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Mostrando postagens de 2015

Capacidades transformadas em limites aniquilam o indivíduo

Seres humanos dispõem de inúmeras capacidades de transformar tudo que está ao seu redor, inclusive de transformar o outro e a si mesmo. Esta constante capacidade de diálogo e transformação, se exerce em função de seus referenciais constituintes. Quanto mais limitado e voltado para sobrevivência, para realização de necessidades, ou quanto mais centrado no que estabelece como prazer, mais autorreferenciado, empenhado na realização de suas necessidades de sobreviver. Nascido e desenvolvendo-se em atmosferas - sociedade e família - onde o valorizado e significativo é o que se consegue, é o que se amealha, o desenvolvimento humano, individual, vai personalizando estas atitudes, mesmo que discordando do que lhe é mostrado. Um típico exemplo desta configuração é a atitude desleixada do filho em relação aos valores conservadores dos pais, mas, que se mantém totalmente dedicado à manutenção dos propósitos e ideais do grupo vanguardeiro a que pertence, chegando a lutar, discriminar tudo qu

Aplausos

Os aplausos animam, incentivam, tanto quanto comprometem ao criar expectativas de mantê-los. As expectativas estabelecem medo de falhar, possibilitando assim, tensão diante de possíveis frustrações. Ser aplaudido é ser reconhecido, no mínimo como alguém a quem se deve admiração, reconhecimento. Situações de ser aplaudido sempre expõem o indivíduo. A vivência desta exposição varia de pessoa para pessoa. Uns, tudo fazem para conseguir este resultado, o aplauso, e tanto empenho para conseguí-lo compromete, não se discerne mais o espontâneo do programado. Para outros, ser aplaudido é uma circunstância significativa enquanto processo e participação, mas que pouco vale enquanto compromisso. Vivenciar o aplauso como complemento natural de processos é um congraçamento. Esperar e lutar pelo aplauso, enquanto objetivo de se manter no topo das paradas, é a vida empenhada em função de compromissos e sucessos lucrativos. O aplauso é um apoio, ou um desafio, uma continuidade do expressar-s

Interrupção e violência

A meta não realizada, o empenho não concretizado cria uma interrupção que leva a fazer qualquer coisa para completá-lo. Defrontar-se com o incompleto geralmente cria motivação para a realização de tarefas interrompidas. Tudo que permanece não realizado, ou parcialmente realizado, se estabelece como incompleto. O que falta à sua realização decorre de interrupção. Situações interrompidas podem ser percebidas como tal quando existem propósitos. Tudo que é determinado para ser feito, ao não ser completado, cria interrupção. O propósito, desejo ou meta de realização cria uma idéia-fixa, um fanatismo responsável por violências e utilização de quaisquer meios para realizar o que se considera interrompido. Muitas situações interrompidas jamais são percebidas como tal, pois não criam referenciais de processos, e sim percepções de mera junção ou aglutinação ocasional. A continuidade de afetos e ligações amorosas, por exemplo, pode ser considerada nesses referenciais de interrupções

Um lugar ao sol

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Um lugar ao sol é o que geralmente se deseja, embora sempre se tenha esse lugar. Querer o destaque, o brilho, ser considerado é o que se almeja quando não há satisfação com os limites vivenciados. Somos criados, educados para “ser alguém”, para fazer diferença e significar, ultrapassando as dificuldades ou facilidades existentes. Famílias social e economicamente bem situadas desejam e se esforçam para que seus descendentes mantenham os padrões conseguidos. Famílias social e economicamente com fracos acessos e com decisões cooptadas lutam para que seus filhos sejam diferentes, para que consigam sobressair e atingir melhor situação. Esses desejos estabelecem metas, referenciais de futuro, que passam a ser os contextos estruturantes das motivações e dos desejos, das decisões e empreendimentos. Surgem os lutadores, os esforçados, os que tudo fazem para manter o patrimônio herdado, ou buscado, mesmo sacrificando as próprias vontades. Querer ser alguém é, implicitamente, admitir não se

