Pactos



Goethe, no Fausto, resume o desespero da falta de recursos e da ambição humana no pacto que se faz com o Diabo. Comprimidas e confrontadas entre o bem e o mal, as pessoas gananciosas e desesperadas fazem pacto com o demônio. Usar essa ajuda era sair do limbo, da mesmice, era o prazer, o poder total.

Atualmente, os pactos estão ampliados. Não é preciso vender "a alma ao Diabo", é possível vendê-la a inúmeros compradores ou a inúmeros diabos, sejam eles o chefe, o policial, o patrão, o marido, a mulher, os companheiros de casa, de cama e de cruz. Tudo é garantia de diminuir infortúnios: o colega que denuncia outro para conseguir promoção, a esposa que suporta violências para garantir o futuro dos filhos, o amigo que nega acertos para obter lucros, o vereador e o governador que pagam pelo voto, o que ocupa o lugar na fila enquanto o outro descansa, são diversas formas de vender a alma ao Diabo, inclusive com menos problemas, pois a ideia de alma e diabo já foram diluídas. Alma, agora, é o interesse, é o propósito e isso nada significa de ruim, já que a ideia de alma foi totalmente circunstancializada. Diabo é o pastor, é o governador, é o padre que pede para esconder "certas coisas" a fim de não ficar sem possibilidade de salvação e melhoras.

Pactos são acertos e todo acerto é uma conta de chegar ou de zerar que redime, submete, satisfaz e demoniza. Fazer o acerto é negar espontaneidade. É escada que redime, mas também aprisiona.

Buscar solução geralmente é negar o problema quando não nos detemos nele. Dedicar-se ao problema é se extasiar com o novo, a solução que emerge, a mudança que aparece. É constatar, é aceitar. É não se perder em acordos despersonalizadores, pactos destruidores de dignidade, espontaneidade e responsabilidade.

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