Abrir mão

Banksy


Diante de impasses, dificuldades e medos, às vezes se abre mão de compromissos e vontades. Renunciar, abrir mão é desistência. Pode ser aceitação de impotência ou ser o deslocamento da mesma pelas atitudes onipotentes.

Quando a renúncia é vivenciada como constatação de impossibilidades, incapacidades e despropósitos, ela transforma o indivíduo em um polarizador de contradições, lançando-o assim para novos conflitos, para dilemas que permitem mudança e descobertas realizadoras.

Quando a renúncia é exercida como onipotência acontece apenas adiamento, as motivações são guardadas para tempo oportuno e assim começa a criação de um estoque de sonhos e desejos falhados nas frustrações que um dia precisam ser atualizadas.

Renúncia é caminho para estruturar autonomia, constatação de possibilidades e necessidades, tanto quanto é a maneira de estocar ódios, frustrações e desejos, para mais tarde realizá-los. O dia que não chega nunca, cobra sempre.

Ansiedade e depressão, angústia constante, fazem lembrar dos sonhos que não podem ser perdidos, que precisam ser realizados. Renúncia utilizada como drible é uma exigência de realização, de finalidade. A maneira de encarar perdas, fracassos, até mesmo a morte, encontra respaldo em atitudes religiosas, espirituais e mágicas nas quais a ideia de renúncia está presente.

Renunciar é disponibilidade, não é expectativa, não é o resgate de melhores dias ou paraísos de outras vidas. Renunciar é aceitar a impotência, a incapacidade, é abrir mão do que tem que dar certo, do querer conseguir, do não aceitar perder.

A renúncia como aceitação do limite é estruturante, é disponibilidade, não é mais o exercício de adiamento de expectativas que é apenas o faz de conta, o ganha tempo para conseguir esconder frustrações, posicionamentos e incapacidades.



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