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Mostrando postagens de 2017

Individual e coletivo

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“O crescimento populacional transfere a iniciativa do indivíduo para a coletividade” , diz Ilya Prigogine. A transferência da iniciativa do indivíduo para a sociedade não é apenas uma decorrência do aumento populacional, ela é, fundamentalmente, o resultado da alienação, da massificação necessária para suprir, prover e atingir mais-valia de todo o capital investido e propiciado pelo aumento populacional. Controle de funcionamento, apropriação de ideias - à medida que são estabelecidas as convergências necessárias - fazem o caminho necessário para homogeneizar e massificar o homem e têm um intenso efeito no sentido de seduzir e consumir as demandas sociais. Embriões desse processo foram denunciados pelos luditas no séc.XIX, foram filmados e explicitados no Metrópolis , tanto quanto mostrados como nosso futuro próximo, no Blade Runner . Organizar é, às vezes, uma forma de neutralizar iniciativas à medida que se cria um amplo campo para abrigá-las. Sociedade, escola, famíli

“É melhor chorar em um Rolls-Royce que em um bonde"

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“ É melhor chorar em um Rolls-Royce que em um bonde ”, assim escreveu Françoise Sagan nos anos 1960, ou, como muitos dizem hoje, “ é melhor chorar em um carro próprio, que em um ônibus ”, enfim, é melhor sofrer com dinheiro, com recursos, com possibilidades de saída, que sem as mesmas. A questão, o dilema, a frustração não deve ser colocada nessa valorização restrita: ter ou não ter dinheiro, ter ou não ter recursos. Isso não é o fundamental, não é o desesperador, o aliviante. A questão é colocar outra perspectiva, coisa impossível quando se está movido pela sobrevivência, e pelo que se acredita ser a melhor maneira de realizar desejos. O importante é não chorar, não sofrer, é aceitar limites enfrentando-os e ultrapassando-os. Sofrimento, doenças não se destacam quando os mesmos são integrados e aceitos como continuidade do existir, como modulação e frequência do estar-no-mundo. Não existe o contínuo mal, nem o contínuo bem, muito menos o mais-ou-menos. O que existe é integ

Abandono

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Situações de abandono se caracterizam por desespero, desamparo, perda de perspectiva, medo e desolação por parte de quem é abandonado. A irreversibilidade dessa situação é vivenciada como perda, falta e fatalidade. Surpresa abrupta caracteriza o sentir-se abandonado e é geralmente expressa pela sensação de sentir fugir o chão dos pés. É o desamparo, a perda de referências e de apoio. É ficar perdido no incomensurável instante do nítido desaparecimento. Nas separações de casais, geralmente o abandono é vivenciado com desespero substituindo os apoios desmantelados, com a estranheza, a vivência da rejeição, a recusa a aceitar a nova realidade imposta, assim como a raiva ou a depressão. O “olhar de adeus” * que gera descrença, que quebra todas as certezas, atormenta e cria desejos de vingança. “Que a saudade é o pior castigo” ** exprime nitidamente o vazio causado pelo abandono, pela falta. Nas organizações e comunidades a ruptura gerada pelo desaparecimento de um m

Jogo de ilusões - ilusões dando certezas e apegos

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Real é o percebido, real é o aparente, consequentemente toda realidade é ilusão quando percebida em função de a priori , de metas e desejos. Só podemos entender realidade e ilusão como resultantes da percepção, da reversibilidade contextual que lhes dá significado. Identificar ilusão e realidade é uma aspiração constante. São conceitos que se misturam seja nas manipulações religiosas, nas licenças poéticas ou na neurose. Jorge Luis Borges dizia que "facilmente aceitamos a realidade, talvez por intuirmos que nada é real" . As ilusões são implicitamente o amparo do real enquanto fundo que suporta o percebido. As implicações, as decorrências caracterizam a ilusão, o não percebido. Nesse sentido, a frase de Borges ganha dimensões mais abrangentes e válidas à medida que, deixando de ser apenas um jogo de palavras, passa a explicitar a vivência do real e sua aceitação. Baseando-me nas relações de figura-fundo nas leis perceptivas que atestam que o fundo é o estrutu

