Estar consciente do que acontece



Estar consciente do que acontece só é possível quando nos detemos no que acontece, e se deter é geralmente impossibilitado pela quantidade de frustrações e desejos acondicionados que embrulham o ser humano. Esse sistema de acondicionamento e proteção é desumanizador, esconde e faz sumir humanidade. A pessoa passa a ser os invólucros protetores, os acondicionamentos e condicionantes. Assim, se torna mais importante construir casulos protetores do que exercer humanidade.

 

As vivências e suas implicações se constituem em estofo relacional. Antes e depois sempre estão presentes como continuidade do estar aqui e agora. A dinâmica exige contradição tal como a transitoriedade. O fugaz é o instante, é o lampejo que clareia, mas que impede estar consciente do que acontece, pois ilumina outras dimensões, principalmente as do resultado. O conhecimento que daí decorre não discrimina o que se consegue ou o que não se consegue, é apenas a catapulta que impele para outras áreas, passadas ou futuras. E assim, em lugar da consciência do que acontece, em lugar da lucidez surge comparação, verificação, preenchimentos desejosos de constatações futuras.

 

Essas constatações quebram a harmonia, destroem a organização do que está acontecendo, criando híbridos, quimeras, fantasias e desse modo vivenciamos medo, ansiedade, expectativas, pavor ou até torcidas extremadas para que tudo dê certo, para que tudo se realize, e consequentemente não sabemos mais o que acontece, imaginamos e fantasiamos o que pode, deve ou não deve acontecer. Ao invés da constatação do que ocorre, nos tornamos arautos, mensageiros de boas ou más novas, augúrios a evitar ou a buscar. Esse é o processo de desumanização, robotização que cria a expectativa, o medo e a esperança.

 


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