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Nada pode falhar

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      Quando a vivência do presente, do encontro, dos problemas é realizada por meio de filtros, dos objetivos e desejos, tudo conflui para ser considerado bom ou ruim. O que vai somar, o que vai diminuir, algo que multiplica, e como se divide, são vivências, são perguntas e dúvidas frequentes. Não se deter no vivenciado, estar sempre verificando o que ameaça ou o que pode acrescentar, é uma vivência redutora de possibilidades. Não se relacionar com o que está acontecendo, esperar sempre o depois redentor ou aplacador transforma o dia a dia em uma espera de certezas. Ser julgado positivo ou negativo vai acontecer a depender do que se faça ou do que não se faça. A vida, as expectativas, a inquietação, a ansiedade, o medo, são subprodutos que emergem e consequentemente esvaziam os encontros, as vivências e as constatações.   A explicitação da revolta, do medo de perder, a torcida para ganhar e conquistar destrói o cotidiano. Nada acontece como acontece. Tudo tem que ser referenciad

Conquistas e arbitrariedades

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    Apoiado no que precisa ser conseguido, no que precisa ser realizado, o indivíduo passa a verificar os acertos ou erros de seus comportamentos. Essa busca de concordância é aniquiladora, tanto quanto vivificadora. Saber-se criticado e advertido de erros e fracassos é vivenciado como ajuda, como orientação. A sideração em torno dos objetivos é tão intensa que pouco significa constatar fracassos ou comprovar erros. Vive-se para conseguir. Para isso basta saber se pode apoiar o pé para o pulo, ou o braço para não cair. Saber com o que se conta, é o que importa. Sempre regulado por palmas ou vaias, a busca de constatar resultados, de verificar likes é constante. As ações se voltam para os melhores resultados e consecução de metas, desconsiderando erros e falhas, e cultivando falsas amizades que viabilizem as conquistas. Viver desse modo é despersonalizador, entretanto isso não importa pois o que se objetiva é ganhar e não perder, é atingir resultados, é ser consid

Obstinação

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    Obstinação é o propósito e determinação que faz tudo ser mantido. Essa atitude provém de objetivos, de metas. É a autodeterminação comprometida com resultados. Olhando para si, olhando em volta o indivíduo constata que não pode e não quer abrir mão de seus objetivos, pois os mesmos foram estabelecidos para suprir faltas, carências. Tudo pode seguir, mas sem desistir de conseguir resultados fundamentais para manutenção da sobrevivência. É a escolha oportunista, contingenciada por medos, desejos e busca de resultados. Manter os desejos e objetivos, não importa como, é o propósito. Ao longo da vida, com o passar do tempo, essa atitude é o que sustenta, mas é também o que impede a liberdade, a abertura, a descoberta, a espontaneidade. O indivíduo obstinado é o forte, tanto quanto o fraco que só sobrevive por estar agarrado à tábua de salvação: é a insistência que permite flutuar, não afundar. Apenas isso, e assim a vida passa nessa constante realização de desejos: “que tudo dê certo e

Deter

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    Quando eu percebo o outro enquanto ele próprio, isso me detém. É o encontro. Pode ser amizade, amor, pode também ser a descoberta do maldoso, do invejoso, do esperto, do ruim, do agressor.   Para perceber o outro enquanto ele próprio é necessário ser disponível, é necessário se aceitar, é assim que o outro nos detém para o bem ou para o mal. Perceber o ouro em função de molduras classificatórias é o mais frequente atualmente. Nos é explicado o que é bom, o que é mau. Esses critérios identificadores nada satisfazem, são véus que distorcem a percepção, mas infelizmente é assim que tudo é catalogado e vivenciado. Preconceitos e regras, conhecer por experiência e vivência distorcem a percepção do outro.   O outro é o que está comigo. Essa continuidade que estrutura amizade, que estrutura amor, certezas e duvidas é o que nos detém, e essa parada permite, por mais absurdo que pareça, movimento, dinâmica. É o encontro. Ele não é engendrado, é a resultante alqu

Transformar limites

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    Transformar é a possibilidade contínua de se relacionar com os outros e consigo mesmo sem ser o centro, o ponto de referência dos processos. Para que tal aconteça é necessário aceitação dos próprios limites, das contingências processuais. Estar no mundo é vivenciar o presente, é estar disponível sem ser detido por metas ou desejos. Viver em função do futuro, viver em função de realização de desejos é aniquilador das possibilidades humanas, pois transforma o indivíduo em caçador de resultados positivos, um buscador de vitórias. Geralmente os indivíduos não se aceitam, pois seus pais ou responsáveis não se aceitavam. É o eterno ciclo que se mantém. Vive-se para ser o que não se foi ou para continuar sendo o que se é. Esse propósito, a priori , estigmatiza. O medo de se expressar é uma característica que passa a existir, pois o indivíduo não quer destoar, não quer ferir expectativas. Essa omissão, que é o compromisso com o não falhar, geralmente se constitui em

