Postagens

Instabilidade

Imagem
    Instabilidade é uma consequência do movimento, desde que é ele que permite considera-la, vivenciá-la ou até mesmo questioná-la. No contexto do movimento, a instabilidade é constante. Quando determinamos estabilização nos posicionamos e ao fazer isso criamos antíteses criadoras de instabilidade.   Geralmente vivenciamos a instabilidade como realização da possibilidade de superação. Estamos falando daquele momento quando pensamos: “enfim cheguei”. É o que se atinge, é a segurança. Quando atingir é assim percebido e configurado surgem avaliações, medos, desejos e ansiedade. Essas vivências geram instabilidade, levando à desestruturação, ao medo de perder o adquirido, à necessidade de organizar ameaças. São certezas e ameaças que funcionam como terremotos que desestabilizam e criam inquietações. Nesse contexto, inquietação é exatamente o que se denomina instabilidade.   A falta de certeza quanto à continuidade, o medo de perder é a insta...

Comprometimentos

Imagem
    Neste mundo, nesta sociedade pragmática e utilitária, viver sem objetivos e sonhos, sem buscar a realização de desejos é um despropósito.   Não ter propósitos e objetivos caracteriza os desocupados, os deprimidos ou os que não sabem para que viver. Aparentemente essa é uma afirmação perfeita, objetiva e esclarecedora. À primeira vista é a afirmação do óbvio e o que se pode dizer ou criticar é que a realização de desejos pertence à esfera dos sonhos e nesse sentido foge aos padrões pragmáticos. Olhando de novo e nos detendo nas implicações, percebemos que no contexto dessa afirmação, viver não basta, não é suficiente, é preciso algo que o justifique. A busca de justificativa para o óbvio e pregnante é o início da desvalorização do humano, e, então, não basta viver, é necessário funcionar e realizar objetivos e vantagens úteis, edificantes e significativas.   Essa ideia cria os céus, os deuses e também os poderes terrenos, tais como: glória, fama, suces...

O enigma do cotidiano

Imagem
    Quando tudo é entendido como dinâmica e energia não se sabe se o que acontece está apenas acontecendo, não se sabe o antes e o depois, pois não há continuidade. Para estar no mundo com o outro enquanto possibilidade relacional não é necessário arrumar e organizar para se situar, e isso é bem diferente das realizações necessárias e contingentes dos próprios desejos e necessidades.   Incerteza é o não saber. Quando o não saber é vivenciado como algo diferente de uma constatação, ele se torna incerteza. Não saber é uma certeza, mas se é continuado enquanto verificação e dúvida transforma-se em um problema. Qualquer situação que não se esgote em si mesma, que continue, encontra outros contextos de referência, de relacionamentos, e passa, desse modo, a ser uma nova situação na qual nada está definido enquanto propósitos anteriores estruturantes.   Confiar no que se acredita estrutura certezas. Vivenciar essas certezas cria continuidades,...

Mentira é a tessitura do terror

Imagem
  Enganar é sonegar, esconder fatos e negar evidências. Forjar situações é o mecanismo que constitui a manipulação do outro. Essa atitude é muito frequente quando se tem por objetivo congregar votos ou opiniões para valorizar e aprovar os próprios projetos. A vida política é um exemplo diário disso. O que assistimos nos jornais, sites , lives e TVs também são comportamentos típicos, pois eles são porta-vozes do poder econômico e político. Arregimentam opinião.   O engano na vida pública já se sabe e é mais fácil questionar, discutir, esclarecer, apesar dos vários grupos e forças antagônicas confundirem propósitos e constatações. A situação fica mais grave quando é restrita à esfera familiar, ou ainda, aos relacionamentos conjugais. Enganar, nesse contexto, é destruir confiança, é transformar mentira em verdade, ilícito em lícito. A sonegação constante da realidade é um abuso inominável. Inventa-se, constrói-se mentiras, criam-se enganos para manter perversidades, cupi...

Insegurança

Imagem
  Sentir-se inseguro é sentir-se mal apoiado, e a questão principal não é ser inseguro, é o precisar de apoio. Usar pessoas ou situações como apoio é transformar o outro em objeto, tanto quanto antropomorfizar objetos e situações, tais como dinheiro, conhecimento, beleza e comunidades para proveito próprio. O inseguro quer ser aceito e para isso utiliza inúmeros artifícios e camuflagens. A mais nefasta é a utilização do grupo, da bandeira de luta que a todos abriga, para ancorar suposta individualidade. O inseguro vive dominado por frustrações e desejos, sua ideia fixa é conseguir, é significar e ser considerado. Daí surge o clássico: “sabe com quem está falando? Sabe o nome do meu pai?” Ou ainda “você está me discriminando por achar que eu sou daquele grupo” , enfim, mesmo quando o inseguro critica ou reivindica, ele lança mão de instrumentos de apoio. Geralmente não se diz: “sou ser humano” . É mais comum ouvirmos: “faço parte do grupo das mulheres, sou ...

