Postagens

Featured Post

Fugir de "zebras" e erros

Imagem
  Buscar resultados, correr para garantir o que virá para o "futuro bom e legal" é quase equivalente a fazer tudo para se amarrar em um poste, um porto seguro que sustenta e ampara. Olhar para frente, olhar para trás e para os lados, tudo tocar e perceber é um quadro preenchido de informações, mas é também o que anula, o que faz perder o presente e presenças. Captar dados e colher informações abastece para lutas, para decisões, mas nos faz viver para objetivos graças a situações armazenadas, anteriormente estabelecidas. Quando a vida é difícil, não é a luta, o chegar ao local ameno, ao oásis ou paraíso que traz mudança. A mudança está em perceber porque as contradições não foram resolvidas, porque as perguntas surgem. O que traz mudança é a categorização do desespero e das falhas. Entretanto esse movimento de restauração, de reconfiguração, de retorno é quase impossível. De olhos vendados, com caminhos bombardeados, não adianta se agarrar em qualquer coisa que se acredita ou

Agarrar-se em si mesmo

Imagem
  Agarrar-se em si mesmo, geralmente é a salvação buscada para enfrentar frustrações, é a segurança inquestionável, mas é também a conclusão gerada pelo autorreferenciamento devido a sonegação dos fatos, das evidências, e tudo isso causado pelo desespero da ilusão de negar o presente. Quando se transforma o si mesmo em outro, se inicia delírios, faz-de-conta e motivações para esconderijo de ambições e invejas. É desesperante se dividir em outro para se suportar. A famosa vivência expressa em: "ninguém me entende melhor, me ajuda mais que eu próprio" , mesmo que verdadeira foi gerada por mutilação, destruição, quando o indivíduo se transforma em outro para conseguir ser ele próprio. É um processo nefasto, despersonalizador. Abrir mão do que mais nos define, mais nos é caro, mais nos satisfaz, pois atrapalha nossos planos e ambições, despersonaliza. Toda vez que tal encruzilhada surge é fundamental reabrir caminhos, ultrapassar confluências para que as decisões não sejam delimi

Neutralização de possibilidades

Imagem
  O propósito de atingir uma meta, ou seja, o desejo, aliena. Estar voltado para o ponto almejado anula, secciona e transforma o depois em agora. Essa mágica, essa contravenção, destitui o indivíduo de seus nutrientes, principalmente o presente, que o delimita, o configura, o situa. O pulo para o futuro, para o depois, para o que se ambiciona ou precisa é sempre destruidor, pois transforma o ser humano em cuidador, curador de massas falidas, de pódios almejados. Abrir mão do que acontece no presente por ser desagradável e frustrante é começar a construção de prisões, "cercadinhos", que além de enjaularem, delimitarem realidades ao servirem de trampolim para realizar ambições, obrigam ao desgastante caminhar e correr nos abismos criados pelas insatisfações. Exemplos cotidianos são vistos na espera e busca de um braço forte, do apoio que tudo suporta, do amor ou encontro que iluminará a existência. A espera desespera, pois estar esvaziado do presente é uma vivência na qual nada

A guerra embrutece

Imagem
Duelo com Mocas, de Francisco Goya, Museu do Prado, Madri Recentemente assisti o filme "Nada de Novo no Front" e é nítido como a guerra embrutece e como o desespero leva o ser humano às últimas consequências. O filme mostra o resumo completo e final da destruição dos homens pelos homens, que se destroem apenas por estarem em lados, regiões, países diferentes. Não é só na guerra que existe embrutecimento. Ele é diário, cotidiano. O indivíduo despersonalizado, autorreferenciado, por exemplo, por sua não aceitação desenvolve metas de ser rico, ser famoso, ser amado, acreditando que assim será aceito. Em função desses "grandes propósitos" tudo é construído e destruído, pois o que atrapalha propósitos e projetos não deve existir. Nesse contexto, é muito comum o embrutecimento, e assim filhos são abandonados, pais octogenários são dispensados ou incinerados nas piras do "melhor cuidado". A ideia de que a vida deve continuar, o show não pode parar é embrutecedor

"Se eu fosse diferente do que sou, eu seria feliz e satisfeito"

Imagem
"Se eu fosse diferente do que sou, eu seria feliz e satisfeito" Essa frase resume as contradições dos processos psicológicos da não aceitação biológica, social e existencial. Deter-se na própria vida, em sua própria existência, em suas condições sociais, econômicas, biológicas, favorecidas ou não favorecidas e resumir que tudo seria bom se fosse diferente, é assumir que o diferente, o não existente configura satisfação, prazer e bem estar. Achar que todo mal-estar é causado pelo cabelo liso, pelo cabelo crespo, pelo nariz afilado como o de um santo barroco, por exemplo, é resumir possibilidades, necessidades, questões existenciais/relacionais a índices, a fatos configuradores de significados além da individualidade. Almejar o que não se tem, como forma de tudo resolver, de ser feliz, é colocar o desejo atendido como realização e satisfação, é a frustração superada. Isso exemplifica a solução de problemas pelo aplacamento e deslocamento de não aceitações estruturadas. Não se s

