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Mostrando postagens de novembro, 2023

O que faz o humano, humano?

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  O que faz o humano, humano? A vida, a possibilidade de mudança, o nascer, crescer e morrer. Essa definição iguala homem, animal e plantas. Isso significa ser vivo, e a partir desse ponto se começou a pensar em alma, consciência, espírito como diferenciadores do humano. Animais não têm alma? Para os representantes da Igreja, dos descobrimentos à escravidão, os negros e os índios não tinham alma, podendo por isso ser escravizados, não eram humanos.   Definir alguma coisa por um supostamente existente – alma, por exemplo – é logicamente precário. Como definir e diferenciar homens de animais? Tentou-se definir pelo pensamento. Afirmar que o homem é um animal racional implica em admitir irracionalidade para os animais. Mas, quando nos detemos nos processos perceptivos, no conhecimento que isso estrutura, vemos que os homens pensam e os animais também, pois ambos percebem e pensamento é prolongamento da percepção.   O que faz o homem humano é a possibilidade de questionar e de

Luta por poder e valorização

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Quando se coloca a variável de merecimento as coisas se bifurcam, se dividem e se complicam. Por exemplo, um lugar ao sol todos têm, todos merecem. Ocupar um lugar no espaço – estar debaixo do sol – é o que caracteriza a vida nesse nosso planeta. O uso figurado, valorativo dessa realidade - um lugar ao sol - aponta para situações de ambição e ganância, ou desamparo e justiça. Quem almeja o lugar ao sol pode estar na luta para ser entronizado, valorizado, tanto quanto pode ser a desesperada busca de poder apenas colocar os pés no chão.   Desde o desespero de conseguir cura para doença que impede o pôr os pés no chão, até a luta pela recuperação do chão solapado (terras roubadas, casas invadidas, países dominados...), o lugar ao sol é a legítima procura de exercer o que é devido e próprio. Crianças criadas para ser objeto de sevícia, para trabalhar, mendigar e trazer dinheiro para casa; mulheres vendidas a redes proxenetas; cães treinados para roubar, para competir e ser metralhados,

Nichos adaptativos

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  Os principais condicionantes e garantidores de adaptação/desadaptação - os nichos adaptadores/desadaptadores - são os representados pelo nível de consumo e aquisição. Essa recente redução da dimensão social humana às variáveis econômicas é desindividualizante, pois reduz os processos ditos subjetivos à mera expectação e contagem, à verificação do que ocorre.   Já se nasce com caminhos definidos: periferia ou centro, casebres ou mansões, contextos intercalados por inúmeras variáveis. Essa corda esticada – do lixo ao luxo, do pouco ao muito – é curta, é tensa e cada vez demarca mais os espaços, criando, a nível psicológico, resíduos paupérrimos: as motivações são reduzidas a ser rico, não ser pobre.   Tudo gira em torno do que pode ser conseguido, adquirido. Consumo de comida, de bens, de viagens e de conhecimento datado, tudo é significado como vara de condão, como a magia que leva aos contatos com vizinhanças valorizadas, com personagens de riqueza e po

“Reconheci a felicidade pelo barulho que ela fez ao partir” – Jacques Prévert

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  Não vivenciar o presente, estar sempre avaliando e amealhando gera frustração e arrependimento. É o resultado de não participar do que é vivenciado, do que ocorre, por estar constantemente verificando, calculando, constatando, medindo, ou seja, de não estar inteiro diante do que ocorre. Infelizmente, para muitos, a realidade, o mundo, o que ocorre é um extenso e complicado quebra-cabeças, com peças faltando ou escondidas.   Essa ideia de completar, de resolver enigmas ou problemas cria finalidades que ultrapassam o que está acontecendo ao gerar linhas de convergência. Lançar-se no futuro com a urgência de chegar a determinados pontos previamente estabelecidos e valorizados, buscando conclusão, comprovação, faz perder de vista o presente, a realidade. Esse processo cria desconfiança, percepção de ser enganado, de ter perdido oportunidades, de não ter visto o que acontecia. É dessa não percepção que fala o poeta Jacques Prévert quando diz: “ Reconheci a felic

Sobreviver ou existir

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Aceitar o limite ou ir além dele transformando e criando situações novas? Essa é uma pergunta, uma contradição que sempre vivenciamos em inúmeras situações.   Quando reduzido à manutenção de suas necessidades, o horizonte que resplandece para o homem é o da satisfação dessas necessidades e isso significa viver no limite da sobrevivência. Significa estar reduzido a comer, dormir, procriar e sedar a sede. Nada além disso, apesar das infinitas variações que esse processo oferece, desde a construção de moradias até as leis que suportam o convívio e o exercício do poder social e político.   Ir além das necessidades requer questionamentos estruturadores de transcendência. Um dos primeiros problemas na estruturação de transcendência é limpar resíduos gerados pela sobrevivência. Esses resíduos são inúmeros e se manifestam principalmente como medo, inveja, raiva, adaptação e divisões oportunistas geradas pela promessa do estar vivo e conseguir realizar desejos. Ao limpar, q