Sacrificio

“A esfola de Marsias” (1570-1575), de Ticiano


Suportar, submeter-se é sacrificar-se.

Para entender quando se estabelece sinonímia ou igualdade entre suportar, submeter-se e sacrificar-se é necessário algo novo, é necessário perceber o contexto da motivação do sacrifício. Reduzir o processo à linearidade não justifica ou explica a submissão a X ou Y, o sacrifício é sempre exercido em função do outro ou por outra causa ou outra razão que não a expressa na linearidade.

A invasão de plano diferente gera a ideia de sacrifício que funciona como um incentivo, tipo cenoura na testa para acelerar o andar do animal! A educação dos filhos, o bom final da união matrimonial, o desejo de ser vencedor, que permite estancar o sangue da corrida constante e desenfreada, tudo isso é o sacrifício transformado no sacro-ofício que tudo realiza e justifica. Pagar o preço, ser esfolado, é o Marsias redivivo.

Essa visão trágica, sempre oriunda da ideia de pecado, deve ser abandonada quando se busca humanização e liberdade. Viver para conseguir, não importa o que se sofra, é alienador. Vida é presença, só se desenvolve no presente, nos instantes de descoberta, nos interstícios da motivação e novidade. Estabelecer finalidades, pontos a atingir, gera sacrifícios, desumaniza, despersonaliza, deprime e angustia.

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