Muito desespero cria esperança

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Foto: Paul Gawsewitch É quase um oximoro dizer que desespero cria esperança. Psicologicamente essa situação não é vivenciada enquanto paradoxo graças à divisão criada pela não aceitação do que se vivencia, do que ocorre. O auge do desespero pode ser vivenciado enquanto submissão ou revolta, pode neutralizar contradição ou acirrá-la à depender de como seja vivenciado. Submeter-se ao que desespera, amargura e infelicita é típico de indivíduos habituados à passividade. Para eles, não agir, não reclamar é a garantia de alguma coisa receber, alguma coisa conseguir. A omissão, resultado da submissão, abre portas. Essa é a esperança acalentada: quanto mais se suporta, quanto mais se sofre, quanto maior o desespero, melhor e mais possível é a recompensa, não há contradição, desde que o que desespera é o caminho para o final feliz, é a esperança de melhora. O chegar ao “fundo do poço” abre perspectivas, cria esperança, desde que pior não pode haver e assim se unifica contraditórios

“Tanto pior para os fatos”

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Não há o bem ou o mal, há todo um processo que configura acerto, erro, que explica a catastrófica queda do avião, por exemplo, ou o ruir das organizações políticas, a depressão, a debacle econômica. O fato não traz em si sua lei, ele nada mais é que um epifenômeno, não muda em nada o processo. Entretanto, é a partir dos fatos que são estruturados novos processos, ou seja, o fato é o desabrochar de contradições que, quando colhidas e enfrentadas, estruturam outros processos, permitindo contradições e mudanças. Parcializar, se deter no fato é negar vida, é negar movimento. Mesmo a morte, fato irreversível na vida de um indivíduo, é um processo, está sempre esclarecendo ou apontando para inúmeras variáveis. A individualidade, a essência de cada indivíduo, sua história, afetos, desafetos não se esgotam na sua morte, embora a partir dela ele não mais signifique como processo, movimento, vida. Quando se explica fenômenos, acontecimentos, com conceituações causalistas, se soma os

Interesse e motivação - diferenças estruturais

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A continuidade da existência implica em encontrar obstáculos que quando não são enfrentados e ultrapassados podem descontinuar por meio de fragmentações. Assim são gerados os posicionamentos, as problematizações e também os sistemas de divergência e de convergência. Nas estruturas descontínuas prepondera o interesse substituindo a motivação, desde que foram criadas impermeabilizações. Não se vivencia o presente enquanto presente, mas sim em função de estruturas passadas, situações a manter e defender ou desejos futuros a realizar. Nesses casos, pelas polarizações insistentes na superação e realização de objetivos, surge o interesse. A conduta é rígida, persistente e unilateral. Quando se enfrenta e ultrapassa obstáculos tudo motiva enquanto configuração presente, é o perceber em volta, o perceber o outro, que configura a motivação. Flexibilidade, liberdade e disponibilidade caracterizam esses comportamentos. Estar motivado é dinamizador, faz atingir novas configura

Sinceridade

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by Gerd Altmann , Freiburg, Deutschland Sinceridade é o que se manifesta ultrapassando o próprio contexto da expressão enquanto julgamento e expectativa de resultados. É difícil ser sincero pois ao se dirigir ao outro, necessário se torna negá-lo como existente, como expectante, e afirmá-lo como participante, equivalente a englobá-lo, integrá-lo. Dizer a verdade, expor os próprios desejos, dúvidas e questionamentos é quase transformar o outro em extensão de si mesmo, é tirá-lo de contingências, criando participação. Essa dificuldade da vivência de sinceridade faz com que a mesma apenas seja encontrada, geralmente, nos encontros terapêuticos, nos quais não há busca de finalidade e resultados para justificá-la. Ser sincero, se colocar do jeito que se é, dizer o que se pensa é também passar a ser compreendido em sua verdade, e dizer a verdade é mais fácil, pois há menos compromisso, desde que a impermanência e efemeridade caracterizam o verdadeiro enquanto fala informativa.

