Transcendendo os limites dos processos adaptativos
Do ponto de vista biológico somos animais, os mais desenvolvidos da escala zoológica, mas animais. Arbitrar que a cultura, os aspectos sociais e psicológicos, a religiosidade e espiritualidade, enfim, que o processo civilizatório nos define não é suficiente para estabelecer diferenças, para nos tirar da esfera animal, da esfera de sobrevivência.
O que nos diferencia, então, dos outros animais? Por que não somos apenas animais? Por perguntar. É o questionamento, é o fato de ir além do que acontece que nos define e situa, que nos humaniza. A toda hora, todo dia, todo momento isso é feito, e também não é feito quando seguimos correntes, direções, quando agarramos respostas para sobreviver. Esse processo tanto é adaptativo quanto desumanizador. Nos torna cada vez mais adaptados e também desadaptados. A desadaptação é uma forma de adaptação, está sempre em função dos mesmos referenciais adaptadores. A adaptação é, nesse contexto, um equivalente da lei da gravitação para o universo, que é basica, é fundamental para entendermos o cosmos.
Um dos motivantes para mudar é transcender os limites dos processos adaptativos. O questionamento, a pergunta desmancha posicionamentos, desde o que sou eu, qual é o meu propósito, o que me define, o que me nega, o que me afirma, o que me contextualiza, até o que é tudo isso que está aqui e agora comigo. Perguntar enquanto questionamento é diferente de exercer contradição, de buscar diferenças. Questionar é o que resulta da percepção de contradições adaptadoras/desadaptadoras, satisfatórias/insatisfatórias. É o que faz a roda girar, é dinâmica, é movimento, é propósito, é despropósito.
Ao questionar percebemos a totalidade de interseções relacionais que nos configuram, percebemos também como essas interseções podem ser destacadas, transformadas em pontos de partida ou de chegada, e assim, mais adaptados/desadaptados, os questionamentos são gerados.
Vida é continuidade gerada e mantida pela não estagnação em posicionamentos. Ao perceber isso descartamos ilusões: não há aonde chegar, não há o que atingir, não há o que abandonar. O que existe é sempre a possibilidade de criar infinitas configurações e apreender a continuidade do que acontece.
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Será que o questionamento, do ponto de vista histórico, nasceu do estranhamento?
ResponderExcluirO monolito do filme 2001, diferenciando-se das formas orgânicas, provocando estranhamento por contraste com o meio onde viviam aqueles indivíduos, poderia ser uma boa metáfora?
Obrigado.
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ExcluirQuestionar ocorre quando se apreende as contradições não resolvidas. Isso pode causar dúvida, surpresa e até estranhamento, tudo vai depender do contexto. Se os macacos apreenderam as contradições, rsrsrs, pode ser uma boa metáfora. Obrigada!
ExcluirPensei no refletir sobre si mesmo como algo que diferencia o bicho gente dos outros bichos, também. Seria isso questionar?
ResponderExcluirOi Augusto! Questionar é colocar uma questão, atualmente e arbitrariamente, sinonimizada como pergunta. Colocar uma questão resulta necessariamente de apreender contradições do que está ocorrendo.
ExcluirRefletir sobre si mesmo pressupõe sempre um prévio, geralmente significado como consciência, e daí surge a ideia de ser diferente de outros bichos. É dualismo, metafísica.
Obrigada e abraço.
Pensei em refletir sobre si mesmo como observar o que está percebendo, o significado, sentido, as próprias contradições.
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