Papéis sociais - mudança de comportamento



As sociedades em seus desenvolvimentos geralmente estabelecem regras e padrões. Esses modelos sociais são datados. Tempo de validade também existe para eles, desde que os questionamentos individuais, as estruturas econômicas, as vivências relacionais e psicológicas tudo definem e subvertem. São as transformações, as adaptações, as mudanças que aparecem, continuam ou são interrompidas. Vinte cinco anos - parâmetro geracional - é uma medida desses pontos de ebulição, de transformação. Exepcionalmente, fatores aparentemente abruptos também são determinantes de épocas, também são marcos. O pós-guerra (1945) é um deles. A morte de muitos homens na guerra levou outras realidades aos lares: de mãe e esposa a mulher foi transformada em provedora, modificando, assim, toda a estrutura relacional com seus filhos: dos lullabies (canções de ninar) às histórias contadas pelos audios, até os contatos no caminho da escola, agora substituído pelos acompanhantes e condutores escolares.

Vinte cinco anos depois, não só a maternidade, também o conceito de paternidade é transformado. Ser pai, agora, é trocar fraldas, fazer mingau, acompanhar boletins escolares, enfim, dividir essas mesmas tarefas com a companheira que já divide o pagamento das contas e o provimento da casa, que já dirige automóveis etc. As mudanças dos papéis sociais que se refletem na maternidade, na paternidade, vão também construíndo e significando novas dimensões para o homem e para a mulher.

A aceitação destes redimensionamentos cria compatibilidades, tanto quanto incompatibilidades. Também produzem resíduos que podem ser atritos, impedindo circulações harmônicas, velocidade condizente com as novas manivelas operadoras, com as novas configurações e demandas. O entrave do sistema cria impasses. Maiores conflitos surgem e às vezes o “pai amoroso” que troca fraldas é o mesmo que esconde o autoritarismo, cobrando direitos, o homem dono do poder. Também não é difícil encontrar as “garotas mimadas”, agora perdidas, soterradas pela quantidade de afazeres, reclamando de como foram enganadas: “não foi para isto que me casei”.

Os papéis sociais podem ser integrados e quando tal acontece tudo é harmônico, salutar, bem diferente de quando vivenciados como aderência, como anexo, imagens, papéis que cobram retribuições, que querem garantir sistemas, filhos e evitar fracassos.

Cada vez é mais necessário perceber o que é estar integrado às vivências e o que é usado como relações instrumentalizadas para aplacar necessidades e realizar demandas contingentes ou suprir insegurança e manter garantias.



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