"Não falhar, eis a questão"

 




"Não falhar, eis a questão" é o que muitos dizem a si mesmos após fracassos, expectativas, ajudas, esperanças e desespero (desesperança).

Depois de expectativas não realizadas, de decepções, o indivíduo pode resumir sua existência em uma lápide: não falhar. É uma lápide, pois é construída para abrigar os sonhos mortos, perdidos, encarcerando os últimos desejos. É o suspiro extremado, o que não pode deixar de acontecer.

Viver em função de resultado, principalmente de resultado salvador, faz com que se busque sorte, ajuda, bilhete premiado, mega-senas realizadoras. Essas situações preenchem significados seja pelo vestibular, pelo doutorado, pelo casamento, seja pelo bom partido, ou o acesso, a filiação ao partido vitorioso na eleição, por exemplo. É sempre um golpe de sorte, o "cavalo selado" agarrado, sempre o acaso. A sorte, o inesperado bom passa à condição de itinerário. As rotas e estradas da vida são assim sinalizadas pelo acaso.

As probabilidades neutralizam possibilidades ao detê-las em referenciais contingentes. A circunstancialização impera, consequentemente o mundo é dividido entre o que ajuda, propicia, e o que atrapalha e traz malefícios. Essas divisões arbitrárias criam terrenos e condições para preconceitos, regras destrutivas ao humano. Sobram personas, papéis, ditames e a ética, a moral são reduzidas aos jogos de poder nos quais tudo é contabilizado, mensurado em função de resultados mantenedores das ordens arbitrariamente construídas.

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