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Mostrando postagens de março, 2024

Lições

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  Atualmente é comum ouvirmos ensinamentos, orientações, regras sobre inúmeras situações, atitudes e comportamentos. Assistimos um enorme aumento de cursos/tutoriais, diretrizes sobre o que e como fazer. É quase como se tudo fosse um grande galpão de aprendizagem. Ir além do saber convencional, aprender com a vida, descobrir como tudo ensina é um dever, transformado também em necessidade. Acontece que toda essa ideia de sempre aprender está ligada à busca de resultados satisfatórios como sendo se dar bem, trazendo também implícita a ideia de luta, competição, medo e vidas desiguais em peso ou valor. Quanto maior o desejo de conseguir e o empenho para superar, maiores os impedimentos, maiores os comprometimentos, consequentemente o anseio de tudo aprender. Se empenhar em saber o máximo é uma ampla prisão na qual são alojados propósitos ou metas de realização. O passar e continuar da vida é visto como uma grande arena, onde lutas devem ocorrer e vitórias precisam ser c

Alegria, contentamento e depressão

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    As mais simples realizações humanas – que decorrem do fato de estar vivo, de estar no mundo – são quase inalcançáveis. Porque essa dificuldade de estar alegre, de estar contente? Metaforicamente: por andar olhando para trás ou pulando para a frente, assim o ser humano vive desequilibrado, desestabilizado.   Superar o que acontece, melhorar ou ultrapassar o acontecido, “curar-se do trauma, do fracasso e da decepção” é um pensamento que guia ou norteia a maioria. Olhar para trás, ou evitar o que advém é estar preso, é não ter disponibilidade para viver o que acontece. Tanto bons, quanto maus acontecimentos solicitam ação, presença total. Não se pode vivenciar nem o bem, nem o mal divididos. A fragmentação cria experiência caleidoscópica que altera a vivência e integração do que ocorre. É o que comumente se comenta quando se fala de buscar a plenitude do estar neste mundo. Só há plenitude, consequentemente alegria, contentamento, quando se vivencia o present

Construção e educação

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      Imaginar que o ser humano é vitorioso quando consegue construir o mundo que deseja, ou quando consegue realizar seus sonhos e anseios é uma visão pragmática que subestima o ser no mundo.   A ideia de artífice, de realizador de projetos está subordinada à crença do ter sido criado por Deus, responsável pela realização de projetos. Seguir o projeto idealizado, a construção e realização dos desejos, é sempre um espaço além do próprio homem, e também sugere uma vitória sobre os males do mundo. Essa ideia, aparentemente boa, soçobra em sua própria criação dualista, estigmatizadora e finalista. Para ser redimido dos pecados originais, para melhorar a sua fraqueza, o homem tem que, e deve, construir algo que se constituirá no passaporte para uma situação na qual ele não se basta a si mesmo, pois sua autonomia está ancorada nos resultados dos projetos.   Supor utilidades como definidoras do estar no mundo é massificador. O homem não precisa de redenção de s

Referenciais restritivos

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  Descobrir referenciais, contextos às vezes existentes como regras, pode significar encontro com limites. Os critérios que estruturam os limites indicam desejos, metas, que mesmo quando realizadas são mantidas como impedimentos. Nas expectativas - desejos e metas   - o que existe é sempre percebido como o que está comigo, ou como o que está contra mim. Quando é percebido como contrário é geralmente obstáculo, o que impede, e quando percebido como consigo é o que alavanca, o que possibilita. Não integrar o percebido dificulta a vivência do que ocorre. Esse absurdo, aleatório – a não integração do que ocorre – resulta da insurgência, da reviravolta temporal, o fato sob a forma de desejo e aspiração, expectativas e metas. Essa magia, a não integração do que ocorre, invade e encobre o que existe, ou ainda, dito de outra forma: se deter no que passou é também obscurecedor do que se vivencia. Nesse sentido, os maiores limites se constituem na arbitrariedade, no