Problemáticas humanas - questões estruturantes II


 

Na neurose, estabelecer direções cria pontualizações e, consequentemente, vitórias e derrotas nada expressam salvo resultados. 

Havendo globalização dos processos não importa onde se chega desde que se valorize o caminhar. A vivência, o estar com o outro, o estar consigo mesmo é o que permite descobrir capacidades e incapacidades, acertos e desacertos. Essa descoberta constante decorrente dos encontros, desencontros e impasses estrutura humanidade. 

Sair da sua própria realidade ao estabelecer propósitos e metas é sempre esvaziador pois não totaliza, não engloba as diversas possibilidades humanas. Ter sido dragado e engolido por uma direção, mesmo que a mais privilegiada, é anulador de possibilidades. O privilégio de hoje, de ontem ou de amanhã, é uma circunstância aderente e configuradora de valores posicionantes, não é essencial. As circunstâncias são trajetórias, não se constituem como qualitativo definidor do humano. São como pegadas de processos, marca de pés, mas não o caminho, o estar se deslocando, pisando e pisando, andando.

Ter seus caminhos traçados e estabelecidos pelos dados do que é bom, necessário e produtivo é sempre violentador, pois a principal característica desse processo é a defasagem. É um determinado a priori, um prévio que sempre aniquila todo ou parte do humano que nele se encaixa. A defasagem cria avaliação, obriga a estabelecer critérios de bom, ruim, médio, ótimo, obriga a configurar padrões e, assim, estabelecer definições, vantagens e desvantagens. São criados os parâmetros de vitória, de derrota, e consequentemente os indivíduos começam a ser negados e traduzidos por essas medidas configuradoras de validade ou fracasso. A sobrevivência, a vitória ficam então mais importantes que a vida, a harmonia, o estar-aqui-assim-com-o-outro. Esse processo neurotiza, desajusta, esfacela, problematiza. Sintomas decorrentes de insatisfação, de não aceitação começam a ser estruturados.


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