Ultrapassagem do próprio limite

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Illustration by Elizabeth Lada   Confiar é ultrapassar os próprios limites ao estendê-los para o outro. Isso é possível quando se amplia o conceito de eu, quando se percebe o outro como continuidade de si mesmo. É muito difícil esse processo quando se é delimitado por conveniências, território próprio e resultados necessários. Nas relações familiares, nas quais geralmente impera a não aceitação, os filhos são criados e educados em função de referenciais outros que não os da própria individualidade, mas sim os de para onde os mesmos devem ser endereçados. A família, antes de qualquer coisa, é um grupo. Esse grupo existe para realizar objetivos e funções ou existe por encontros construtivos, semelhanças, sintonia e sincronicidade, sem convergência nem divergência. As figuras líderes, as autoridades provedoras, pai/mãe, já estabelecem referenciais que submetem a igualdade e a harmonia. Desde cedo o filho é estimulado a ocupar o melhor lugar, a evitar ser submetido e ultrapassad

Contornos e realizações

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Sob o ponto de vista pragmático, no qual a utilidade e resultado são fundamentais, o importante é sempre poder reciclar, corrigir, consertar e saber como acertar. Não perder oportunidade, ter sempre recursos - estar programado - caracteriza essa constante vigilância, esse olhar para o futuro ou constante espreita das boas oportunidades. É uma acentuada expectativa, que se traduz por tensão e diminuição de participação nos dados reais, no que está acontecendo. Buscando resultados, acertos e vitórias, se programa a vida para esperar. Essa sequência, eterniza o vazio que é a espera nebulosa preenchida pelo que se propõe, pelo que se deseja. A liberdade que virá pela independência - profissionalização e casamento dos filhos, por exemplo - o tempo aberto e livre que propiciará viagens e divertimentos após aposentadoria, quando acontece, geralmente encontra seres cansados, entediados, deprimidos, pois passaram a vida privando-se do presente, da atualização de seus desejos, dúvidas

Exato e nítido

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Cores vivas, formas marcadas, silhuetas delineadas, tudo que é expresso pode ser nítido ou ambíguo. Podemos pensar também que em alguns casos a ambiguidade é nítida. Expressar é sempre estabelecer referenciais, tanto quanto mostrá-los, explicitá-los. Estruturalmente, o que se expressa decorre de suas inúmeras variáveis contextualizantes. Via de regra são mais pregnantes uns aspectos que outros e essa reversibilidade cria nitidez, tanto quanto expressa ambiguidade e vice-versa. Ter as coisas no próprio lugar, nada faltar ao organismo saudável, viver em sociedade na qual os configuradores sistêmicos não são totalitários, na qual estão presentes os constantes encontros definidores; viver em função do que ocorre, andar sem olhar para trás, ou mesmo quando tal acontece vislumbrar caminhos e desvios, são maneiras de tornar exato, exequível o nítido. Confusão, adiamento, desorganização configuram o isolamento, a redução de variáveis aos estruturantes responsáveis pela expressã

Utilização de referenciais

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Utilizar referenciais existentes para apresentar outros diferentes, embora congêneres, é uma maneira de confundir, tanto quanto de enganar. No comércio, inúmeros produtos e lojas utilizam marcas, grifes, fama sancionada pelo uso e se apresentam como idênticos. Explorando a semelhança gerada pela proximidade lingüistica, que pode levar a closuras, se aproveitam e assim iludem e angariam consumidores. Esse processo também está presente na vida universitária, no dia a dia das academias esportivas, das aulas de meditação e dos centros de saúde e aperfeiçoamento. É o ser igual a, é o fazer como o bem sucedido faz. É a montagem de peças com modelos arbitrários que a tudo recorre. Colagens, deturpações, correntes para encaixe, tudo é permitido quando se quer lograr o cume dos resultados e vantagens e quando se precisa do outro, enganando e mentindo. Este “boa noite Cinderela” coloca indivíduos onde se deseja que eles fiquem, para assim estabelecer e conseguir bons resultados. Comé

Cinismo

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"Diogenes" de Jean-Léon Gérôme (1824-1904)  Com o passar do tempo o sentido das palavras muda e algumas vezes pode adquirir significados opostos aos de sua origem. Cinismo é um exemplo disso. Em sua origem era postura filosófica caracterizada pela busca de uma vida simples e voltada para a natureza, vivenciada por meio de atitude crítica e de rejeição de todas as convenções sociais, das boas-maneiras, das famílias, casamentos, moradias e valores como pudor ou decência - entendidos pelos cínicos como hipocrisia social. Também pregavam a valorização da virtude encontrada em uma vida ideal e na honestidade. Seu maior expoente, Diogenes, vivia nas ruas de Atenas, levando sua lógica ao extremo, indiferente aos valores e confortos sociais (costumes, convenções, riqueza, fama, poder, bem-estar etc.). O cínico era, em última instância, um homem honesto, um crítico da hipocrisia social. Nos tempos modernos, cinismo está associado a uma descrença nos valores éticos, na sinc

