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Mostrando postagens de junho, 2018

Mistério e obviedade

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Outro dia li no Brihadaranyaka Upanishad 4.2.2 : “The Gods, it seems, love mistery and hates the obvious” (“Os Deuses, aparentemente, amam o mistério e detestam o óbvio”). Não se pode, não se deve amar o óbvio? O explícito é desprezível? O simples deve ser descartado? O raso, o superficial é bobo? Só é dignificado o trabalhoso? O misterioso? O que não se dá e não se oferece? Sempre surgem planos diferentes do que está aí. O aqui-agora fracionado é um ângulo para manter dualidades. O misterioso, o incrível, o indecifrável, o instigante caracterizam o suposto mundo dos deuses. Mistério é o que envolve essa realidade. Não há outro mundo salvo o que percebemos e vivenciamos aqui e agora. O que se apresenta na evidência do encontro é o outro. Perceber é conhecer, conhecer é aproximar, constatar, integrar - amar. Mistério é o suposto, o desconhecido ou imaginado como deslocamento do existente insatisfatório, incompleto e incongruente. Como amar o inexistente? Como amar o

Adivinhação

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Achilles , com a Praça Birzhevaya Ploshchad ao fundo. Credito: Anna Kondratyeva , veterinária do museu. Quando eventos, desejos ou projetos são estabelecidos em função de resultados a expectativa do que vai ocorrer, a expectativa do final cria ansiedade, medo, desejos e insegurança. Antecipar o resultado por meio de adivinhação diminui a ansiedade, reciclando-a, deslocando-a para outros níveis. As pequenas adivinhações como, por exemplo, estabelecer que se o primeiro carro que passar for vermelho significa que tudo vai dar certo, o sim ou não respondido pelo mal me quer/bem me quer, Tarot , Jogo de Runas, Jogo de Búzios etc. funcionam como aplacadores, que supostamente garantem o resultado e escoram a ansiedade, mas também geram dúvidas, reeditando a ansiedade de outros modos. Sistemas de adivinhação são encontrados em várias culturas e se lança mão desses dispositivos em inúmeras situações. Antecipar resultados é uma maneira de exercer controle, de ficar tranqui

Solidão e suas implicações

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Solidão é o tema preferido dos talk shows , programas de autoajuda, reuniões de amigos, reuniões de apoio à terceira idade etc. Ter que evitar a solidão ou se preparar para ela ou descobrir os encantos da mesma é o leitmotiv de inúmeras pessoas. Somos seres em relação, nunca estamos sozinhos, tanto quanto por sermos enquanto relacionamento, sempre estamos sós. A questão da solidão só se coloca na dimensão espacial e aí sempre somos sós: a matéria não ocupa o mesmo lugar no espaço. Vivencialmente - enquanto temporalidade - nunca estamos sós. O outro, os outros sempre estão conosco seja no presente, seja no passado pela memória, ou no futuro pela antecipação do que vai se realizar ou complementação do que se realiza. Estar só é estar sem malhas relacionais, é uma abstração que não subsiste. Não existe solidão, sempre estamos com o outro, com os outros participando, omitindo, amando, odiando. Estar entregue a si mesmo é quase um desprendimento, um artifício, como p

Omissões e conveniências

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Certas contradições, quando não enfrentadas, banalizam o paradoxal. Como não enfrentar o marido que espanca? O patrão que sonega direitos? O colega que humilha? A conveniência, o levar alguma vantagem funciona como impermeabilizadora do conflito, da contradição, transformando ângulos em retas. Nada acontece, tudo é igual. Essa não diferenciação, essa homogeneização de atitudes cria espaços infinitos que permitem deslocar os problemas. Não é o disfarce, o não perceber, é o não agir por conveniência, uma omissão que tenta adiar o inadiável, negar o evidente e explícito. Tais contorcionismos geram tensão, dores em todo o corpo além de pressões responsáveis por desejos, raiva, inveja etc. Omissão por conveniência estabelece condições para ampliação da não aceitação de si mesmo, aumentando também a necessidade de deslocamentos, desde o abrir mão de direitos para escamoteamento de atitudes, até o chorar e suplicar, como mendicante, por melhores dias, melhores condições, cuidado