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Mostrando postagens de agosto, 2025

Vida entre parênteses

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       Frequentemente, por não aceitação de si, do que acontece e do outro, os indivíduos constroem “castelos de ilusões”, cercadinhos protetores e isoladores. Criar o pequeno mundo, o espaço onde se é soberano e onde tudo pode ser decidido, evitado ou aceito é um dos processos de coisificação, de se transformar em objeto, receptáculo dos próprios medos e anseios.   O autorreferenciamento tensiona tanto, que novas familiaridades como se fossem totens resultam dessa pontualização, desse colapso existencial. Deixar de movimentar-se conforme o que acontece, seja como tese ou como antítese do que ocorre – o que seria o ideal – confina e esclerosa possibilidades, isola o indivíduo, pois ele está colapsado. Estar dividido, viver em função de manter compromissos que salvam e alienam, que surgem do medo e da culpa é uma maneira de ser impermeável ao novo, ao que ocorre, à vida. Ideias e programas o situam enquanto a priori, pedras construtoras de isolamento são ...

Autômatos

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    Quando as pessoas se valorizam pelo que conseguem e realizam, elas são também, consequentemente, desumanizadas, despersonalizadas e esvaziadas de suas possibilidades relacionais, que convergiram para realização de propósitos e planos. Acreditam que viver não basta e que é necessário que se consiga deixar marcas de sucesso e realização, pois é isso que vai trazer felicidade.   Os contextos sociais, as sociedades em geral incentivam esses desejos, essa despersonalização, e de geração em geração criam o que é considerado sinônimo de felicidade e realização. No século XX, em sua primeira metade, valorizava-se ser feliz, encontrar o par romântico, formar família. O romantismo era considerado. A II Guerra Mundial corrói essa proposta, substituindo o romantismo pelo “cresça e apareça”, é o self-made man (lembrando que das mulheres não se exigia isso, estavam sombreadas pelo chefe de família). O utilitarismo e eficiência eram louvados. Na segunda me...

Controle

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       Controlar é a maneira pela qual se considera ter todos os pontos fracos resolvidos e os pontos fortes aumentados. Equivale a construir membranas protetoras. Esse tipo de proteção é também uma forma de isolamento. Saber o que é protegido leva à apreensão dos processos de isolamento estruturados pelo indivíduo.   Diante do medo, da omissão, da impotência em conviver com desafios se busca portos seguros onde ancorar desejos e propósitos. Nesse sentido, a judicialização do que ocorre é uma forma de controle dos imprevistos. Essa atitude é precária, pois sociedades mudam as leis periodicamente, os decretos e medidas provisórias são inesperadas ou imprevistas. Nesse sentido, contar com o certo é apostar no errado, é um apoio que falha. Diante do imprevisto, do indefinido se busca também redes de proteção: amigos e familiares. Essas redes frequentemente falham, não são consistentes, pois estão circundadas de ações imprevisíveis, de flutuações. Contar con...