Poder, egoísmo, arma-na-mão e maldade

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É sempre intrigante constatar que os poderosos, principalmente políticos, roubam, enganam e não se sentem mal! É quase - do ponto de vista deles - "dever de ofício" visto como solução e eficácia. Espanta também ver o assaltante, o marginal roubar, matar e não ter conflitos, não ter remorsos. Será que pertencem a outra espécie, outra forma de gente como imaginava Lombroso? Não. São sempre seres humanos. A diferença é que foram transformados em sobreviventes e, portanto, tudo é vivenciado em função dos desejos e necessidades extrapoladas e polarizadas para os deslocamentos da não aceitação. A não aceitação estabelece padrões e regras. É necessário ganhar um bilhão de dólares para se camuflar como humano, para se sentir gente e esquecer a bestialidade de seu processo. Outros precisam matar, eliminar 100 pessoas ou um número ilimitado, para sentirem-se capazes de ações e de prazer. Transformar o outro, o diferente ou semelhante, em espelho, em respaldo ou desculpa de c

Curar e ajustar - amordaçamento da subjetividade

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Cartaz de 1936, indicando como as pessoas eram marcadas na Alemanha nazista Salvação da família, da propriedade, "cura gay" traduzem desejos de comprometidos, atitudes restritivas que, girando em torno dos critérios de ajuste e mais-valia, ameaçam a liberdade, desumanizam e alienam. A discussão dos últimos dias em torno da Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia ( CFP ) - que determina a atuação de profissionais da Psicologia quanto à orientação sexual -, a reivindicação de que ela seja restringida, estabelecendo a possibilidade de tratamento psicológico para reversão de orientação sexual, é um exemplo desse comprometimento. Essa discussão é universal, atualmente atinge uma abordagem mais ampla que engloba questões de gênero, identidade, transexualidade etc. e voltarmos, hoje no Brasil, ao ponto em que estávamos há três décadas, além de ser uma infração de leis agora existentes, é um retrocesso que nada têm de preocupação científica como alegam os def

Abuso no trabalho

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Abuso no trabalho é um tema recorrente hoje em dia. Situações de abuso sempre indicam autoritarismo, prepotência e utilização do outro enquanto subordinado. Acreditar que um funcionário vai se submeter a tudo, pois não pode perder sua manutenção de vida, seu emprego, faz com que, da chefia à colegas, criem-se situações difíceis que precisam ser transformadas em fáceis através da submissão. Fazer de conta que não há provocação, que não existe abuso é a negação que permite manter o emprego. Permitir ser abusado só é possível quando se nega a humilhação presente em função de amealhamentos futuros. Transformar o dia a dia, o trabalho, em ponte para sobreviver é negar a própria realidade, a própria identidade. Nem sempre o que é narrado como abuso advém da exploração das autoridades estabelecidas. Às vezes o que se vivencia como abuso no trabalho é uma extrapolação mantenedora da atitude de medo, ansiedade, desejo de ser considerado e cuidado. Esses deslocamentos

Beira de abismo

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Nas situações limites, nas quais dificuldades existem, a condição de mudança, a participação do outro, principalmente enquanto psicólogo, é fundamental. Descortinar horizontes, ampliar referenciais, realizar implosões que possibilitem aceitar os abismos da descontinuidade, que possibilitem até aceitar o inevitável, é um trabalho psicológico. Nesse panorama, o trabalho do psicólogo, ampliando horizontes, é da maior importância. Além de ouvido amigo, são seus olhos atentos que possibilitam mudanças, que interrogam contradições e solucionam impasses. Contemporaneamente, a especificação de funções próprias e adequadas gera, significativamente, vestimentas uniformes, cria autômatos programados para tampar buracos, para manter e criar aparências de eficácia, de responsabilidade e cuidado. Dispositivos e sugestões de nada adiantam, não ajudam e apenas existem como sedativos de temores e apreensões. Atitudes de participação, ouvindo, observando, até mesmo questionando, é o que se

