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Mostrando postagens de janeiro, 2023

Riscos

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Após experiências de abandono, tristeza e isolamento, o indivíduo pode concluir que nada há de mais seguro que a imobilização. Essa conclusão traz tranquilidade, mas também desespero. Ele começa a ter medo de perder a paz encontrada na imobilidade solitária, e assim se desespera. Acontecer alguma coisa que ele não consegue controlar, cujo domínio o exila, é aterrador. No tratamento psicoterápico, a recuperação dessa configuração é difícil e lenta. Fazer a pessoa descobrir que existe um outro além dela própria, e que não a ameaça nem cobra, mas assiste, é o início da restauração, é a descoberta de estar no mundo e a recuperação do perdido. É uma vivência de tateios, de insegurança, de expectativas, mas é uma vivência de algo além de si mesmo, e isso é dinamizador. É se arriscar a viver, é sair da casca, é se levantar do chão. Socialmente, o equivalente dessa situação psicológica é encontrado no modo como as mulheres (metade do planeta) são tratadas. Pequenas leis, novas políticas trazem

No mundo distópico a luta pela utopia no Brasil - Novos Velhos Ventos

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Posse da Ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara em Janeiro de 2023, em Brasília-DF - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil CC0   Em uma sociedade, quando a vida transcorre em meio a situações de grande opressão e estados de privação ou desespero, uma realidade assim é chamada distópica; ela é, em filosofia, a antiutopia. A utopia, geralmente irrealizável, é o sonho, é a sociedade organizada de maneira perfeita, com felicidade, justiça e bem-estar. Recentemente aqui no Brasil, assistindo à posse, como Ministra, de Sônia Guajajara - do grupo indígena Tenetehára , do Maranhão - no recém criado Ministério dos Povos Indígenas, fomos privilegiadamente brindados por uma conversão rara de conceitos. A utopia, o sonho, a volta dos direitos dos indígenas, povos originários de nosso país, em verdade não é um sonho, é antítese necessária à salvação do planeta. Davi Kopenawa, líder do povo Yanomami, fala: "os índios estão segurando o Céu, enquanto lá fora o povo da mer

As encruzilhadas no caminho

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    Viver é descobrir, é também repetir, é seguir, continuar caminhos e esse mecanismo de adaptação, via de regra, apresenta situações não mapeadas. O aparecimento de curvas e de encruzilhadas nem sempre é percebido e às vezes quando o é cria impasses. Somos socializados e instruídos com base em aprendizados que visam adaptação, produção e consumo. A participação social a que somos treinados e capacitados é a da repetição, do desempenho, da leitura eficaz dos esquemas ou mapas prontos. Assim crescemos, trabalhamos, constituímos família, envelhecemos. No entanto, a vida é movimento e transformações constantes que não cabem em ordenamentos antecipados. A vida surpreende. Ter o plano prévio, o mapa da mina, o projeto é sempre desnorteador. O a priori é inútil. Foi validado para situações anteriores, e mesmo que essas situações se repitam, ele está defasado, ou como dizia Heráclito: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesma

Por que se acredita?

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  A crença, a confiança são estabelecidas pelo encontro, pela participação e vivência. Crença é sempre uma resultante. Entretanto, quando seres humanos se reduzem a sobreviventes desesperados, a crença e a confiança passam a existir como farol, guia e orientação, como uma maneira de suportar as consideradas agruras da vida. Tem sido assim desde as sociedades tribais, nas quais o homem precisa de alguém que lhe oriente, como os pajés, os adivinhos, os sacerdotes, até mesmo os totens e os tabus, e esse tem sido o caminho da horda. Nas sociedades complexas são implementados novos objetivos, metas e propósitos. O querer ir além, conquistar, enriquecer, ser imortal leva à busca de guias e amuletos, e ainda: leva a acreditar que a crença é o que ajuda e salva. Superstições, religiões, ambições criam castelos e igrejas. Esse processo esvazia o exercício das possibilidades humanas, desde que confina o ser humano à busca de soluções e resultados. A própria crença, a própria fé é destruída ao se