Manipulação e mentira


 

Mentir é buscar se proteger da verdade, da realidade vivenciada. Saber que o que se faz é, no mínimo, criticável e não aceito, às vezes até criminoso, faz com que algumas pessoas procurem esconder ou despistar. A mentira é o álibi perfeito buscado para confundir os outros. Esse processo de confundir outras pessoas embaralha pistas para que não se perceba o que realmente está ocorrendo. Acreditar que a mentira é uma das formas mais simples de enganar os outros é parcialização dos processos. Quando se mente, se apaga rastros, se sonega verdades, se solapa evidências, criando, assim, outras evidências, outras verdades. Mentir é destruir acesso ao que aconteceu e ao que está acontecendo. Essa alteração de fenômenos sempre satisfaz a alguém ou a alguma ordem que se empenha a manter.

As mentiras sociais e políticas, muitas vezes adiam processos históricos iminentes, outras vezes criam inclusive guerras destruidoras de nações e indivíduos. Nas famílias, nas esferas mais íntimas, mentir e omitir se confundem. É o mesmo lado da moeda. Questões de paternidade omitidas, patrimônios solapados e negados, tanto quanto as mentiras relacionadas a inúmeras responsabilidades não assumidas configuram o trágico dia a dia dos angustiados e desesperados. Nesse contexto das famílias, não saber, por exemplo, quem é o verdadeiro pai, às vezes até quem é a verdadeira mãe, é causa de muito desencanto e desespero.

Mentir é a cunhagem arbitrária de moedas, de selos de garantia, de rótulos individualizadores do que não existe. A mentira - esse apagar de traços e trajetórias - sempre escamoteia e esconde realidades. Ela é autoritária, destrói caminhos e despedaça verdades, ocultando resultados. Atualmente, as fake news, o caça likes constante dos desesperados por visibilidade criam mentiras estrondosas, irreais e frequentemente irreversíveis.

Mentir é destruir a possibilidade de descoberta, é manipular dados e assim sepultar verdades, confiança e sinceridade. O cotidiano fica sinalizado, delineado a partir do esconde-esconde, e o dia a dia é transformado em jogo de cartas marcadas. Nada existindo enquanto possibilidade, tudo cumpre a função de meios para obter resultados satisfatórios. Nada resta, salvo a manipulação.

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