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Mostrando postagens de maio, 2018

Desatando nós

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Para resolver um problema, uma questão é necessário se dedicar ao que desafia, ao que cria complexidades, ao que problematiza. Enfrentar a problemática é o requerido, independente de se ter ou não condições de resolvê-la. Inicialmente se deter, encontrar o problema, a dificuldade é o que possibilitará acesso a sua resolução. Sem encontro não há constatação, não há diálogo. Constatar um problema, uma impossibilidade, causa sempre estranheza e remete à convicção de ter condição ou não de modificar o que problematiza. Esse momento de constatação, quando é ambíguo, quando vivido autorreferenciadamente, adia solução, transforma o problema em justificativa de avaliação, criando a famosa descoberta de que “não poderia fazer nada!” . Estar submisso, amassado pelas impossibilidades é, para muitos, solucionador e absolvedor. Avaliar, medir é uma maneira de fugir do confronto, da ação, da mudança. Não é o que pode ser feito que desata nós, é o que precisa ser feito que os desata, muda

Descontinuação

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Conviver com a continuidade dos processos geralmente cria dificuldade quando se está autorreferenciado. Focado em resultados, em pontos a conseguir - da boa forma ao poder e estabelecimento de patrimônio - perceber o contínuo é congestionante quando mudanças e modificações são insinuadas. A continuidade dos processos, o estar no mundo, às vezes, é vivenciado como avassalador. Antídoto a essa possibilidade de mudança e de interrupção pode se configurar na construção de abrigos ou diversificação do caminho que estabelece rotina, escolhendo as próprias rotinas. Saber o que fazer do próprio dia, do cotidiano é uma maneira de ter autonomia, de decidir. Acontece que a realidade e continuidade dos processos existem e ultrapassam as determinações individuais e quando são evitadas fica difícil tolerá-las, aceitá-las. A interrupção de um casamento, de um relacionamento, a mudança de um hábito por causas alheias à própria vontade, irrita, muitas vezes é causa de depressão, quando se tentav

Unilateralizações

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Sempre que se nega as consequências e implicações de atos e desejos são construídas responsabilidades, mentiras e disfarces (imagens e máscaras) como forma de lidar com o outro, consigo mesmo e com as próprias limitações, dificuldades e vícios. Tudo que se faz ou não se faz implica em alguma coisa, desde que somos enquanto relação com o outro, consigo mesmo e com o mundo. Eternizar e manter posicionamentos como absolutos é mais um faz de conta destruidor. Todo relacionamento gera posicionamento, gerador de novos relacionamentos indefinidamente. Mesmo nas necessidades biológicas ou orgânicas isso é visto: excesso ou falta tanto alimentam quanto adoecem. Dormir é descansar e é também sedar e alienar a depender da intensidade com que é exercido. Comer sustenta e destrói sob forma de inúmeros desequilíbrios metabólicos: dos açúcares às gorduras até a carência ou excesso de tais substâncias. O mesmo se dá com as satisfações e insatisfações sexuais. Tudo que problem

Anseio e desistência

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Ilustração de Svetlin Vassilev para a edição de Don Quijote, da Colección Cucaña, 2013 Atitudes de heroismo, luta e resistência são frequentes na não aceitação de limites, não aceitação do presente e não aceitação do que pode ser feito pelo outro. Não desistir dos sonhos e dos objetivos, lutar contra fantasmas e moinhos de vento como os supostos por Dom Quixote - herói assolado pelos desejos de paz, amor e harmonia - é o pretexto, a justificativa para manter a não aceitação dos obstáculos que impedem a realização dos desejos.    Dom Quixote é um louco libertário, ao passo que não aceitar a realidade imposta pela doença por exemplo, pela separação não desejada ou acidentes fatais, é se reinventar capaz de juntar os pedaços, o fragmentado de toda uma existência na tentativa de compor algo significativo. Essa aspiração, esse desejo negador do que se vivencia é esvaziante, desconecta o indivíduo de si mesmo, do outro e do mundo. As consequências desse processo oscilam entre per

Raiva - Hybris do não ser

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Exagerar é transbordar limites e medidas. É o copo de cólera, a gota d’água que inunda, o desespero, a maldade quando posicionada na frustração causadora de ódio e raiva. Querer “ dar uma lição ”, querer “ destruir o que atrapalha ” cega diante da intensidade do obstáculo vislumbrado como impedimento. Ficar raivoso é se apoderar, compactar todos os fragmentos estruturantes de sua alienação, de seu desejo ameaçado. Essa compactação do fragmentado é desesperadora. Não há como unificar o disperso, caso não se use um polarizante. Esse lançar mão de aglutinadores, catalisadores de ordens não intrínsecas e constituintes do vivenciado, é alienante. Sôfrego, ansioso, de boca aberta para ser alimentado, ser ajudado, o indivíduo se despersonaliza e assim é obrigado a se segurar no polo que o desestabiliza: sua incapacidade. Constatar a falta de condição e a dificuldade é combustível, é propulsor. Dinamizado pela impotência, pela falta de condição na realização de seu desejo, de su