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Mostrando postagens de março, 2023

Pactos

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Goethe, no Fausto, resume o desespero da falta de recursos e da ambição humana no pacto que se faz com o Diabo. Comprimidas e confrontadas entre o bem e o mal, as pessoas gananciosas e desesperadas fazem pacto com o demônio. Usar essa ajuda era sair do limbo, da mesmice, era o prazer, o poder total. Atualmente, os pactos estão ampliados. Não é preciso vender "a alma ao Diabo", é possível vendê-la a inúmeros compradores ou a inúmeros diabos, sejam eles o chefe, o policial, o patrão, o marido, a mulher, os companheiros de casa, de cama e de cruz. Tudo é garantia de diminuir infortúnios: o colega que denuncia outro para conseguir promoção, a esposa que suporta violências para garantir o futuro dos filhos, o amigo que nega acertos para obter lucros, o vereador e o governador que pagam pelo voto, o que ocupa o lugar na fila enquanto o outro descansa, são diversas formas de vender a alma ao Diabo, inclusive com menos problemas, pois a ideia de alma e diabo já foram diluídas. Alma,

Esperteza

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  A capacidade de esconder incapacidades é esperteza ou oportunismo, é usar o outro, é roubar ideias ou oportunidades como maneira de sobressair. Todo objetivo de vitória e conquista cria uma fileira de oportunistas. É o empregado que quer virar chefe, é também a garota que quer conquistar seu patrão, quer ser a melhor, a atriz mais considerada, a melhor empreendedora, a melhor do grupo. Essas pessoas lutam para conseguir realizar desejos, para melhorar currículo a fim de mais consideração e maiores recompensas econômicas. Não há confiança, não há disponibilidade, não há espontaneidade. Há luta constante, desconfiança, armações e mentiras para conseguir o que se quer. É o uso contínuo, diário, que tudo invade. Ser amigo dos poderosos, estar no caminho do que leva ao dinheiro, fama e poder, é o que se quer e é o que se faz. Habilidade para manter perfil e comportamento público torna-se um objetivo constante. A vida, a comunicação com os outros são mantidas nesses parâmetros. Vale o que

Circularidade

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  Nada aponta para nada, a monotonia, a repetição, a opressão são constantes. Falta saída, não existem perspectivas. A quem se reclama? A quem se pede ajuda? Quem salva? Quem perdoa? Fechados em si mesmos, os sistemas giram, apertam e dissolvem. Falta perspectiva, o amanhã é hoje, igual ao ontem. Tempo continuado pela opressão das engrenagens. É o poder do opressor, é o poder do oprimido. Tudo é massa que ocupa e cria obstruções que são as escadas para mais dissolução. Quebrar círculos viciosos, sair da submissão, da expectativa de solução, só é possível quando o indivíduo se detém. É a parede, a pedra no caminho, a pedra no sapato que tudo muda. Quando não mais aceita ser oprimido e submetido pelos desejos alheios, quando se recusa a participar do que aliena, quando diz não ao que alimenta e explora, se quebra círculos viciosos. Não havendo circularidade, não há manutenção de padrões, e o inédito surge. Esse novo é aglutinador, possibilita nova configuração, novos desenhos atenuadores

Finalidade

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Existir por existir é considerado um despropósito. O pensamento corrente, principalmente nas áreas psicopedagógicas, é o de que sem propósitos, sem objetivos, nada significa, nada se constrói. Acontece que não há finalidade no existir, pois existir só existe enquanto existência. Buscar finalidade é uma maneira de negar ou absolutizar continuidades, processos. A necessidade de ter controle e poder cria parâmetros destruidores de continuidade. Isso pontualiza, fragmenta, desestrutura contextos estruturadores de apego e de afetos. Fazer tudo convergir para situações julgadas ideais, boas e necessárias, por exemplo, é estabelecer objetivos que pretendem validar e justificar o existir. O fundamento dessa ação é o de que existir não basta. Esse não bastar por si mesmo aniquila espontaneidade e uniformiza vivências. É a vida para depois ou a vida a partir de. São referenciais que enjaulam possibilidades, que despersonalizam em função de necessidades satisfeitas, tarefas cumpridas. Por consegu

A igualdade do diferente, a diferença do igual

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A igualdade do diferente, a diferença do igual resulta de comparação. Comparar é identificar, tanto quanto é diferençar. É um processo dinâmico que aponta para várias direções. No âmbito humano, indivisível, comparar pessoas é arbitrário, desnecessário e abusivo. Entretanto é a catástrofe diária que assola a humanidade. Cidadãos de bem, cidadãos do mal. Etnias melhores, etnias piores. Quando se compara se destrói a humanidade, o homem comparado. Medidas são sempre redutoras e mecanicistas, embora permitam funcionalidades e sistematizações. Pessoas não são objetos, mas cada vez mais elas são assim consideradas e tratadas, inclusive por elas próprias. Quando um ser humano se sente desprezível e pensa que precisa ser rico para ser considerado, ele, nesse momento, se transforma em objeto, produto que vai ser "melhorado" para maior valor de troca, de venda. Negar os próprios limites, não aceitá-los é delirante. Essa ação fora de tempo, fora de lugar - distópica - é aniquiladora da