Sabedoria, Retidão e Justiça
Christine de Pizan, em seu livro “A cidade das mulheres” escrito entre 1404 e 1405, dizia que a maneira de fazer a mulher ser reconhecida e não ser desconsiderada era construindo uma cidade para elas. Nessa construção ela seria ajudada pelas musas: Sabedoria, Retidão e Justiça.
É surpreendente a visão igualitária, social e moderna de Christine de Pizan, uma mulher nascida na Idade Media, mas que ao transcender seus limites situacionais percebe o necessário para o bem viver das mulheres. Em sua visão, a Sabedoria é o conhecimento do que está em volta. Equivale a perceber todo o processo de estar no mundo com o outro, e para isso é necessário não ter a priori – preconceito – e não fazer concessões ao poder, assim como se aceitar enquanto limites e possibilidades. Christine, ao imaginar ser ajudada também pela musa Retidão, deixa claro, ao meu ver, a necessidade da aceitação, essa convivência com limites e possibilidades. Em suas reflexões ela percebe que tudo isso precisa ser regulado por outra musa, a Justiça, única maneira de não serem destruídas as mudanças conseguidas, como a imposição do papel social da mulher, que questionava o poder desmedido dos homens e suas arbitrariedades.
Em seu empenho e luta pela criação de nova realidade e reconhecimento dos problemas das mulheres como filósofas, políticas, artistas, mães e amantes, ela não acentuou a disponibilidade. Isso não foi por acaso. Em uma guerra, em uma construção de caminhos antitéticos não há como vislumbrar disponibilidade. A disponibilidade só existe quando a aceitação do que se é, se realiza. Quando essa realização é um processo - como acontece socialmente e nas participações - a disponibilidade é o resultado final dele, no qual o estar no mundo com o outro é a evidência definidora que ultrapassa contingências e limites, e assim realiza a disponibilidade de ser no mundo com o outro atualizando suas possibilidades relacionais.
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Grato por trazer esse assunto, Vera, me conduziu como que a uma genealogia do pensamento feminino, da visão feminina de mundo, percebido mas pouca vezes explicitado, menos ainda em palavras escritas. Imagino que naquele ambiente, como no de hoje, a questão da disponibilidade é possibilidade de relacionamento sufocada pelas contingências.
ResponderExcluirOi Augusto, não existe percepção, consequentemente, pensamento feminino ou masculino. Existem contextos sociais, econômicos, culturais que estabelecem essa diferença. Obrigada por comentar.
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