Nostalgia

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Nada é perene, salvo o efêmero. Este aparente oximoro, este paradoxo neutralizado pela continuidade que quebra posicionamentos, é, frequentemente, vivenciado como totalidade nas situações de perda, luto, morte, doença. Os processos são caracterizados pela anomia. Quando se estabelece a generalização, os processos se perdem. Personalizar é, em certo sentido, segmentar. Ao criar posições, registramos fatos, funções, significados. As notas aciduladas, os sons ensurdecedores quebram a continuidade da harmonia, tanto quanto as definem. Os rastros vivenciais, significados pelas percepções e memórias, são, mais tarde, transferidos para o outro sob forma de registros: fatos, escritos, músicas, coisas criadas, fabricadas. Estes teares de realização ajudam a construir paisagens, referências. Percebé-los cria lembranças, tristezas, nostalgias, pois, pela insinuação mostram a evidência do outro: autores, participantes. Lembrar-se de si mesmo, assistir às mudanças e passagens signific

Rejeitados

Ser sempre desconsiderado, percebido apenas como ocupante de um espaço faz com que o indivíduo aceite não existir significadamente, admita existir apenas em função de demandas, de respostas ao solicitado, ou faz com que construa motivações para ser alguém, para chamar a atenção, para ser considerado, nem que seja por indisciplina e maldade. Ser isolado do mundo, do relacionamento familiar, ou ser julgado inútil, desagradável e prejudicial cria os submissos, tanto quanto os revoltados. É frequente nas famílias de renda abaixo da média e cheias de planos de ascensão social (metas) considerarem os filhos “uma boca à mais, um fardo” e, como tal, desconsiderados enquanto individualidade. Submetidos à diária alegação de como eles precisam retribuir o que foi e é gasto, são cada vez mais exilados do afeto, despersonalizados e programados para mais tarde retribuir tudo que receberam. Agradecer toda a ajuda, o pão cotidiano e correr atrás da meta, da realização é uma constante esvazi

Deslocamentos e pânicos

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A ansiedade se caracteriza pela atividade repetida irrefreável, que vai desde o pensar, repensar, pensar de novo até agir, andar de um lado para o outro, fazer, refazer, antecipar ações, sem saber o que ocorre. Impedindo concentração e contituidade, a ansiedade desestrutura o indivíduo. É exatamente por causa desta desestruturação que ela é bem-vinda, por mais estranha que esta afirmação pareça. Estar ansioso é não perceber as não aceitações, os medos, as culpas e conflitos. Na dinâmica psicológica tudo é globalizado enquanto interação, mas ela não é percebida quando surgem os curto-circuitos, tal como acontece na ansiedade. Deter-se na ansiedade, estar nela posicionado, cria outros deslocamentos, o pânico, por exemplo. Não saber como agir, estar submetido ao turbilhão de dúvidas e demandas, posiciona o indivíduo e neste momento, o pânico aparece. O pânico, como deslocamento da ansiedade, é um ponto de segurança, permite que, se detendo nos sintomas desconfortáveis, incômodos

Especificidade estruturante - personalidade

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Cada ser humano realiza um resumo de todas as variáveis que o estruturam: relação com a família, com a sociedade, a educação, suas vivências, seus comportamentos, medos e desejos, tudo isto é resumido de uma forma específica em cada um. É quase um imperativo, uma necessidade, sempre contingente. O processamento de relações é realizado pelo autorreferenciamento ou pela disponibilidade, ensejando sempre novas configurações e, assim, contextos e atitudes são estruturadas. Uns se caracterizam pelo orgulho, outros aceitam o que lhes é propiciado, outros ainda pagam para ver, desconfiam. Tudo isto constitue o que se poderia chamar de o ponto básico de cada um. Não é uma tendência, tampouco um instinto, é o resultado final de processos que estruturam contextos de valores, de significados que permitem mapas organizadores e sinalizadores. Isto é o que faz com que se saiba com quem se lida, o que atinge ou é indiferente ao outro. Tendo sido educado e aceito para sobreviver, não importa

