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Mostrando postagens de agosto, 2011

Impasses e conflitos

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Para a psicoterapia gestaltista, neurose é um processo que se caracteriza pela não aceitação. Os relacionamentos familiares trazem padrões sociais significativos de acertos, erros, coisas boas e coisas ruins. Os resultados alcançados são compilados, e comparados; as pessoas são elogiadas ou criticadas, rejeitadas ou aceitas, mas sempre dentro de padrões. Neste processo se estrutura a experiência da não aceitação enquanto individualidade ao mesmo tempo em que se estrutura a aceitação ou não aceitação enquanto acertos ou erros determinados pelos padrões. Assim estruturados não há aceitação como individualidade, mas sim como indivíduos que acertam ou que erram. A pessoa não se sente aceita pelo que é mas sim pelo que pode ou não conseguir e consequentemente, não se aceita mas quer ser aceita. Para conseguir tal incoerência - não se aceitar e querer ser aceita - ela tem que camuflar o que não aceita em si, enganar, esconder, mentir, ousar e tentar. Neste jogo surgem sintomas, posicio

O silêncio da maioria

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Do ponto de vista psicológico, como entender o surgimento e manutenção de ditadores, torturadores, poderosos corruptos e genocidas, exploradores de toda ordem? Da mesma forma que entendemos o delator, o desesperado, o omisso, o submisso: pelo processo da não aceitação. Não aceitação não é algo quantificável, não existe não aceitação maior ou menor. Da dona de casa, mãe e esposa, do pai, trabalhador e marido, do adolescente ao jovem estudante até aos abusadores de poder (políticos, religiosos, patriarcas etc), a não aceitação é o denominador comum da inautenticidade, da desonestidade, da maldade. Não se aceitar e querer ser aceito é um movimento contraditório, paradoxal. É a desonestidade, o disfarce, a inautenticidade. No processo da não aceitação, por tudo que viveu, ouviu e fez, pelo esforço satisfeito e insatisfeito, o homem percebe que ele só vale se aparentar ser o que não é. Através do disfarce consegue enganar e, ao esconder o que ele considera precário, realiza sua so

A certeza como engano

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Certeza, crença, convicção, dúvida, além de constantes na vida psicológica são temas tradicionais das discussões teológicas e da reflexão filosófica, amplamente conceituados e sistematizados nas várias teorias, tanto na religião, quanto na filosofia e na ciência. Para nós, a certeza é um estado psicológico que se caracteriza por impermeabilização que impede a dúvida. A unilateralização das vivências e desejos se constitui para muitos, em um porto seguro, uma âncora que garante não ser arrastado pelos ciclones das mudanças e da impermanência. Ter certeza, jamais se questionar, jamais duvidar das próprias convicções ou da visão que tem de si é uma tentativa de evitar a ameaça da impermanência e a hesitação que a acompanha, é uma maneira de manter-se focado nas próprias metas. A instrumentalização das possibilidades, a instrumentalização da crença de ser honesto, bom e capaz como um a priori, por exemplo, impermeabiliza. Manter a priori, instrumentalizar habilidades ou c

Prazer, sedação e repetição

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Tudo que é humano só pode ser globalizado se considerarmos que o biológico é a estrutura suporte de toda vivência relacional, perceptiva, psicológica portanto. Não havendo esta globalização, surgem os elementarismos, os causalismos e pontualizações acerca do que é humano, através, por exemplo, dos conceitos de natureza humana, instintos, dados culturais como construtores de humanidade. O que seria prazeroso para o humano, o que propicia prazer às pessoas? Satisfazer suas necessidades ou ampliar suas possibilidades. Prazer, como satisfação de necessidades, é o alívio, a diminuição da tensão, apontando sempre para sedação. Prazer como ampliação de possibilidades, transcendência de limites das necessidades por exemplo, leva sempre a integração e a fusão. Os principais prazeres responsáveis pela sedação de necessidade se referem a sexo e drogas. Sexo como aplacamento e drogas (alcool, maconha, cocaina, crack, tranquilizantes etc) como aplacamento e desaparecimento de tudo

Inveja

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O deslocamento dos desejos não realizados, a não aceitação da não aceitação, estrutura a inveja. Invejar é desejar ser o outro a fim de ter, de vivenciar o que ele vivencia, ser o que ele é. Oprimido, compactado, enquistado pela não realização de desejos, explode. Chamamos esta explosão de inveja. Criou-se um novo ser. O ser humano enrodilhado pelo autorreferenciamento, enquistado pela vivência sobrevivente, precisa, apesar de seu isolamento, se relacionar, mas isto não é instantâneo, não é espontâneo, tem que ser construído consoante os referenciais de não aceitação; então ele explode, surge o duplo, um aliado construído para sobreviver. É o invejoso que espera, através da instrumentalização de tudo que está à sua volta, carrear recursos para viver bem, viver satisfatoriamente. Fazendo psicoterapia querem mais instrumentos, mais ferramentas para consertar o errado, as falhas da máquina sobrevivente. Para construir e cuidar deste novo posicionamento, muito esforço é necessário

Somatização ou descorporificação

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A percepção do corpo, no contexto do presente, é instantânea e responsável por sentirmos bem-estar/mal-estar. Percebo meus músculos, meus nervos, tendões, percebo o movimento muscular, percebo volume, densidade. Quando o contexto destas percepções, o meu corpo, é prolongado em outros referenciais que não os do meu corpo, surgem os significados, surgem as categorizações. Destaco o meu corpo e o observo, avalio, instrumentalizo. Esta descorporificação se constitui no que é conhecido como somatização. Quando meus músculos tremem, percebo-os tremendo; caso me posicione, destaque o tremor e com ele comece a me relacionar, aparecem os prolongamentos perceptivos tipo: meu corpo está tremendo, é falta de cálcio, é stress, ou meu medo está se exteriorizando, tenho de escondê-lo etc. Estes posicionamentos passam a significar. São índices contabilizados enquanto aceitação ou não aceitação. Quebrou-se a continuidade. É a descorporificação ou somatização. O processo de descorporificação estab