Percepção do Outro - o outro percebido como ameaça II

 




Frequentemente o outro, o que está fora das esferas familiares, das esferas conhecidas e consideradas social, cultural e economicamente iguais, é percebido como diferente. Ser diferente é não possuir pontos de congruência, consequentemente de compatibilidade. Abismos educacionais, o não haver linguagem em comum, enfim, inúmeras situações fazem com que se exclua, rejeite e estabeleça restrições. Assim fazendo, uma multidão de estranhos é criada. Tudo pode ameaçar. O fazer parte de outra ordem econômico-social ameaça. Os ricos se sentem ameaçados, os pobres também. O diferente é sempre suspeito. Faltam padrões comparativos. A busca desse padrão gera a tentativa de estabelecer confiança entre os que processam a mesma fé, como por exemplo os da mesma religião ou os torcedores do mesmo clube; são fatores aglutinantes que geram familiaridade. O ser adepto de uma mesma coisa diminui a ameaça. Entre as famílias, e também entre bandidos, isso é verdade. Busca-se o apoio do sobrenome, assim como se confia no fazer parte da mesma facção criminosa.

Perceber o outro como ameaçador é um deslocamento dos próprios critérios autorreferenciados. Uma das maneiras preconizadas para lidar com o que ameaça é se proteger com direitos, legalidades ou com violência. Ter armas para subjugar e leis para resolver são formas de se sentir protegido. Quanto maior a necessidade de proteção, maior a vivência de estar à mercê do inesperado, do inevitável. Criar guetos, formar grupos, judicializar tudo, revertendo situações nos próprios objetivos e vantagens, é um jeito de negar e evitar o outro. O outro como ameaça é sempre a percepção do considerado diferente, não familiar, que tanto pode ser o poderoso que tudo consegue ou o pobre que tudo pode destruir ou roubar, são considerações autorreferenciadas, preconceituosas que tonalizam dificultando ou impedindo relacionamentos.

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