Apropriação

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Não se aceitando, buscando ser aceito, buscando impressionar, mas sem recursos próprios, o indivíduo apropría-se de vivências, de conhecimentos e histórias alheias para compor uma imagem que signifique dentro de padrões valorizados. Está sempre repetindo opiniões e ações de outros como se fossem suas, falta-lhe autenticidade. Seus esforços direcionam-se a observar para apropriar-se, tudo se transforma em informações a serem acumuladas e utilizadas. Viver amealhando vivências de outros é realizar colagens descontextualizadas, misturas sem consistência, imagens despersonalizadas. Tudo é realizado em função de agradar, de marcar presença, mas, para isto, é preciso esconder e despistar a própria incapacidade, não ser percebido como quem imita e copia, é preciso manter as imagens que garantam o disfarce, que evitem ser descoberto. O processo de apropriação transforma os outros e a si mesmo em objeto, necessariamente levando a enganos, mentiras e violência. A coisificação do humano

Sem alternativas

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Limites extremos são aqueles nos quais em situação de total impotência, sem alternativas, o indivíduo tem que escolher a destruição de sua própria vida. Nem sempre as dificuldades se colocam como alternativas entre “a bolsa ou a vida” . Às vezes, ou se joga no abismo, ou desmaia, ou cai nas garras do perseguidor. Tentar mudar o panorama que aflige, que promete destruir é possível quando se imagina transformar o agressor, o redutor de alternativas, em uma possibilidade de diálogo. Esta atitude mágica, pois considera situações não existentes - o diálogo por exemplo - geralmente não funciona, salvo se significar confundir, jogar areia nos olhos do que está diante. Apostar no impossível pode remover obstáculos ao gerar uma atitude diferente de passividade, de medo. Fazer surgir interlocução é tentar obrigar o outro a ser diferente do que ele se propõe, criando interatividade. Isto gera mais raiva, mais agressão ou elastece os limites, permitindo reconfigurações. Em certo sentido, es

Escolha

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Volta e meia aparecem no Facebook, comentários de leitores, nos quais a questão da escolha está embaralhada (conceitos e implicações). Achei oportuno postar este capítulo de meu livro “Relacionamento, trajetória do humano” , de 1988, pags. 49-51, no qual a conceituação de escolha, no contexto da Psicoterapia Gestaltista, está estabelecida. Escolha Escolher, geralmente, é considerado sinônimo de preferir, tanto quanto foi celebrado como resultante de liberdade, de não compromisso, por Satre que, em certo sentido, continua a ideia kierkegaardiana de ausência de critérios na escolha. A escolha como preferência já resulta de um compromisso com motivações, situações, posições prévias ou antecipadas, chegando, assim, a identificar-se com gosto, com preferência * e, daí, o gostar tornar-se sinônimo de convivência contínua com o escolhido, bem ao sabor de certas ideias vigentes de que familiaridade, convívio, adaptação, hábito, costume, condicionamento fabricam o gostar.

Desvios e caminhos - Dons e talentos

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Considerar que ao escolher um caminho, uma profissão, se deixa, se abre mão de outras tantas, atordoa. Esta disponibilidade infinita causa sensação de fracasso, de despropósito. Solto, sem amarras, tudo soçobra. Não é por acaso que surgem as predeterminações, os talentos, dons e finalidades familiares e/ou sociais que tudo definem e materializam. Escolher uma profissão, uma forma de viver, um parceiro/acompanhante para a vida, é o predisposto. As dispersões exigem esta viabilidade. Qualquer atitude que fuja do padrão determinado é considerada excêntrica, desviante e ameaça tanto quanto motiva. Quebrar paradigmas abre novos panoramas, tanto quanto dizima tediosas atmosferas. Desvios se transformam em caminhos, pois sempre levam a novas configurações ao exercer sua função de passagem. Exatamente nesta mediação (passagem) surgem antíteses reveladoras e possibilitadoras de insight . Esta mudança é que valida o estar no mundo. Geralmente se chega a este momento de antítese com a esco

