Ganância consentida

Skinner, criador do Condicionamento Operante (Operant Conditioning), dizia: “não tente se modificar, modifique seu ambiente”. Aparentemente esta ideia - um dos pilares da cultura norte americana - valida e incentiva o desbravamento, a modificação de tudo que atrapalha, motivando para o confronto e realização social, sendo um dos lemas do self-made man, do indivíduo socialmente realizado.

Ao se atribuir condição imutável e perfeita, achando que o passível de mudança é o ambiente, o outro, o além de si, alicerça-se autorreferenciamento, metas, medos e ganâncias. É um engano pensar que realização resulta de impôr-se sobre o ambiente, de controlá-lo e adequá-lo aos próprios interesses e objetivos empreendedores. O empreendedorismo não pode ser um propósito, ele deve surgir do constante diálogo, do questionamento entre o indivíduo e o mundo. Só é possível enfrentar e mudar o mundo, quando há questionamento.

O Condicionamento Operante - seus desdobramentos e alicerces sociais - motivou toda uma sociedade, agora um continente, a esquecer do “conhece-te a ti mesmo” socrático, um caminho lapidar de realização, que permite modificações transformadoras. É fundamental se questionar, se modificar, para que se consiga mudar o entorno através de um processo de constante diálogo, crítica e apreensão de contradições.

Os processos de mudança do ambiente ou do indíviduo não são hierarquizáveis. Não se trata de saber quem primeiro muda, se o indivíduo muda o mundo ou é por ele mudado, mas, se tivéssemos de estabelecer condições prévias, seria necessário conhecer a contradição, ver como se lida com ela, o que ela significa e como vai instaurar processos de mudança.

Uma das principais condições da atitude pragmática é manter a imobilidade, os posicionamentos adquiridos e assim fazendo, se mantêm ganhos e se desloca para mais metas. Manter o conseguido é o que garante o pragmatismo da vitória, permitindo outros acúmulos, ganhos e modificação dos entraves aos próprios objetivos. É a guerra contínua pela busca do sucesso, pelo uso do outro, pelo exercício de desejos, medos, dificuldades e inadequações.


















- “Walden II - Uma Sociedade do Futuro” de B. F. Skinner
- “Trabalho, Lar e Botequim” de Sidney Chalhoub


verafelicidade@gmail.com


Comentários

  1. Colega, seu texto reflete um profundo desconhecimento da obra de Skinner. Sugiro ler mais um pouco.

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  2. Bonitas palavras. Pena que não fazem o mínimo sentido e reproduz muitos equívocos sobre a obra skinneriana. Lamentável!

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  3. Anonymous, Skinner é isto, as implicações de seu pensamento são estas; leia-o, assim como História da Psicologia. Ciência não se faz com palavras bonitas ou feias, mas sim, com reflexão, abordagem crítica.

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  4. Vera, compartilho da sua preocupação com as implicações históricas do pensamento Skinneriano para a Psicologia enquanto ciência e para a sociedade que é influenciada pelos conhecimentos produzidos cientificamente. Acredito também que o próprio Skinner compartilharia de nossa preocupação, a primeira sessão do Ciência e Comportamento Humano trata dessa questão (Skinner, 1953).
    O conceito de operante visto como uma hierarquização na relação do homem com o ambiente é uma interpretação errada, produzida por um olhar para uma representação linear de uma unidade de análise, que é necessária para análise cientifica, mais que não é fiel à complexidade do conceito. O homem age no mundo, modifica-o e é modificado pelas modificações que produziu. (Skinner, 1957- O comportamento Verbal)(as palavras exatas me fugiram, por isso está sem as aspas.). Quando começa o livro com essa afirmativa Skinner coloca o homem no papel de agente, mas não um agente auto suficente e independente do meio.

