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Mostrando postagens de setembro, 2016

Trocas e recriações

Bernard Shaw dizia: “Se você tem uma maçã e eu outra, e as trocarmos, continuamos tendo uma maçã cada um. Porém, se você tiver uma ideia e eu tiver outra, e as trocarmos, cada um de nós terá duas ideias.” A discussão, o diálogo transformam o sentido e ultrapassam qualquer contingência, ultrapassam quaisquer igualdades e desigualdades. Podemos pensar em trascendência de limites, podemos imaginar como os encontros recriam e estabelecem vivências responsáveis por criação e transformação. Neste contexto, não é importante ter, não é importante amealhar. O importante é ser capaz de ter, ser capaz até de amealhar. Acumular impede mudança, enfatiza a repetição. Repetir é manter, é segurar, impedindo transformações. Garantir o que se precisa, manter a própria parte, ter estoque para trocas, faz com que a imutabilidade permaneça. O questionamento é o elucidativo das questões, é o que muda trevas em luz. Sem questionamento não haveria mudança, a realidade das pessoas jamais seria açambar

Aniquilação da motivação

Quando tudo é igual, a repetição é uma constante. Na cadeia de manter hábitos, o indivíduo se situa, se sente seguro, mas se esvazia em termos de autonomia, vira robô. Artefato de si mesmo, garantindo tranquilidade através de só fazer o que é necessário, ele repete, imita. A vida, jogo de cartas marcadas, é um passar do tempo, tedioso. Consegue segurar, produzir e cuidar de descendentes, por exemplo, mas dá voltas sobre si mesmo, esperando sempre autorização para se definir. Sem motivação a vida é um tédio, pois tudo é repetido e mantido pela imanência orgânica, biológica. Neste universo fisiológico, a motivação é vivenciada como inquietação, que vai desde a fome excessiva até o sono dopante ou a vigília excruciante. Qual o sentido de estar vivo? É pergunta constante, sempre aplacada por supostas ajudas ou dedicação aos outros. Comparar, avaliar criam o universo da repetição, da segurança, mas também exilam qualquer possibilidade de novidade. Nada acontece que não esteja planejad

Fragmentação e organização

Organizações polarizadas para objetivos independentes das estruturas que as organizam, geram pontos de confluência alheios a seus estruturantes. Na continuidade da polarização, estes pontos criam tensão, espalham vetores e geram fragmentação. Se pensarmos nas divisões econômicas e sociais vemos como se pode aplicar o enunciado. As organizações, sejam de capital - sob a forma de recursos e produção - sejam das motivações individuais, sempre gerarão fragmentações quando estiverem polarizadas. A polarização pressupõe situações diferentes das organizadas, é sempre um extra contextual (um outro contexto). O querer o que não se tem polariza os objetivos de uma existência e gera ansiedade e depressão, por exemplo. Nas cidades, as populações desempregadas e as populações de baixa renda, se organizam polarizadas pela sobrevivência e surgem as favelas, os “puxadinhos”, enfim, cada fragmento é suportado e gerado por demandas alheias ao organizado. Não há mais panorama arquitetônico organizado

Olhar novo

Mudança de atitude é o que caracteriza a reestruturação perceptiva do que ocorre, de si mesmo e/ou do outro. Após questionamentos e vivências de impasses, o ser humano descobre que quanto mais ele se movimenta e se situa nas contingências de sua realidade, de limites e medos (omissão), mais ele se posiciona, perdendo dinâmica. Este posicionamento cria pontos de convergência que passam a ser os polarizantes comportamentais. Vive-se em função do porquê e do para quê. Não há continuidade, não há processo ou estes foram substituídos por expectativas, conveniências, apostas e empenhos. Perceber que o antes considerado pequeno mundo é o seu mundo e neste sentido é imenso para abrigar todas as possibilidades de interação e configuração, amplia universos. A dinâmica muda, interessa e seduz, desde que independe dos próprios limites, desejos e medos. Descobrir a familiaridade do que antes era vivenciado como estranho é tão motivador quanto ver a estranheza do familiar. Os próprios desejos, s

Falta e excesso

Falta e excesso dependem sempre de avaliações, desde que supõem um padrão a partir do qual as mesmas são configuradas. Para Lacan a vivência da falta é a definição do desejo, enquanto para Deleuze é o excesso que o caracteriza. Neste paradoxo estabelecido entre Lacan e Deleuze, o desejo como a mola, como o propulsor de comportamento é o ponto de concordância entre eles. Desejar o que nos falta é querer mais e mais, não por “carência, mas por excesso que ameaça transbordar” , pensa Deleuze. Para ele somos máquinas desejantes e não vamos nos satisfazer com o alvo desejado, com o supra real, com a transcendência como afirmam o cristianismo e Lacan. Para nós, desejo é deslocamento do impasse, é a maneira de negar o existente, seus limites e configurações, buscando outros horizontes onde instalados os pontos de fuga - desejos - as realizações aconteçam. A falta ou excesso são iguais se consideramos a realização insatisfeita. Nada há que satisfaça, sobram situações que precisam s