Congruência

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Bitolado pelo que considera adequado e inadequado o indivíduo se desespera, procura adaptação, evita fugir dos padrões que massacram, que são vivenciados como inadequados, busca garantias, segurança, agarra-se às metas e propósitos saneadores de seu mal-estar. Para ele é sempre o outro quem determina se há acerto ou erro, ou substitui o outro e seu julgamento pelos resultados de sucesso ou insucesso. As vivências de sobrevivência sempre são configuradas por garantias e respaldos econômicos familiares e institucionais. Situações extremas ameaçam e tornam nebulosas essas configurações, exigem que a segurança e os cuidados sejam reforçados. Todas as motivações e preocupações se voltam para salvar a si mesmo e evitar impasses. Nesse contexto permeado de crises as dificuldades, os conflitos e medos são transformados em incentivo para sobreviver. Quanto maior o medo, a não aceitação, a alienação e despersonalização, mais tudo conflui para espreitar, cuidar e garantir o inefável. E assi

Dispersão

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Perder perspectivas, posicionar-se nas frustrações impede participar com o que ocorre enquanto situação que está ocorrendo. Tudo é percebido através de filtros de avaliação, vitimização e queixas. As tensões aumentam, a não aceitação da não aceitação do que problematiza é cada vez mais enfática e demanda escoamento para que haja um mínimo de dinamização, ou mesmo de locomoção. Deslocamentos aparecem, não se sabe o que se faz. As circunstâncias decidem, e assim, o desespero é o contínuo esfacelamento de possibilidades e questionamentos. Vive-se para suprir necessidades, esquecer dores e exibir, propagandear soluções, tentando através de companhias, de ajudas, conseguir bem-estar. Sempre que decisões são adiadas por envolverem dificuldades, medos e riscos, os dilemas e contradições se transformam em “caixas-pretas” assoberbadas. O vôo cego é constante, as direções, as motivações são dispersas, contingentes. Neste mundo circunstancializado não há sintonia, pois não existem frequênci

Impressionabilidade

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Organizar os próprios desejos, medir a dificuldade em função de esquemas solucionadores, desorienta quando os mesmos são ameaçadores. Quando não existe aceitação, quando existe desconsideração e rejeição, as pessoas acreditam que através de poder e status serão aceitas e consideradas. É notória a idéia de riqueza, beleza e poder como solução de todos os males, e a tal ponto que a busca pelo dinheiro neutraliza o medo de ser descoberto em roubos na esfera privada ou pública. É também exemplar a busca da representatividade competitiva e vencedora, através de soluções estéticas padronizadas e embelezadores artificiais, conseguidos pelo esforço diário de malhar ou tomar pílulas, por exemplo, ou submeter-se a próteses. Quando qualquer ameaça impede este “correr atrás” do que pensa ser solução, encontramos impressões acentuadas de falha, fracasso e medo. Nestes momentos, a pessoa se sente desconectada, separada do que a apoia e do que pode construir seu sucesso. Sente-se à mercê das

Construção - desconstrução

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Imersos em significados pré-estabelecidos, perdemos de vista a constante do processo significativo: tudo é construído. Bem ou mal, sabe-se disto quando se supõe um criador para todo o existente. Tautológico, circular, entretanto se vive tentando configurar o natural, o verdadeiro, o original. Nas ciências, que tudo explicam e transformam, os axiomas, os conceitos são sempre construções, são resultados gerais de evidências arrumadas, para que possibilitem significado. Nas sociedades e famílias, tudo se constrói, desde as regras históricas dos parentescos, até os limites de deveres e direitos socialmente estabelecidos. Construir pontes, casas é uma forma de ordenar a natureza. Habitá-las supõe sempre condições outras que possibilitem isto, dinheiro por exemplo, um pedaço de papel, significado de riqueza por excelência, inefável, caso não haja escalas comparativas. O espaço, o tempo, situantes básicos de nossos contextos relacionais, também são construidos. Representação, reprod