O fascínio pela desgraça

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Outro dia me pediram para falar sobre o fascínio pela desgraça, pela ruína, queriam também saber porque programas televisivos apelativos têm grande audiência. Processos de identificação geram motivação. O familiar é percebido enquanto semelhante; essa semelhança é englobada como proximidade. Estas leis perceptivas - semelhança e proximidade - regem os processos da percepção, do conhecimento, consequentemente, do relacional, da montagem de estruturas sociais e psicológicas, dos relacionamentos consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Vivendo em condições economicamente subdimensionadas, sofrendo provações e privações, participando de cotidianos abjetos, o ser humano se motiva, se fascina pelo superdimensionamento do que lhe é próximo. Ampliar, às últimas consequências, o que está presente, limitado pelo exíguo espaço, ver como pode explodir tudo que está gestado, é revelador. Fascina. Freud explicava essas identificações e fascínios pela projeção da agressividade, das viv

A radicalidade do desejo

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Deus ex machina - vaso grego, séc. IV b.C. É muito fácil imaginar ou mesmo lidar com a radicalidade do desejo quando o mesmo é colocado como uma das forças motrizes da vida. A partir dessa posição podemos, por exemplo, dizer que a radicalidade do desejo é o máximo da realização humana e, ainda, que vivemos para realizar isso cada vez que caem as censuras do subconsciente e libertam-se as motivações inconscientes. Esse é o ponto de vista freudiano. O desejo é cego e precisa encontrar o caminho para realização do desejante - o ser humano. Fora dos dualismos de interno e externo, não admitindo forças operadoras e determinantes - como é o caso dessa abordagem baseada na libido ou energia sexual/impulso vital - e entendendo o desejo como resultante de motivação, a radicalidade do desejo só pode ser entendida quando submetida a seus contextos estruturantes, e aí, falar desta radicalidade é falar de sintomas de não aceitação, é falar de carências e de falta. Nesse sentido, a ra

Como lidar com a pressão diante das tarefas

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Toda tarefa visa um objetivo, entretanto esse objetivo pode se esgotar na própria realização das tarefas ou ultrapassá-las. Quando os objetivos se esgotam na própria realização das tarefas, surge tranquilidade e bem-estar. Quando tal não acontece, surge expectativa traduzida por medo e ansiedade - é a conhecida pressão, o estresse. Cotidianamente estudantes vivenciam essa situação com a pressão dos vestibulares, ENEM e exames. Também são exemplificadores dessa pressão esperar resultados de exames de saúde, tanto quanto expectativas de conseguir emprego através de concurso. Quanto mais preparado e capacitado se está para o que se propõe atingir, mais confiança, mais certeza, menos expectativa, entretanto, essa regra de ouro frequentemente é quebrada por dados aleatórios, pois a própria aposta, o processo, é um crivo. Depender de um exame comprovador de higidez ou mobilidade, por exemplo, ultrapassa os referenciais do examinado, do apostador, enfim, do indivíduo, pois se torn

Papéis sociais - mudança de comportamento

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As sociedades em seus desenvolvimentos geralmente estabelecem regras e padrões. Esses modelos sociais são datados. Tempo de validade também existe para eles, desde que os questionamentos individuais, as estruturas econômicas, as vivências relacionais e psicológicas tudo definem e subvertem. São as transformações, as adaptações, as mudanças que aparecem, continuam ou são interrompidas. Vinte cinco anos - parâmetro geracional - é uma medida desses pontos de ebulição, de transformação. Exepcionalmente, fatores aparentemente abruptos também são determinantes de épocas, também são marcos. O pós-guerra (1945) é um deles. A morte de muitos homens na guerra levou outras realidades aos lares: de mãe e esposa a mulher foi transformada em provedora, modificando, assim, toda a estrutura relacional com seus filhos: dos lullabies (canções de ninar) às histórias contadas pelos audios, até os contatos no caminho da escola, agora substituído pelos acompanhantes e condutores escolares. Vinte

“Quanto pior, melhor” - Semelhanças e identificações

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Continuamente não aceito, desconsiderado e marginalizado, surge, no indivíduo, esperança de camuflagem para conseguir mínimas considerações. Ele tenta arranjar uma segunda pele, consensualmente não aceitável, por acreditar que quanto mais sujo, quanto mais desconsiderado nas esferas social e psicológica, mais conseguirá atenção ao ficar igual ao residual, ao dispensado. É a ideia de quanto pior, melhor. Não ser útil, ser inútil, ser o nocivo que atrapalha, que faz esbarrar e merecer cuidado e atenção. Será considerado pelo mal que pode causar, pelo atrapalho que significa. Causar o mal, ser nocivo, chamar atenção, merecer olhares, é visibilidade, é consideração. Ser invisível é desumanizador. Preconceitos e restrições criam a capa de invisibilidade e marginalizar-se ou causar prejuízos torna visível, personaliza, deixa de ser o zé mané e passa a ser o perigoso Zé, capaz de atrocidades. Virar alguém, ser considerado, mesmo que como escória e marginal perigoso, significa. O agru

