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Mostrando postagens de março, 2015

Envolvimentos desintegradores

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Alguns envolvimentos afetivos sedam e apenas aplacam necessidades. Aplacar necessidades, das sexuais às de sobrevivência, é transformar o outro e a si mesmo em objeto, ou ainda, é manter e preservar um posicionamento contingente. Perceber o outro como possibilidade de satisfação e realização é uma maneira de estancar dificuldades, pendências e carências. A percepção do outro, quando se esgota em si mesma, quando não atribui valores, vantagens ou desvantagens, cria um contexto de disponibilidade, de vivência não atributiva, que pode integrar individualidades díspares. É a magia do encontro, do amor, frequentemente acontecendo, mas raramente continuando. A disponibilidade, a descoberta de outro ser, pode existir, mas, quando as estruturas são fragmentadas, posicionadas, autorreferenciadas, a duração deste processo é curta. São os átimos de paixão, os arroubos de ilusão, o desespero do desejo, facilmente atropelados, superados pela realidade da não aceitação. Quando o indivíduo não

Desânimo e imobilidade

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Referenciais, regras, padrões, encontrados ou construídos, sinalizam direções e impedimentos, restringem e ampliam os espaços, os contextos relacionais e, assim, tudo que é percebido e pensado como possibilitador, como bom e congruente, harmoniza, organiza e tranquiliza; enquanto o que é considerado impeditivo, desafiador, incongruente, desorganiza e fragmenta, gerando ansiedade. O a priori da familiaridade, da congruência, tanto quanto da estranheza, da incongruência são estabelecedores destes sistemas de referência. Colocar referenciais, regras, como resultantes de a priori é negar qualquer imanência constitutiva das mesmas. Esta situação paradoxal e artificial é frequentemente vivenciada no autorreferenciamento, que reduz tudo que o circunda e referencia às próprias constatações, desejos, medos, acertos e dificuldades. Os sistemas de referência, neste caso, no autorreferenciamento, são organizadores ou desorganizadores. Deslocamentos são criados para fugir dos impasses, dos

Adiamento

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Tudo que resulta de uma meta - expectativa do futuro - gera ansiedade que só é detida, só é diminuída, pela constatação da impotência diante dos limites impeditivos da realização de desejos, da realização de necessidades. Aceitar a impotência é abranger os limites responsáveis pelos adiamentos, pela não realização. Esperar que aconteça o que se quer ou o que é necessário acontecer, é uma situação que cria ansiedade e impotência. Frequentemente a saída é também o fechamento, o impedimento, ou seja, se usa a impotência, o estar limitado, o não ter condição, como maneira de ampliar espaços para conviver com frustrações e adiamentos; quando isto é feito surge a divisão entre conveniências (manutenção) e inconveniências (desistência). Estas divisões que ampliam espaço são, na continuidade, fragmentadoras. A quebra dos limites por divisão - pulverização dos mesmos - reduz artificialmente as expectativas e consequentemente as frustrações, ao direcionar atitudes e motivações para constat

Faz de conta

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Estabelecer objetivos que se julga realizadores e satisfatórios e achar que alcançá-los significa segurança e tranquilidade é um faz de conta. Toda vez que se pretende realizar ou alcançar alguma coisa, se busca suprir um desejo, uma necessidade. Este esforço de realização, este empenho, transporta o cotidiano, o dia a dia, para depois. O futuro, através do desejo que se precisa que aconteça, invade o presente, e como tal, cria o vazio. O presente atropelado, esmagado pelas expectativas, é apenas o ponto de tensão. Voltados para o depois, não se vê o que está acontecendo, pois que tudo é percebido no contexto do que vai acontecer, do que se deseja que aconteça. O cotidiano, a vida é lançada para depois, os marcos variam desde o dia do casamento à formatura do filho e até ao ficar esperando ganhar na loto, por exemplo. Quando não se tem mais o que desejar, o que esperar, espera-se, teme-se perder coisas: o que foi conquistado, ter prejuízos e mesmo a morte. Adiando sempre para dep