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  5. O empreendimento de Walden II por sua vez não é em si um propósito. Como uma utopia, se configura como uma aproximação do que o autor consideraria ideal, e uma leitura atenta mostra que o questionamento está no cerne das comunidades Walden e de toda obra Skinneriana. Há uma clara prescrição de que as práticas sejam constantemente questionadas e modificadas se não atenderem mais as necessidades do grupo e da felicidade de cada um.
    Ao contrário do que foi dito o conceito de operante e a teoria do comportamento de Skinner, que inclui sentimentos, pensamento e qualquer outro evento interno do organismo humano dentro da categoria comportamental, não contradiz a prescrição socrática do "conheci-te a ti mesmo", ao contrário, apresenta um caminho diferente para esse conhecimento.(1974) Se o homem, e seu comportamento, é constituído em três processos evolutivos (filogenetico, ontogenetico e cultural), ou como preferem outros autores e o senso comum, se o homem é bio psico social, é olhando para o homem nesses três aspectos que vamos entende-lo e, é nos olhando particularmente nesses três aspectos, que podemos nos entender enquanto indivíduo.
    O valor pragmático visto como utilitário é mais um reducionismo conceitual . O valor pragmático não tem haver necessariamente com ganhos e cumprimento de metas, mas com poder explicativo e de intervenção, nem em Walden II, nem em qualquer outro texto de Skinner o valor individual se contrapõe ao valor das relações e do grupo.

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  6. Quando falamos de uma sociedade onde quase tudo é propriedade do grupo e não individual, em que exista restrições claras em relação à diferenças hierárquicas que incluem inclusive restrições na moda e nas atividades intelectuais (não em ideais ou possibilidade de se engajar nisso, mas na quantidade de "remuneração" que isso pode gerar em relação à trabalhos manuais, e no crédito que é recebido por isso), me parece minimamente estranho q se considere que haja "guerra contínua pela busca do sucesso, pelo uso do outro, pelo exercício de desejos, medos, dificuldades e inadequações".
    Eu sinto que na comunidade da psicologia há uma tremenda defensividade, no sentido de que acabamos rechaçando as teorias "opostas" sem uma busca verdadeira por um diálogo. Isso acontece de todos os lados e acredito, sim, que a comunidade de analistas do comportamento é em grande parte responsável por esse problema (vide os comentários defensivos dos colegas anomimos a cima, sem nenhuma tentativa de esclarecimentos. "Você tá errada e pronto!" parece paralisar mais do que fazer progredir, Skinner se reviraria). Parece que estamos em consonância nas preocupações mas precisamos dialogar mais sobre os métodos para atingi-los.
    Com relação a implicação histórica do pensamento de Skinner, é injusto atribuir a cultura individualista e capitalista a um autor que em sua ética prescritiva (diga-se de passagem minoritária numa obra majoritáriamente descritiva) foi defensor de valores grupais em detrimento de valores individuais(1971) , foi crítico da sociedade de consumo (1986) e da busca desenfreada por se livrar de qualquer coisa desagradável (1971, 1986).

    Um abraço! Espero continuar o debate!

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  7. Vitor, o importante de seu comentário é exatamente quando você fala das “implicações históricas do pensamento Skinneriano para a Psicologia enquanto ciência e para a sociedade que é influenciada pelos conhecimentos produzidos cientificamente”. Existem muitas páginas escritas com críticas à abordagem de Skinner (e acredito que você as conheça), principalmente criticando a ênfase no comportamento em detrimento das atividades consideradas mentais (emoções, pensamentos etc), a ênfase na operacionalização (reforço de reações positivas), na modificação do ambiente para que se tenha vida produtiva, enfim, uma abordagem biológica, mecanicista e evolucionista (o próprio Skinner a compara com o darwinismo, o que gerou mais críticas, pois nem sempre o que é prazeroso para o indivíduo é adequado a sua sobrevivência). Você faz uma leitura revisionista de Skinner quando nega estas críticas. Quanto aos fundamentos filosóficos, desnecessário me estender aqui, o Behaviorismo Radical reforça e condiz com o Pragmatismo Americano, por sinal, é leitura básica em cursos de publicidade.

    Abraço,
    Vera

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