Impossível
Anseios absurdos nos quais se admite que só o impossível satisfaz é uma característica da atitude onipotente. Lembro da peça de Camus, descrevendo Calígula e seu querer a lua, o impossível que o deixaria feliz.
Não aceitação da realidade, de seus limites e possibilidades é o que, pelo desejo e pelo medo estrutura a onipotência, que nada mais é que um deslocamento da impotência. Chega-se assim a não se admitir os próprios fracassos, dificuldades e medos.
Ao criar o mundo onipotente, se criam pontos que são obstáculos e também pontes solucionadoras. É um artifício complicado, pois envolve inúmeras variáveis. Tudo pode acontecer, desde que tais e tais coisas sejam escolhidas, sejam salvas. Realizar acordos e acertos, vivenciar novos projetos, uma vez que acordos e experiências anteriores sejam mantidas, é uma maneira de explicar os desejos e pactos onipotentes. É um quase ser rei, reinar sem súditos, ou esperar ter súditos mesmo quando não reina. É o imponderável, um estranho acerto feito para diminuir culpa e medo. É mais do mesmo se lembrarmos que a culpa é a tampa da impotência, e ainda, que o medo é omissão.
O processo de pontualização da existência é significado pela utilização de alguém ou de alguma situação supostamente dinamizadora. Acontece que decorrente de unilateralizações, pontualizações, as participações são supostas, pois os problemas de autorreferenciamento impermeabilizam. É a própria onipotência gerada pela impotência não aceita, pelo vazio camuflado. Figuradamente é um balão cheio de ilusões.
Por mais inacreditável que pareça, essas vivências do impossível, esse desejo de querer a lua, são frequentemente encontrados na clínica psicoterápica. É no decorrer do processo terapêutico que o indivíduo percebe sua impotência, seu medo e vivência de fracasso e que elas se resolvem pela vida, pelo que acontece, abrindo mão de quimeras, ilusões e uso dos outros como se fossem balões de oxigênio constantemente utilizados para suprir o ar, a vida que significa e mantém.
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