Desatando nós



Para resolver um problema, uma questão é necessário se dedicar ao que desafia, ao que cria complexidades, ao que problematiza. Enfrentar a problemática é o requerido, independente de se ter ou não condições de resolvê-la. Inicialmente se deter, encontrar o problema, a dificuldade é o que possibilitará acesso a sua resolução. Sem encontro não há constatação, não há diálogo.

Constatar um problema, uma impossibilidade, causa sempre estranheza e remete à convicção de ter condição ou não de modificar o que problematiza. Esse momento de constatação, quando é ambíguo, quando vivido autorreferenciadamente, adia solução, transforma o problema em justificativa de avaliação, criando a famosa descoberta de que “não poderia fazer nada!”. Estar submisso, amassado pelas impossibilidades é, para muitos, solucionador e absolvedor.

Avaliar, medir é uma maneira de fugir do confronto, da ação, da mudança. Não é o que pode ser feito que desata nós, é o que precisa ser feito que os desata, muda posicionamentos, abre prisões e estabelece a liberdade de enfrentar e de questionar. Impossível se acomodar e mudar, impossível transformar zonas de conforto sem reeditar dilemas estabelecidos sobre conveniências. Indivíduos comprometidos com resultados jamais mudam, jamais percebem os caminhos, os meandros do que vai delinear soluções, desatar nós, afrouxar asfixias, destruir apoios comprometidos.

Desatar nós, resolver problemas é abrir mão de apoio e reagir ao que oprime e esmaga. O não entendimento dessa contradição cria fracionamentos responsáveis por divisões posteriormente conflitivas. De tanto enganar o outro, de tanto camuflar a nitidez do uso que estabelece e sofre, fica subordinado, escravizado às próprias mentiras, à manutenção das mesmas, sem sequer perceber que a manutenção do inexistente - da mentira - cria outra ordem de fatos, sequências de ilusão, que aproximam por imobilização. Já não se procura atar nós, não é necessário amarrar. O indivíduo preso na imobilidade, nas vivências desvitalizadas descobre o que é preciso ser feito para reviver. Entretanto, essa descoberta que precisa ser feita, não pode ser feita, mas já foi feita. Esse conflito é resolvido por exaustão, pois novas realidades são agora percebidas: além da conveniência e do medo surge o livrar-se da dor, da depressão, da imobilidade, o ficar vivo ou ser um objeto que de vez em quando recebe sopros de vida e paga para isso.

Descobrir que toda omissão, todo faz de conta implica em outros processos, gera outros custos, compromissos e alienações cria mudança.



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