Contabilização de infelicidades



Não ter alcançado os objetivos determinados pelos desejos cria frustrações. Como se lida com essas frustrações irá configurar a vítima, o invejoso e principalmente o oprimido. Não conseguir vitórias e destaques sociais impõe, quando não se aceita esses resultados, constante verificação de resultado. Diariamente se avalia e verifica os degraus que podem possibilitar sucesso. Conhecer pessoas influentes, ficar do "lado bom da corrente" torna-se atitude cotidiana e é entendido como buscar oportunidades e caminhos para o sucesso. Ter o que os outros conseguem é a meta, a medida que tudo avalia. Não se discute mérito, capacidade, apenas se inveja, se percebe situações como o que não se tem. Desde os amores não realizados, até a proeminência empresarial, o que se revela e avalia não corresponde às ambições e segue a luta pelo direito de conseguir. Sente-se merecedor pelo simples fato de não ter. Tudo é visto como o que deve e precisa ser alcançado. Nessa loucura desvairada de comportamentos frustrados e desejos, qualquer coisa é caminho, o importante é conseguir. Se a saída buscada é a plateia, tudo se faz pela veneração, caso se busque o acesso ao transcendente, transformar-se em pastor, em religioso é o que se propõe, mas, se só nas academias científicas e literárias os sonhos podem ser realizados, se amealha currículos e contatos decisivos. É o direito de vencer que se delineia, é o esforço que tudo valida. Mais um oprimido, mais uma prepotência, mais uma exigência que se instala e assim continua a luta pelo melhor, que é considerado o devido a si mesmo. Sanear essas ganâncias, essas invejas, é o que se propõe a psicoterapia e também a orientação vocacional por meio de questionamentos neutralizadores de complexos de inferioridade, não aceitações, verdadeiras escadas para os precipícios da usura, da prepotência, do populismo e religiosidade cooptada pela satisfação das próprias necessidades.

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