Dinheiro pode ser uma droga viciante

Quando se acumula qualquer coisa, principalmente dinheiro, se está acumulando o que pode significar garantia, tranquilidade, prazer ou alívio da ansiedade. Acumular dinheiro ganho pelo trabalho com o intuito de  enfrentar quaisquer vicissitudes é uma maneira de eternizar ganhos, de enfrentar perdas. Acumular dinheiro ganho ao acaso - roubos, corrupção, tráfico de ilícitos, enfim, o dinheiro que não é fruto de um trabalho legalmente sancionado - é uma maneira de estocar equivalentes de estupefacientes, de drogas que restauram imagens de poder, e que também aliviam tensão, ansiedade e desespero.

O dinheiro usurpado é como uma droga sempre necessária, mas nada valorizada. Precisa-se dele, ele precisa ser usado, mas, destruído desperdiçada e avidamente. Estes  comportamentos geraram rótulos, clichês como: “foi bebido pela bebida, cheirado pela cocaina”. A situação chega a tal dissipação, que apenas resta a droga, o vício destrói o indivíduo.

A falta de limite caracteriza o vício. Vício do dinheiro, vício da exibição, vício de dilapidar, vício do exercício da impunidade que compra ilimitados poderes. Assistimos à vulgarização de roubos, acúmulo e lavagem de quantias cada vez maiores de dinheiro, numa exibição clara dos termos do vício: quanto mais se consegue, mais se deseja, e se é capaz de qualquer ato para realização de seus objetivos.

Acumular, roubar são formas de manter poder, de negar limites, de realizar desejos e fantasias jamais questionadas. Droga e dinheiro usados para iludir-se e negar a realidade faz sentir-se poderoso; são as lentes de aumento que maximizam anões negadores da ética, negadores da convivência com os outros.


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