Adiamento

Tudo que resulta de uma meta - expectativa do futuro - gera ansiedade que só é detida, só é diminuída, pela constatação da impotência diante dos limites impeditivos da realização de desejos, da realização de necessidades. Aceitar a impotência é abranger os limites responsáveis pelos adiamentos, pela não realização.

Esperar que aconteça o que se quer ou o que é necessário acontecer, é uma situação que cria ansiedade e impotência. Frequentemente a saída é também o fechamento, o impedimento, ou seja, se usa a impotência, o estar limitado, o não ter condição, como maneira de ampliar espaços para conviver com frustrações e adiamentos; quando isto é feito surge a divisão entre conveniências (manutenção) e inconveniências (desistência). Estas divisões que ampliam espaço são, na continuidade, fragmentadoras. A quebra dos limites por divisão - pulverização dos mesmos - reduz artificialmente as expectativas e consequentemente as frustrações, ao direcionar atitudes e motivações para constatação de resultados. Dedicado a coletar dados e informações, sintomas e sinais que esclarecem sobre possibilidades e impossibilidades, o indivíduo procura acompanhar seus processos. Acompanhar é presentificador, mas também, por transformar o presente em anexo, em algo a ser acompanhado, cria defasagens geradoras de expectativas, suportes de adiamentos.

Esperança, ajuda, compreensão constroem turbilhões onde se instalam desespero, desamparo e não entendimento. Aderências são sempre responsáveis por sinalizações alienadoras. Esperar o resultado de um projeto, de um empreendimento, é se retirar dos mesmos ao polarizá-los em função das próprias demandas e apreensões. Aguardar a mudança, a eliminação do que fragmenta, é uma forma de neutralizar vontades, neutralizar a determinação própria em função do que é necessário; este adiar de esclarecimentos e constatações passa a ser um contexto de manutenção, um posicionamento criador de estabilidade, de entendimento, de frustração e vazio. Divisões infelicitam, pois transformam o presente em ponto de apoio, em circunstâncias amenizadoras das frustrações adiadas.




- “Meus Tempos de Ansiedade”, de Scott Stossel

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