Unificação

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    Unificação é a hercúlea tarefa atual do ser humano. Questionar posicionamentos, destruir preconceitos, redescobrir possibilidades e limitações, revitalizar processos destruidores é o que se coloca quando se busca humanização.   O outro, ao ser aceito como ele é, independente do que possa oferecer de bom ou de mal, é aceito como ser humano. Frequentemente esse processo de aceitação do outro é interrompido pelos esgares de raiva, medo, onipotência, submissão e inveja, e, assim, o outro está despersonalizado, coisificado. Nesse momento, a depender dos contextos relacionais nos quais ocorrem o relacionamento, as coisas podem mudar em função dos questionamentos que se faça. Para isso é necessário que não se use o outro para os próprios objetivos e desejos. Caso isso ocorra, é aumentada as fileiras dos despersonalizados e despersonalizadores. Enfim, é pelo relacionamento que podem ocorrer mudanças ao configurar as próprias impossibilidades ou possibilidades de outro modo.  

PONTUALIZAÇÃO – poço de insegurança

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  Reduzido a massa de manobra, o indivíduo alienado e despersonalizado busca apenas o melhor encaixe. Os processos de adaptação propostos pela sociedade realizam e até propiciam e determinam esse processo de despersonalização. A massa de reivindicações é tão extensa que começa a se constituir em material passível de legislação estatal, a fim de grupos e minorias conseguirem vantagens, melhores encaixes. Essa convergência abrange todo o sistema. As comunidades, as escolas, o ensino, tudo se endereça para isso: melhoria, amplos e confortáveis encaixes. É a grande comunidade que desumaniza. Não há mais afeto, não há criatividade, desde que tudo está comprometido com o resultado viabilizador da manutenção de seu próprio sistema. As artes e ciências estão voltadas para melhorar e ampliar as condições do ajuste. Compromisso é o que tudo decide e ratifica. Contratos, acertos, acordos, conveniências, inconveniências decidem o que se faz, quando e como. É o padrão, é o algo

DIVIDIR – é o fazer de conta

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    Para haver participação é necessário haver espontaneidade. É preciso concordância, vivência junta de erros, acertos, possibilidades realizadas e impossibilidades superadas ou aceitas. Igualdade é o fundamento da participação, consequentemente não há direitos, nem deveres.   Não existindo legitimidade começam as atribuições, estabelecendo-se assim, direitos e deveres. As regras impostas criam superiores, inferiores, líderes e seguidores. Não há mais participação, o que existe é comando e obediência. Líderes e liderados, pregadores e ouvintes, gurus e seguidores, organizadores e militantes. A ordem estruturante é quebrada, dividida em função dos propósitos. Há o que manda, o que tudo entende, e o que é mandado, que tudo obedece. Dividir para governar, criar facções, grupos, pontos, polos de discussão é a regra básica para organizar o que se considera campo minado, que tem que ser conquistado e transformado. Dividir é quebrar   rigidez e impossibilidades, é também quebrar e desv

MULTIPLICAR – ir além dos próprios limites

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  Cruzar as tessituras do existente, se deter nas possibilidades e impossibilidades é a pólvora, é o fogo, é transformar o cru em cozido. Esse processo civilizatório, estruturado na operacionalidade de contraditórios, devolve ao homem o poder de ir além das contingências, de virar regra dos próprios limites. Isso é possível pela exploração do outro, pela transformação de si mesmo em objeto de lucro e troca. A alienação, por transformar-se em produto, viabiliza metas e desejos. Transformar o humano em massa de manobra é ingrediente necessário para o processo da multiplicação dos pães. É a criação de famílias, grupos, associações, empresas, partidos, religiões. Agir congruentemente é o que se exige, é o que se espera. Preencher fileiras, não destoar, capitalizar, acumular para ter base de decisões. São o iniciado, o adepto, o servil, e também o senhor, que encontramos nesses resultados, nessas aplicações eficientes. É a natureza transformada - mato, terras, chuva

DIMINUIR – liberdade e vazio

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  Tudo que existe, tudo que ocorre pode ser entendido pela dialética (tese, antítese, síntese). Suas configurações possibilitam açambarcar, globalizar existentes, universos, verdades e mentiras. Nesse sentido, após somar, se impõe diminuir. É operação matemática, é aritmética, é entendimento da quantificação, tanto quanto é possibilidade de operacionalizar fenômenos, de exercer motivações, de se comportar.   Questionar o existente gera cacifes para que se inicie outro jogo, é a possibilidade buscada quando a antítese do acúmulo se impõe.   O novo, o ainda não acumulado, o não somado, é rico, prenhe de possibilidades. Buscar esse infinito, exige atitudes demolidoras. Iconoclastas, questionadores, desbravadores surgem. O inédito, o início é tudo. É o infinito buscado, é a recriação do existente, é vácuo que tudo recebe e integra, geralmente vivenciado como infinito e disponibilidade, encontro com Deus, transcendência, ir além do próprio limite, quebrando regras, estabelecendo