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Mostrando postagens de dezembro, 2023

Torcendo que aconteça

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  Apostar no futuro é gerar expectativa. Esperar é temer quando se imagina que nada do necessário e prometido vai acontecer, tanto quanto esperar é comemorar o que já está para acontecer, o que se deseja que ocorra. Valorar como positivo ou negativo o que vai acontecer cria ansiedade à medida que antecipa acontecimentos. As antecipações funcionam como apostas. É o indivíduo com ele mesmo decidindo. Esse autorreferenciamento implica sempre em divisão. O indivíduo se transformou em outro que é o juiz, a vítima, o que vai decidir o processo. São criados os atores, outros eus resultantes da divisão suportada por contextos e atmosferas de ansiedade.   As vivências voltadas para resultados sempre são apoiadas em ansiedade e é por essa condição desvinculada da realidade que elas angustiam e atritam, é a poeira que cega. Não há discernimento, não se sabe o que está acontecendo, nem mesmo como acontece.   Aspectos culturais incorporam vivências. Existem ciclos e datas

A armadilha da superação

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    O desejo de ultrapassar ou neutralizar obstáculos é uma das mais legítimas condições de superação, entretanto essa legitimidade se ancora em desejo. Ancorar no flutuante - no desejo - é em si um entrave a qualquer possibilidade de mudança, apesar de ser um forte alarde, um grito contra o fato de estar submisso, aprisionado a obstáculos imobilizadores.   Superar vicissitudes físicas, orgânicas, que invalidam o comportamento e o desempenho físico, depende de constante aceitação de limites e paciência diante da demorada melhora e remoção desses mesmos limites por meio de exercícios e remédios. Esse é um embate diário com o que é limitante, e é o que traz transformação ou mudança.   Nem sempre a questão da superação é decorrente de impactos e dificuldades ligadas a contingências e circunstâncias limitadoras. Frequentemente ouvimos e sabemos dos desejos e motivações de superação em relação aos impedimentos, dificuldades oriundas da não aceitação. Por exemplo: o

Temor

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Avaliar situações e ver escorregar as possibilidades de sucesso e realização cria ansiedade quando não se tem autonomia, quando sempre se está almejando paz e tranquilidade. Não suportar estar só, entregue a si mesmo, por exemplo, é a constatação do vazio, do medo, da incapacidade. Precisar de disfarce funciona como impermeabilização que protege da dor. Disfarçar o fato de se sentir só e desesperado é caminho para o medo, para o temor criador de omissão.   Estar em suspenso, não tocar os pés no chão, fugir da realidade, na maioria das vezes é uma situação alcançada por meio de drogas. É o vício do remédio que anestesia, do excitante que traz esperança, do estupefaciente, do que como tapete mágico transporta para outro faz de conta. O importante é não ver o que acontece, não sentir o que se teme. Viver nas nuvens - nefelibata - é a busca falível da terra do nunca, do que não existe, que existe para configurar tempo e espera, pessoas e monstros inventados. Nesse ma

Convencer não é questionar

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  Certo dia li uma frase de José Saramago: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito é uma tentativa de colonização do outro” . Pensei: convencer é arbitrário, mas questionar é o que faz mudar, é fundamental. Proselitismo não é mudança.   Podemos pensar em paralelas ou em ângulos. Os pontos de encontro, os pontos de atrito geram mudanças. Perceber o que acontece ao outro, o que acontece no mundo como paisagem, como filme, como obra de arte ou notícia de jornal é se colocar em andaimes ou prisões guardadas. A impossibilidade de acesso impermeabiliza. Estar presente, diante do outro, participar do que ocorre obriga a reações, a diálogos, obriga a questionamentos.   Regras sociais, convenções religiosas - é a vontade de Deus , por exemplo - são explicações do que se vê, do que se ouve, do que se sente, que insensibilizam. Gritos, uivos e ais exibem, no mínimo, sustos, e são mudanças de postura. Essa impermeabilização