Rótulos
Rótulos são fundamentais para classificar, organizar e destacar. São a maneira pela qual se separa, e em certo sentido se identifica. Desde substâncias químicas em um laboratório até mudas de plantas em uma loja, rótulos são indispensáveis.
Rotular é sempre útil quando se quer organizar objetos principalmente. Essa ação útil é transformada em nociva e preconceituosa quando aplicada a pessoas, comportamentos e atitudes, desde que pessoas não são objetos, assim como comportamentos não são substâncias ou produtos catalogáveis.
A dinâmica do estar no mundo submetida a uma infinidade de motivações e contextos não é passível de encaixes, de delimitação e coagulação do ser humano em rótulos. Entretanto é o que frequentemente se faz. As pessoas são rotuladas segundo vários aspectos que se tornam pregnantes em função de atmosferas sociais e econômicas. Alguns dos rótulos mais encontradiços se referem exatamente aos aspectos sócio econômicos, e dentro desse horizonte se é etiquetado como pobre, remediado, em ascensão ou rico. As características físicas, étnicas têm sido igualmente etiquetadas e elas são assinaladas como boas, positivas ou negativas. A rotulação atinge outras esferas comportamentais ao se apoiar em aspectos considerados válidos de observar, tais como: atitudes, índoles, propósitos e ambição. Surgem, em decorrência disso, os fracos, os fortes, os bem ou mal situados. Tudo é medido e avaliado.
Esse processo de rotulação é mais uma maneira de lidar com o humano como se ele fosse um produto. As considerações econômicas, o sentido de vantagem e desvantagem tudo invade, e assim temos os bons, os maus, os que estão dentro do sistema e produzem, e os que o atravessam: os marginais, os bandidos.
Rotular um ser humano, uma dinâmica, é uma desesperada atitude de transformar tudo em rebanho, em massa amorfa, desde que despersonalizada, que segue ou foge de algum sinal: um apito, uma buzina, um grito, ordens ou silvos amedrontadores. Quando se rotula objetos e substâncias se individualiza produtos com suas características. Quando se rotula pessoas, quando se rotula dinâmicas se destrói individualidades, características singulares que identificam o ser humano. Transformar o que é dinâmico em estático só é possível quando se freiam processos em função de resultados. É assim que a desumanização se instala. Esse processo começa nas famílias ao rotular, por exemplo, o filho mais obediente, o mais capaz, o preguiçoso, e continua até as atmosferas gerais da sociedade: o rico, o pobre, o capaz, o incapaz, o venal, o honesto.
De todo esse processo mecanizador, despersonalizador, o que mais espanta é a força do grupo, das comunidades guiadas por afinidades, ou seja, por rótulos. As adesões, as compatibilidades são exercidas e processadas por meio de sinalizantes arbitrários nos grupos ou comunidades. Famílias, escolas, igrejas, partidos, empresas, se definem por esses agrupamentos. Quanto maior a semelhança, maior a igualdade entre seus membros, melhor o entendimento, maior a unidade para obedecer comandos, para produzir, para comunicar e eternizar mesmice, pois sua dinâmica não tem contradição, não há mudança e assim as classificações são mantidas.
Aumentar e manter o sistema de rótulos, de classificação é destruir possibilidades. Equivale a cortar, “jogar fora o que não cabe na forma”. A sobra é sempre um excesso que é visto como resíduo. Esse paradoxo – excesso residual – desnorteia, e assim, ao criar os desiguais, os marginais, obriga a novas classificações, mas que pouco significam pois são representações englobadas e organizadas por políticas públicas e ação saneadora das famílias, grupos e escolas.
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