Manutenção - honestidade e desonestidade

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O Julgamento de Salomão , de Giorgione - 1500-1501 Galleria degli Uffizi, Florence Sempre que se insiste e luta para manter uma situação fica claro o quanto a mesma é aderente, ilegítima e sem veracidade para ser mantida. Lutar para juntar o que já foi separado, o que já se provou indevido, é uma atitude inautêntica e desonesta. Honesto é o legítimo e legitimidade não exige luta, nem prova. No tempo dos Reis-Juízes, o Rei Salomão deixou um grande exemplo do que é julgar e do que é legítimo ao terminar com uma disputa entre duas mulheres que reivindicavam a mesma criança como filho próprio. Ele chamou as mulheres com a criança e anunciou que contentaria às duas, afirmando que iria dividir a criança ao meio para dar uma parte a cada uma. Nesse momento, uma das mulheres gritou que não, que entregasse a criança inteira para a outra. Salomão, então, disse que essa era a verdadeira mãe e entregou-lhe a criança, pois mãe salva, não mata o próprio filho. A legitimidade da materni

Oportunismo

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A habilidade de tampar incapacidades, transformando-as em pseudocapacidades, se constitui no que chamamos de oportunismo. Não ter condições, não ter conhecimento, não ter dinheiro, não ter mobilidade para realizar propósitos e objetivos, desejos ou necessidades, pode levar o indivíduo a transformar o outro, os recursos alheios, em instrumentos úteis para superar suas próprias incapacidades. Essa apropriação é sempre um oportunismo pois é resultado do uso do outro. Não ter condições de realizar o que se propõe, ou o que é necessário, implica em admitir essa impossibilidade. Não se deter na impossibilidade e querer superá-la, sem recursos nem condições, estabelece redes de empréstimos, de utilizações que vão desde plágio e roubo até expoliações escusas. Engendrar mentiras, criar máscaras, criar imagens para conseguir expressar o que é necessário à realização de objetivos, é manipular fatos, manipular acontecimentos e realizações em função de objetivos diferentes dos que se e

Constatação

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Perceber o que está em volta e constatar a existência de impossibilidades e limites, desanima. Esse desânimo cria questionamentos e restabelece a dinâmica, permitindo aceitação das impossibilidades e limites. Quando o desânimo não possibilita questionamentos o indivíduo fica entregue às situações que o limitam. Nada é feito, apenas espera que aconteça o estabelecido. Essas vivências são frequentes quando se sabe não ter condições “ de virar a mesa ”, de “ mudar o rumo do barco ”. Constatar a impotência é aniquilante, mas, por outro lado, possibilita a liberdade do não agir, do esperar não esperar. É um antagonismo estruturante, desde que percebido e respeitado. A constatação da impotência e de limites, alivia, permite desviar o rumo, recriar saídas, pois configura mudanças necessárias às manutenções de expectativas falhadas. Constatar é desatar o nó de impossibilidades, tanto quanto entender o enunciado de possibilidades. Aceitar a perda, o limite (a morte, a doença, o ab

Inconsequência

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Vivências pontualizadas dos acontecimentos - do que ocorre - são típicas de posicionamentos autorreferenciados. Pessoas que vêem o mundo, o outro e a si mesmas a partir dos próprios e únicos referenciais e critérios, não percebem as malhas relacionais, tampouco as implicações das mesmas. Reduzir tudo aos próprios desejos, medos e frustrações, tanto quanto acondicionar tudo nas caixas da experiência, aglutina disparidades, instalando caos, confusão e, assim, criando os únicos habitantes possíveis para estas atmosferas: os impulsivos, os inconsequentes, os irresponsáveis e imediatistas. É o “ bateu, levou ”, o “ deixa comigo ”, o “ resolvo agora ” que povoa este universo. Atitudes inconsequentes são autorreferenciadas e pontualizadas. Existem quase como equivalentes de onipotência. O outro, o mundo causa sempre surpresa, assusta, exige interjeições, gritos, urros. Tudo é extravasado pois nada é refletido, questionado, continuado. Sem questionamento não há percepção das implic

