Cautela e ansiedade




Quando o indivíduo mantém aspirações do que deseja e que não tem, como se já estivesse acontecendo, tentando realizar essas aspirações, equivale a construir plataformas que o lançam para outra dimensão - o futuro. Esse viver irreal, desde que não presente, cria inconsistência e consequentemente provoca imensa necessidade de apoios.

Viver em função do futuro, preparando melhorias e criando condições para mantê-las é uma das atitudes geradoras de medos, ansiedade e rigidez.

Observar o que existe, o que se constitui em fracasso ou em vitória orienta o planejamento do que vai proteger, do que vai evitar ameaças. Esse planejamento consome a vida, subtrai esforço, diminui referenciais. Tudo é feito em função de sobreviver e bem viver. Automatismos são criados, tanto quanto mecanizações que só existem para possibilitar sucesso e evitar sucumbir ao medo de falhar, ao medo de não conseguir.

A vida passa, a velhice chega e a prudência, a preparação para vencer é então encontrada como sinônimo de estar superado, ultrapassado, sempre disfarçando frustração e assim a depressão se instala como uma maneira de exigir e receber olhares amenos e cuidados estabilizadores do medo e da raiva. Isso é o que resulta da meticulosa prudência exercida durante toda a vida.

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