Maleabilidade

Imagem
  A maleabilidade nos faz pensar na tenacidade do que é flexível, no aço, na sua têmpera. Nos faz pensar também no caráter, na educação, vivências e encontros que se constituem na forja que tudo estrutura. Ser maleável resulta de ser consistente. Ter os pés no chão, nele apoiado e andar, ser situado e dinamizado, uma constante contradição facilmente resolvida pelo andar. Maleabilidade é o que equilibra, é o que a todo momento elastifica e impede ruptura. Esse permitir e fazer crescer é construção das transformações de necessidades em possibilidades ao ampliá-las e diversificá-las em função de seus contextos estruturantes. Ser maleável é estar no mundo sem ser engolido pelas circunstancializações, desde que circunstâncias são buracos onde perspectivas e motivações sucumbem pela dispersão de acertos. Acertar, concluir é realizar tanto quanto é estancar processos. A continuidade dos processos, da vida, exige constante questionamento dos mesmos, só possível por meio de maleabilidade, de nã

Para confiar é preciso disponibilidade

Imagem
A confiança é estruturada pela crença no outro. Para confiar em alguém é preciso estar disponível para o outro, totalmente presente, é necessário que se aceite ser como se é. Se não há aceitação de si, não há disponibilidade, consequentemente o outro é comumente visto como o que vai preencher faltas, realizar expectativas ou ameaças. Os sistemas sociais, a sociedade em geral, o clã e a família resumem a disponibilidade e a não disponibilidade como obediência ou desobediência, e assim impõem e condensam regras. Aumentam os obedientes e os desobedientes, inseguros, sem disponibilidade, cheios de carência, reclamações e medos. Quanto mais expectativa, quanto mais necessidades, menos confiança. Confiar é participar, é estar diante sem prévios, sem demandas, sem busca de resultados. Exatamente por estar comprometido e cheio de propósitos é que se torna difícil confiar, consequentemente acreditar, participar e perceber o que acontece enquanto acontecimento, independente do mapeamento de suas

Programações do espontâneo

Imagem
  Tudo que é fugaz é instantâneo, assim como tudo que é espontâneo também é instantâneo. Respirar, em certo sentido, nos resume enquanto seres vivos. Ser com o outro para o bem, para o mal, é outro instantâneo definidor. Respirar resume nossas imanências biológicas, assim como estar, viver, ser com o outro nas situações, enquanto passado, presente e futuro também nos resume. Preparar instantaneidade é destrutivo, desde que isso significa negar o próprio processo espontâneo. Fundamentais são os contextos que nos estruturam e constituem. Nesse sentido, o que não é fundamental pode ser programado quando se deseja criar realidades não existentes mas que aparentam representar autenticidade e legitimidade. O ser-no-mundo é o existente que propicia existir. Quando isso é submetido a condições outras independentes de suas próprias configurações, surge o controle, surge por exemplo o outro que vai ajudar e resolver vicissitudes. Tudo então passa a depender e a ser explicado por meio de outras v

Pactos

Imagem
Goethe, no Fausto, resume o desespero da falta de recursos e da ambição humana no pacto que se faz com o Diabo. Comprimidas e confrontadas entre o bem e o mal, as pessoas gananciosas e desesperadas fazem pacto com o demônio. Usar essa ajuda era sair do limbo, da mesmice, era o prazer, o poder total. Atualmente, os pactos estão ampliados. Não é preciso vender "a alma ao Diabo", é possível vendê-la a inúmeros compradores ou a inúmeros diabos, sejam eles o chefe, o policial, o patrão, o marido, a mulher, os companheiros de casa, de cama e de cruz. Tudo é garantia de diminuir infortúnios: o colega que denuncia outro para conseguir promoção, a esposa que suporta violências para garantir o futuro dos filhos, o amigo que nega acertos para obter lucros, o vereador e o governador que pagam pelo voto, o que ocupa o lugar na fila enquanto o outro descansa, são diversas formas de vender a alma ao Diabo, inclusive com menos problemas, pois a ideia de alma e diabo já foram diluídas. Alma,

Esperteza

Imagem
  A capacidade de esconder incapacidades é esperteza ou oportunismo, é usar o outro, é roubar ideias ou oportunidades como maneira de sobressair. Todo objetivo de vitória e conquista cria uma fileira de oportunistas. É o empregado que quer virar chefe, é também a garota que quer conquistar seu patrão, quer ser a melhor, a atriz mais considerada, a melhor empreendedora, a melhor do grupo. Essas pessoas lutam para conseguir realizar desejos, para melhorar currículo a fim de mais consideração e maiores recompensas econômicas. Não há confiança, não há disponibilidade, não há espontaneidade. Há luta constante, desconfiança, armações e mentiras para conseguir o que se quer. É o uso contínuo, diário, que tudo invade. Ser amigo dos poderosos, estar no caminho do que leva ao dinheiro, fama e poder, é o que se quer e é o que se faz. Habilidade para manter perfil e comportamento público torna-se um objetivo constante. A vida, a comunicação com os outros são mantidas nesses parâmetros. Vale o que