Conformismo e revolta

O indivíduo, ao perceber divisões, dificuldades e impedimentos, desenvolve conformismo, aplacamento ou revolta. Uma ou outra atitude depende das polarizações existentes. Quando o que causa divisões é utilizado para garantir vantagens ou conforto, a possibilidade de aplacamento é maior. Quando as peças quebradas, fragmentadas são dispersas, utilizadas como substitutos, como quebra-galho, a revolta começa a se instalar pelo atrito.

Nestas situações, concórdia e discórdia são polarizantes e dispersores. Juntar o quebrado e dele se utilizar como finalidade de ganho e bons resultados, permite ilusões de confraternização, solidariedade e acompanhamento, também gera ilusão de concordância e confiança, e as dificuldades são aplacadas, abrandadas. Por outro lado, pode ocorrer outra situação na qual a polarização do segmentado é feita criando atrito, pois a polarização faz perceber o indevido, faz perceber o excessivo. Sobram interesses, objetivos, vontades e desejos e assim mais resíduos fragmentados resultam das incoerências vivenciadas. Quando as discordâncias presidem os encontros gerados pela antítese, surgem interações responsáveis por julgamentos, tanto quanto situações nas quais impera a discordância, criando tanta incompatibilidade, tanta separação que a revolta desponta.

Muitas vezes a dedicação a causas sociais derivam mais de revoltas com ordens familiares e cobranças individuais, do que de convicções ideológicas. Dedicação às artes ou mesmo às ciências, podem resultar de busca de espaços diferentes dos vivenciados no âmbito das relações de família e não necessariamente são encontros, ou descobertas propícias a realização de aspirações. Buscas de fraternidade universal e discursos contra hipocrisia, são, nestes contextos, deslocamentos de revoltas pessoais que podem se expressar tanto nestas lutas coletivas, quanto em vícios como drogas, álcool e outros; recriando-se assim, contextos e estruturas para conformismo e revoltas sob novas formas.


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