Acomodação e adiamento

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Iniciativa é atitude que depende fundamentalmente de estar concentrado no que se propõe resolver. A vivência polarizada no que se deseja, no que se precisa, gera decisões que possibilitam desfazer impedimentos. Quando se está acomodado, acreditando que tudo vai se resolver pois já foram encaminhadas soluções, se estabelece contexto de adiamento, consequentemente, contextos de manutenção dos problemas a resolver ou, no mínimo, seu retardo. Iniciativa depende de globalizar as contradições que impedem dinâmica. Quando esta globalização ocorre, cria-se disponibilidade, fica-se voltado para o que é novo, para o que é descoberto, para o que acena para reestruturações solucionadoras. Estruturalmente, as atitudes de iniciativa podem ser posicionadas enquanto atitudes típicas que definem comportamentos. Quando isto ocorre, a improvisação se transforma em referencial solucionador, instalando assim, hábitos arraigados de como resolver situações. Neste momento já não há globalização

Aglutinação

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A superposição de situações, de contextos, cria adensamentos geralmente explicitadores e tradutores do que se realiza. Esta é uma configuração que permite nitidez, globalização, pois se começa a perceber as inúmeras variáveis intervenientes, dependentes ou independentes do que ocorre.  Entretanto, pela reversibilidade dos processos e suas implicações, os adensamentos gerados pela confluência de variáveis, transformam-se em um obstáculo à percepção do que se desenrola. Frequentemente, em caso de dúvida e ambiguidade, quanto mais se sabe o motivo, menos nítida fica a percepção. Por exemplo: a decepção, quase certeza de estar sendo enganado, traído, jamais se confirma, pois o que comprova os fatos - as dúvidas - gera ambiguidade. Querendo saber, querendo resolver se distancia cada vez mais, criando expectativas, metas de esclarecimento e solução. Exatamente aí se perde a nitidez, tudo conflui, aglutina e se transforma em caroço, que polariza e reacende incertezas. Apenas na radi

Decepção

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Sempre que as expectativas não são atendidas vivencia-se decepção e frustração. Estes momentos devem ser enfocados à luz de questionamentos, desde que a vivência de decepção sempre supõe avaliação, normas e regras. Não se decepcionar, não se frustrar, é perceber e globalizar contradições que existem quando se está vivenciando o presente. Quando as vivências presentes são invadidas por passado (pela memória: regras, padrões) ou por futuro (pelas expectativas: esperanças e medos) sempre há possibilidade de decepção ou ratificação de compromissos e expectativas. Decepcionar-se é um indicativo de autorreferenciamento, de exílios relacionais frequentemente não percebidos. Acreditar no outro pode ser resultado de compromisso, regra, obrigação, tanto quanto pode espelhar a apreensão de possibilidades e características do mesmo. Ao enfatizar o que se espera, o que considera certo, o padrão, se escoa a individualidade do outro nos filtros dos próprios desejos e medos, assim como a

Transformação

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Transformação ocorre quando se apreende, se globaliza as contradições do existente, do dado vivenciado. É sempre através de insight - apreensão súbita de relações configuradoras - que se consegue transformar o percebido e, consequentemente, mudar o comportamento. Perceber que situações solucionadoras, confortáveis, situações que tudo explicam e satisfazem são também geradoras de dúvidas, medos e distanciamento do que polariza e define o convívio, esta percepção cria uma nova ordem e determina outras percepções. É uma mudança perceptiva responsável pela criação de novos significados: estabelece outros valores, diferentes dos anteriores. Perder a confiança ao verificar o desvio de indicações, por exemplo, temer o próprio pai ao perceber que o mesmo realiza anseios e desejos diferentes nos abraços frequentes, transforma ações, sentimentos e vivências. Novas percepções, pensamentos, ideias e motivações se instalam. O que acontece determina mudanças. Quando se descarta, escond

