Desvarios




Para algumas pessoas, aceitar limites é se sentir condenado à mesmice. Acham que se curvando ao que está diante delas, à sua realidade, vão ficar sem saída, apequenadas. Essa ganância, avaliação e desespero, quando vivenciadas enquanto prepotência criam os dedicados a metas, projetos e desejos que solidificam suas buscas desenfreadas. Pensam: “a única maneira de encontrar os limites do possível é buscá-lo no impossível”. Inventam, sinalizam o que é possível e impossível em função dos próprios desejos, das próprias frustrações. Querer ser rico, por exemplo, quando não se tem contexto e quando se tem ambição, meta e desejo de sê-lo, faz com que se estabeleçam as regras de tudo conquistar e para isso não há limites, pode roubar, enganar, matar, corromper, ser corrompido. O desejo de ter alguém, quando se sente sozinho, cria modus vivendi caracterizado pelos enganos, seduções e utilização do que pensa ser necessário para consecução do objetivo.

Desvios ou atalhos são considerados a menor distância a ser percorrida; inventar novas dimensões é a maneira de criar imaginários improváveis que permitam realizar, que dêem estabilidade. “Depois de percorrer todo o universo posso aceitar minha aldeia, meu pequeno mundo” costumam falar como expressão de acomodação. Não se chega a lugar nenhum, não se parte de lugar algum, pois os círculos viciosos e a roda viva vivenciados em função de realizar e aplacar ambições e ansiedade são eternos.

As vivências são cada vez mais desvairadas, todos os referenciais são perdidos, apagados e existe apenas o se manter em órbita, o dar voltas para ver se descobre a saída ou o início dos processos que comprometem, que angustiam, que alucinam e viciam. É o medo, é a compulsão, é o desespero, é a maldade transformada em alavanca para realizar as próprias ambições.

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