Limitações




Por que é mais fácil se deixar explorar do que reagir à exploração?

Por que é melhor se submeter ao companheiro que espanca do que o abandonar?

Por que é melhor silenciar diante de abuso sexual, físico ou econômico do que denunciar?

Por que é mais fácil procurar um médico do que um psicólogo?

Por que é mais fácil dizer que o problema é do outro do que de si mesmo?

Por que é mais fácil esperar que as coisas se resolvam do que enfrentá-las?

Por causa do medo - omissão -, da esperança que Deus ajude; por causa das capitalizações, das conveniências e deslocamento, enfim, por causa das necessidades não satisfeitas, desde fome, sono, sexo até o emprego que não vem, o indivíduo precisa sobreviver. Nessa dinâmica ele é apenas o animal mais desenvolvido, e segue a manada, segue o rebanho. Busca sobreviver, cumprir as ordens que seus mestres, seus patrões, seus protetores ditam e organizam.

Humanidade sobrevivente é por definição não humana, é um conjunto de máquinas e animais bem treinados para seguir regras.

Transpor limites, mudar regras, conseguir autonomia é o que se constitui na estruturação de individualidade, disponibilidade e bem-estar no mundo. Essa felicidade, cada vez mais distante e inacessível, não povoa o mundo da sobrevivência. Sobrevivência é a nova forma de escravidão e aprisionamento que o ser humano sofre. Basta pensar, por exemplo, no tráfico de drogas, de mulheres africanas, latinas e asiáticas agenciadas para exercer prostituição no Primeiro Mundo; basta pensar nos recolhedores de mão de obra escrava na Índia e todo o Sudeste Asiático para trabalhar em empresas.

Os processos de sobrevivência estão criando os subumanos. Essas contingências precisam ser quebradas, o estouro das manadas precisa ocorrer, só que dificilmente pedras e estampidos se produzem nessa ordem mantida para garantir hegemonia e lucro nesse mercado de escravos.

É mais fácil buscar o denso, o que aplaca a fome, o frio, o sono, o desejo, do que perceber e transformar os processos que os eternizam. A mudança é a apreensão da sutileza das contradições, só assim se realizam as transformações.

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