Pragmatismo alienador

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Quanto maior o convívio com o outro e com situações diversas, mais são antecipados e previsíveis os comportamentos. A familiaridade, o contato diário e contínuo, permite cada vez mais perceber o que está diante, antecipar comportamentos ao estabelecer Closura * . A continuidade de relacionamentos e situações também pode levar a posicionar-se na previsibilidade, impedindo a percepção do outro, do que está diante, pois a saturação, o adensamento perceptivo, pela frequência contínua, homogeneíza, impede a diferenciação, o destaque, a extinção da conduta exploratória - da motivação. A previsibilidade é uma forma de extinguir dinâmica, tanto quanto de possibilitar adaptação, adequação: não se inventa a roda, se utiliza a roda, por exemplo. Confiança, estabilidade e também segurança decorrem deste convívio familiarizado, permanente, tanto quanto também decorre deste convívio, a criação de suas ferramentas estabilizadoras: automação, repetição, mesmice garantida. Os relacionamen

Insuficiências

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Sentindo-se incapaz, inferiorizado e subdimensionado para o que pretende e precisa, o ser humano acentua sua impotência e reestrutura suas necessidades e possibilidades a fim de enfrentar e superar situações questionantes e obstáculos, ou, apropria-se de soluções, recursos e métodos por outros estabelecidos. No segundo caso, o prét-à-porter de solução é aniquilador de autonomia, honestidade e autenticidade, tanto quanto entroniza e cria impostores que de tanto usar o estabelecido, o significante solucionador, se transformam em donos do saber e muitas vezes em salvadores da pátria. Por mais que se tente disfarçar, insuficiências e imitações se evidenciam na esfera privada e pública. A estratégia utilizada para esconder insuficiências é responsável pela criação de tiranos, logo transformados em heróis e heroínas da ordem constituída, pois vivem para esconder tudo que é desagradável, sem nenhuma consequência ou coerência. São aqueles que não conhecem o que é resumido pela reflexão

Ziguezagues

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Toda dificuldade, toda insatisfação, todo problema não enfrentado, disfarçado ou postergado cria deslocamentos. Esses deslocamentos, desvios de tensão, impõem modificações ao cotidiano, chegando a criar novos hábitos capazes de absorver os resíduos criados pelos desgastes e fragmentações dos desejos não atendidos. É muito comum encontrarmos essa situação em relacionamentos afetivos, principalmente casamentos ou uniões estáveis, quando o relacionamento já não motiva, não significa e os parceiros apenas cumprem papéis e funções. A invasão da ordem prática, a invasão das conveniências, é também acompanhada de medo, gerador de insegurança, gerador de deslocamentos que, por sua vez, criam dilema. Neste momento, instala-se o “vale à pena ou não?” , o “como fazer?” , o “será que a culpa é minha?” . Interrogações parecidas com questionamentos, mas que são tautológicas: viram e reviram as questões, caindo sempre nos mesmos pontos. Essas repetições, esse não questionar neutralizador de dúv

Desvitalização

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Viver esperando realizar os próprios sonhos, esperando atender as necessidades e ter reconhecidas e satisfeitas suas demandas, desconecta o indivíduo de sua realidade presente, realidade esta geralmente cheia de embaraços e obstáculos. Frequentemente estes obstáculos são considerados incômodos e o pressionam a esquecê-los, escondê-los em expectativas e desejos solucionadores. Estar desconectado da realidade, seja por negá-la, desconhecê-la ou detestá-la, cria interrupções destruidoras da continuidade do estar no mundo, produzindo fragmentação e posicionamentos polarizadores de direções alheias às sequências processuais das vivências individuais. Este processo implica em perda de autonomia, gera insegurança e deixa a pessoa entregue às expectativas que escapam de sua ação e controle: ela se circunstancializa. Circunstâncias sempre são aderências, sempre são estruturadas em outros contextos diferentes daqueles aos quais contingencia, e viver em função de circunstâncias exila, alien

