados são ações péssimas enquanto conveniência. Da mesma forma, manter privilégios, respaldando-os, mantém, ao mesmo tempo, inferioridade, pois elas são demarcadas ao estabelecer grupos. E por fim, apaziguar é estabelecer e facilitar manipulação.   Individualidades desaparecem nos aspectos que as representam: dinheiro, conhecimento, traços físicos. É assim que são criadas minorias e maiorias. Os discriminadores e os discriminados. O poder para discriminar está sempre n...

A reversibilidade do existir

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      É uma ilusão o indivíduo achar que tomou uma decisão imutável, que está determinado a, que tem determinação para, assim como é real e verdadeira a sua apreensão das contradições que criaram desequilíbrios e incertezas e levaram à tomada de posição, ou seja, ao estabelecimento da chamada determinação. Posicionar-se como determinado a, reduz variáveis e gera limites, que além de reduzirem dimensões da existência, podem também explicar e possibilitar novas decisões. A própria mobilidade ou liberdade para decidir, gera restrições.   Todo compromisso implica em renúncia, e contínuas renúncias comprometem definitivamente. A reversibilidade infinita do existir é a única permanência. A imobilidade da variação é paradoxal. Esse universo quântico, esse ser o que o outro lhe permite ser, é estruturante, mas também desagregador quando essas permissões restringem participação e questionamento. Regras ditatoriais, gangs organizadas para roubar e matar exemplificam es...

Centenário de Mãe Stella de Oxóssi - Liderança religiosa inesquecível

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Mãe Stella de Oxóssi e Vera Felicidade no Ilê Axé Opô Afonjá em 2004    Todos que vivem e morrem deixam marcas. Essas marcas são abrigadas pelas memórias de seus familiares e mantidas pelos seus grupos por pouco ou muito tempo. A continuidade das presenças pessoais, após suas mortes, varia em função dos contextos que as abrigavam. Os que são líderes de comunidades propiciam essa continuidade principalmente ao efetuar mudanças e questionamentos. O conjunto de mudanças é propulsor e dinamizador. Mãe Stella de Oxóssi é um desses expoentes. Ainda adolescente ela foi iniciada em uma comunidade religiosa, que em sua época era considerada uma seita e não uma religião, uma seita menosprezada e mal vista, precisando ser coberta por mantos sincréticos, socialmente e religiosamente aceitáveis. Era o manto da legalidade que corrompia e disfarçava o autêntico, as origens africanas e tribais.   Mãe Stella foi eleita mãe de santo em 1976, amadureceu ideias e entrou...