Aniquilação da motivação

Quando tudo é igual, a repetição é uma constante. Na cadeia de manter hábitos, o indivíduo se situa, se sente seguro, mas se esvazia em termos de autonomia, vira robô. Artefato de si mesmo, garantindo tranquilidade através de só fazer o que é necessário, ele repete, imita. A vida, jogo de cartas marcadas, é um passar do tempo, tedioso. Consegue segurar, produzir e cuidar de descendentes, por exemplo, mas dá voltas sobre si mesmo, esperando sempre autorização para se definir.

Sem motivação a vida é um tédio, pois tudo é repetido e mantido pela imanência orgânica, biológica. Neste universo fisiológico, a motivação é vivenciada como inquietação, que vai desde a fome excessiva até o sono dopante ou a vigília excruciante.

Qual o sentido de estar vivo? É pergunta constante, sempre aplacada por supostas ajudas ou dedicação aos outros. Comparar, avaliar criam o universo da repetição, da segurança, mas também exilam qualquer possibilidade de novidade. Nada acontece que não esteja planejado, mas se tal ocorre é sempre intranquilizador, mesmo quando é considerado bom. A surpresa, o não programado, é desagradável. O desespero aparece, a insegurança eclode - lembra o casal de Ionesco, ou as próprias mobilizações do personagem kafkaniano em busca do silêncio. A toca silenciosa é o oco do universo, onde todos os bramidos, ruídos e rumores reverberam.

Manter é repetir, é posicionar, esclerosar a dinâmica que gera novidade, desafio e mudança.



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