Vida entre parênteses
Frequentemente, por não aceitação de si, do que acontece e do outro, os indivíduos constroem “castelos de ilusões”, cercadinhos protetores e isoladores. Criar o pequeno mundo, o espaço onde se é soberano e onde tudo pode ser decidido, evitado ou aceito é um dos processos de coisificação, de se transformar em objeto, receptáculo dos próprios medos e anseios.
O autorreferenciamento tensiona tanto, que novas familiaridades como se fossem totens resultam dessa pontualização, desse colapso existencial. Deixar de movimentar-se conforme o que acontece, seja como tese ou como antítese do que ocorre – o que seria o ideal – confina e esclerosa possibilidades, isola o indivíduo, pois ele está colapsado. Estar dividido, viver em função de manter compromissos que salvam e alienam, que surgem do medo e da culpa é uma maneira de ser impermeável ao novo, ao que ocorre, à vida. Ideias e programas o situam enquanto a priori, pedras construtoras de isolamento são utilizadas. Quando o cerco protetor está acabado começa a vender projetos de colonização, também de habitação e sobrevivência. Essa busca de normalidade engana, pois oferece segurança e certeza, se constituindo, assim, em uma armadilha. É como se fossem pássaros livres, mas de voo curto e raso, à espera de salvadores ou captores.
Ser, parecer normal e atraente é agora o que se quer. Aparentar é enganar, mas é também a única forma de sobreviver, de manter o mínimo de capilaridade, de caminho para tráfego de recursos danificados. Pactos ou acertos de união sobrevivem e tudo resolvem, já que mantêm compromissos. Essa manutenção é desesperada, pois não existe mais o que manter, salvo o prospecto do elixir salvador, o mapa da mina não existente. Vender o próprio vazio, medo, impotência, desejo e frustração é uma maneira de arregimentar simulacros. A imitação situa e representa ao captar vazios, regras e propósitos. Esse processo, a vida entre parênteses, é o passo mágico coreografado pela renúncia, pela não aceitação de si, dos próprios limites e possibilidades. Como bolhas de sabão esses seres fictícios existem, ocupam lugar no espaço, confundem e significam, até que questionamentos e impasses os comprimam, resgatando suas capas protetoras, quebrando os parênteses que os isolam do outro, do mundo.
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