Sincronização

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Sincronização é vivencia do mesmo tempo. A fluidez do presente, a contínua passagem do tempo, permite, em seus instantes, esta vivência; faz com que o espacialmente distante fique próximo, tanto quanto faz com que o próximo seja distante. Ou como já foi expresso pelo poeta Israel Zangwill: Um dia, estando entre nós dois o Atlântico, senti a tua mão na minha; Agora, tendo a tua mão na minha, sinto entre nós dois o Atlântico. - Israel Zangwill (1864 – 1929) - * Sempre vivemos no mesmo tempo - o presente - e o presente sincroniza, entretanto, a espacialização do tempo é frequente. O autorreferenciamento, os desejos e necessidades de cada um, espacializam o tempo. As dessincronias surgem em função de valorações individuais. As sequências temporais são obturadas pela necessidade de focalização de cada um, gerando isolamento. Vivenciar o isolamento geralmente causa ansiedade pois atrapalha as expectativas e os processos de ansiedade quebram sintonias, apontando para os aconteci

Apreensões

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A vivência de apreensão resulta sempre de uma certeza desmentida. Acreditar em determinadas preferências, em determinadas antipatias, e subitamente ver todas as valências e sinais mudados, ver, por exemplo, que o quê se desprezava e desconsiderava começa a ser importante e motivador, gera inquietações, apreensões. Além de certezas transformadas, se transformam também os referenciais de confiança e aceitação. Nada é como antes, tudo é incerto, a desconfiança impera. Estados de inquietação possibilitam dúvida, ansiedade e também mudança. Depois destas vivências, transformações se impõem, os questionamentos afloram e o indivíduo se descobre diferente do que era. Percebe, por exemplo, que o mundo do novo o atormenta, ou percebe que não pode abrir mão do que modela seu perfil - mesmo que ultrapassado e obsoleto - pois é ele, o perfil, que cobre suas inadequações e incertezas. As inquietações não equacionadas, não resolvidas, criam ambiguidades relacionais, estruturam dilemas adiad

Pessimismo

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Orientar a existência em termos de resultados cria tanto otimistas, quanto pessimistas. A antecipação, a expectativa gera insegurança criadora de confiança/desconfiança, otimismo/pessimismo. Controle para evitar, para antecipar, impedindo que condições adversas atrapalhem processos, é típico de pessimistas. O controle existe também no otimismo através da manutenção constante de tudo que traz bons ares, tudo que ajuda seus projetos. Conviver com otimistas ou pessimistas é se inserir em cálculos repetitivos que desgastam a novidade, tanto quanto impedem surpresas. Tudo já é esperado, para o bem ou para o mal, e esta atitude amordaça o novo. As coisas sempre se repetem, dando certo, ou sempre dando errado, mostrando sua verdadeira face. Este tipo de avaliação é desgastante, não se vivencia o que acontece, apenas se utiliza, se sublinha acontecimentos para guardá-los na caixa boa ou na ruim. E assim o ser humano torna-se um robô etiquetador e tedioso. Mães e pais não devem anteci

Ideia fixa

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Obsessão, obstinação são os vários nomes para a redução do mundo aos próprios interesses e princípios, assim como a dogmas e pensamentos religiosos. É uma atitude resultante de insegurança e medo, que se caracteriza por necessidade de ter onde se apoiar, por precisar resolver as coisas o mais rápido possível.  Geralmente esta atitude rígida é fruto da não aceitação do presente. A rigidez faz com que não se perceba nada além do desejado, e quando o indivíduo se transforma no próprio desejo, ele aspira à uma concentração sem desperdício de pensamento, de ação, de motivação. As ideias fixas resultam também da incapacidade de apreender e aceitar a multiplicidade de variáveis ameaçadoras dos próprios interesses, e neste sentido, a ideia fixa é transformada em talismã, alavanca aceleradora das realidades pretendidas e ideadas. Sendo sempre um prévio, um a priori ao que acontece, a ideia fixa inibe participação, cria relacionamentos pontualizados, relacionamentos resumidos dos valor