Autarquia é autossuficiência
Outro dia, relendo os estoicos, reencontrei a palavra autarquia. Autarquia é autossuficiência desenvolvida como autonomia, independentemente das circunstâncias. Assim como acontece com os objetos, as palavras também mudam, adquirem novos significados a depender dos contextos que as situam e reproduzem. A palavra autarquia, antes estruturada e referida na esfera individual, institucionalizou-se como instância coletiva, pública. Essa mudança começou com Aristóteles em seu livro A Política quando ele fala de autarkeia para caracterizar a autossuficiência da polis – da cidade – e do homem feliz. Ele afirma que autarkeia é necessária para a constituição da polis. Trata-se do conjunto de cidadãos felizes e autônomos que podiam constituir a polis.
Acontece que o todo não é a soma das partes. Falar em cidadãos felizes, autônomos e autossuficientes como elementos formadores de uma cidade, que seria, assim, também autônoma, autossuficiente e feliz, é agrupá-los para um objetivo que não se refere mais à individualidade autônoma e autossuficiente, mas, ao objetivo comum à coletividade. Consequentemente, os indivíduos são destituídos de sua autonomia, autarkeia, autarquia. O interessante é assinalar as transformações sofridas pelas diversas contextualizações, ao ponto que jamais, hoje em dia, a palavra autarquia seria relacionada com a palavra autossuficiência, se pensássemos em autonomia individual.
O que acontece com palavras, hábitos, roupas e comportamentos sociais acontece também com as pessoas. É o Zeitgeist, é a moda, são as diversas maneiras de perceber a si, ao outro e ao mundo. A única constante é estar no mundo, o ser enquanto possibilidade de relacionamento: aberto, fechado, parcializado, autônomo, feliz, infeliz.
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