“Não posso, mas consigo”

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Constatar uma impossibilidade e desconsiderá-la em função de um resultado que se crê necessário, frequentemente gera esforço, mentiras, desesperos, maldades, frustração e decepção.   “Não posso, mas consigo” não gera conflito, embora, por definição, seja uma situação paradoxal, consequentemente, conflitante. A neutralização da incapacidade é o primeiro passo que se dá para manter o propósito e o empenho de conseguir. É também o que faz desaparecer a possibilidade de conflito. Negar o existente implica em criar outra aparência. A falta de condição, o não poder ser desconsiderado ou subestimado diante do empenho para conseguir, leva a inventar capacidades. Como se faz isso? Copiando, plagiando, utilizando os outros para realizar o que não se tem condições, o que não se pode, mas se objetiva conseguir. Na contemporaneidade, a tecnologia é utilizada para realização desses milagres pretendidos e buscados pela impotência ou incapacidade: desde as sexagenárias realizando o sonh

Dúvidas e medos - como são reconfigurados

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  Estar sempre em dúvida faz com que se busque referenciais que funcionem como pontos de apoio, pontos de segurança. É examente aí que são criados os sistemas e métodos de avaliação. Avaliar faz estacionar o desequilíbrio. Não se cai mais para um ou outro lado, cessam as dúvidas e, consequentemente, os medos decorrentes de cogitações. Consegue-se um ponto de equilíbrio que mais tarde se transforma no posicionamento autorreferenciado, responsável pela informação do que vai ser bom, do que vai ser ruim, do que vale à pena ou não. O que está à volta existe em função dos critérios avaliadores. Engloba-se o circundante e assim se cria capacidade, potência, eficácia, tanto quanto se constata as fragilidades e ineficiências. A partir desse ponto, as vivências de dúvida são engessadas pela propriedade da eficácia, pelos resultados que trazem boas novas, boas colheitas assegurando paz e bem-estar. Não há medo, tudo está regularizado, funcionando, tanto quanto as desconfianças foram ab

Concentração de frustrações

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Toda submissão é estruturada pelo medo, pela omissão. As extensões desse processo tonalizam incapacidades representadas por inveja, por exemplo. Desejar ser o outro, ou ter o que o outro tem, é, para o submisso, uma carga excessiva. Pontualizado pela sua submissão, tendo sido, ao longo da vida, reduzido a posicionamentos expectantes e autorreferenciados, qualquer situação além dele próprio é extenuante. Neste sentido é fácil entender como a inveja é vivenciada como aquilo que mata. Não ter conseguido o que o outro conseguiu estabelece uma concentração de frustrações e decepções que são disfarçadas e engolidas. Ser o outro, invejá-lo é uma maneira de ressuscitar, e esse nascer de novo é redentor. Todas as vivências e desejos de transformação ilustram esse drenar da não aceitação. Invejar é desejar ser o que não se é. Paradoxo e impasse absolutos. Como ser quando não se é? Exatamente aí, nesse pântano, cresce a inveja. Este alguma coisa, já não é o diferente, é alguma coisa, é o

Cracolândia em São Paulo - Solução problemática

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  Um dos exemplos de solução problemática, consequentemente, pseudo-solução, foi o que assistimos estarrecidos, esperançosos e ameaçados, em São Paulo, na chamada cracolândia. A Prefeitura de São Paulo resolveu urbanizar áreas ocupadas por usuários de crack e ao fazer isso achava que estava também resolvendo e ajudando esses usuários, compulsoriamente levando-os à internação, obrigando-os a tratamento. Em menos de 24 horas os craqueiros foram removidos da cracolândia original e, menos de 24 horas depois, passaram a ocupar outros locais próximos. A insurgência, a volta do sintoma foi perturbadora, deixou claro que foram desconsideradas resoluções anteriores estabelecidas com entidades médicas (psiquiátricas), sociais, antropológicas, psicológicas, que vinham sendo responsáveis por mediação, com o objetivo de conseguir estabelecer diálogo e consequente mudança. O surgimento de impasses leva a conveniências e inconveniências, à necessidade de apreender implicações e a ponto