Arrependimento

Imagem
  Ter seguido a corrente, ter mantido a linha ou não ter seguido a corrente, não ter mantido a linha, enfim, ter se conduzido de acordo com a própria motivação ou de acordo com a dos outros sempre pode causar arrependimentos.   Tudo que é avaliado possibilita arrependimento. Quando se mede, se compara, se desvitaliza e assim o qualitativo passa a ser quantificado. Essa transformação despersonaliza, pois só é realizada através da negação das próprias vivências. Quando existe vivência de qualquer situação não existe medida nem comparação. A vivência é o presente absoluto, não tem contingência demarcatória. É o viver, o querer, o fazer, é reagir ao que está diante de si enquanto o que está diante de si. Não se compara, nem cogita, não há prolongamentos para antes, nem para depois, não tem margem para arrependimento quando se está inteiro na vivência. Quando há escolha, cogitação e comparação surge a possibilidade de arrependimentos, tais como o de não te...

Olhar de Medusa

Imagem
Medusa - anônimo, séc.XVI, Galleria degli Uffizi (domínio público)     O ódio, a raiva, a revolta de não ser tudo o que gostaria de ser, de não ter o que os outros têm estabelece vivências de inveja. Essa atitude, essa vivência cria inúmeros estereótipos: é frequente desvalorizar o que o outro tem e que ele/a não tem acesso, é também comum roubar o que deseja e considera como direito seu. A inveja é um grande fator de despersonalização, pois o invejoso/a sempre quer ser ou ter o invejado.   Tudo é passível de inveja e pode levar a possuir um séquito de imitadores que procuram estar bem vestidos, bonitos, belas, pois os que cobiçam acreditam que fazendo o que o seu ídolo faz começariam a se assemelhar a eles, que são os que sabem realizar essa façanha de ser o idolatrado. A inveja conduz à ganância, assim como é estruturante de despersonalização resultante da não aceitação de si mesmo.   Querer o mundo do amigo é uma maneira de realizar o desejo de ser amig...

O medo

Imagem
  Não fazer nada, ficar quieto e calado, não se definir, manter a boca fechada, o olhar parado e os gestos contidos é amordaçamento. É não crescer, não participar e se omitir – é o medo. Essa vivência transforma o indivíduo em um receptáculo, uma coisa que recebe tudo que nele é jogado pelo outro. A continuidade desse processo gera inércia, apatia e submissão. É a subordinação resultante da falta de autonomia, de estar à mercê do que vai ocorrer.   Quanto menos ação ou movimento, menos problemas, mais tranquilidade, e também menos vida. A extinção diária das possibilidades relacionais cria sonâmbulos, mortos vivos considerados pelo outro nas suas necessidades de sobrevivência: casa, abrigo, proteção e alimento. É o sobrevivente restrito ao seu território ou com denodo lutando por ele. O medroso, o omisso age, atua, mas sempre no círculo demarcado de sua segurança e garantia. Ter medo é ter apoio e assim construir fortalezas e diques responsáveis por ac...

Oásis no deserto da impotência

Imagem
      Sentir-se culpado/a e responsável pelo que aconteceu ou pelo que não aconteceu é frequente quando não se aceita a própria realidade, e exatamente por isso conceituamos a culpa como o que esconde, o que tampa a impotência. Esse conceito é diferente da ideia psicanalítica que considera a culpa um dos mecanismos de defesa do Ego, uma explicação que caracteriza a expressão do Superego como exigente de renúncia a satisfações pulsionais, pois para Freud a culpa é sempre um sentimento que surge do conflito entre os desejos e a parte do Eu que os reprime. Lacan, por sua vez, acha que a culpa é uma construção social, não um sentimento pessoal.   A culpa é sempre um recurso para salvar postulados éticos ou alianças estabelecidas e negadas. A mãe que deseja a morte do filho, por exemplo, pois não aguenta mais continuar sem dormir é um caso extremo, e por isso não muito frequente, de vivências de culpa. Sentir-se culpado é esconder, tampar impotência e incapacida...

Onipotência resultante de impotência

Imagem
    Achar que pode solucionar qualquer situação de dificuldade, ter certeza que sempre resolverá problemas são exemplos estruturadores de onipotência. O onipotente é aquele que cai em uma cilada: está no fundo do poço, totalmente impotente, mas se agarra em objetivos, desejos e metas e a partir dos mesmos estabelece seus programas vencedores. A onipotência é construída pelas constantes vivências de impotência, ela é um deslocamento da impotência não aceita. Continuando incapaz, se sentindo fraco e sem condições o indivíduo estabelece programas, objetivos, e para eles caminha. Essa luta contínua obceca, ofusca. Ele só percebe os caminhos, os pontos a superar, o que tem que ser adquirido. Quanto mais amealha, mais se sente capaz. É o colecionador de suportes, de títulos, de ajuda, de orientações e aplausos. Pensa que basta unir os pontos do que deseja alcançar, e tudo será seu. Sua atitude onipotente é, assim, um contínuo superar de incapacidades, dificuldades e impotência. ...