Por que se acredita?

 



A crença, a confiança são estabelecidas pelo encontro, pela participação e vivência. Crença é sempre uma resultante. Entretanto, quando seres humanos se reduzem a sobreviventes desesperados, a crença e a confiança passam a existir como farol, guia e orientação, como uma maneira de suportar as consideradas agruras da vida. Tem sido assim desde as sociedades tribais, nas quais o homem precisa de alguém que lhe oriente, como os pajés, os adivinhos, os sacerdotes, até mesmo os totens e os tabus, e esse tem sido o caminho da horda. Nas sociedades complexas são implementados novos objetivos, metas e propósitos. O querer ir além, conquistar, enriquecer, ser imortal leva à busca de guias e amuletos, e ainda: leva a acreditar que a crença é o que ajuda e salva.

Superstições, religiões, ambições criam castelos e igrejas. Esse processo esvazia o exercício das possibilidades humanas, desde que confina o ser humano à busca de soluções e resultados. A própria crença, a própria fé é destruída ao se tornar extrínseca. Perder a confiança em si mesmo, na vida e no outro é a base para estabelecimento de crenças e nesse sentido o caráter confortante e solidário da religião e de instituições de apoio e ajuda estruturam alienação.

Buscar salvação e eternização é esvaziador. Não estar feliz e satisfeito por estar vivo indica sempre não aceitação da vida, e esse processo é uma problemática que deve ser equacionada e tratada ao invés de camuflada por crenças alienadoras. A ambição, a raiva e a inveja são crenças destruidoras. É o olhar para cima, jogar para diante, comparar com o que está do lado, ter raiva do que percebe, é tudo isso que desumaniza, que transforma o ser humano em um sobrevivente buscador de dias melhores.

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