Akrasia - é a incoerência
Há séculos a vontade como uma força propulsora do comportamento é discutida e problematizada na filosofia, principalmente em seu aspecto de contradição, quando, apesar da existência da vontade para agir de determinada maneira, age-se da maneira oposta. São vivências corriqueiras como ter vontade de ler todos os dias, julgar e decidir que se trata de uma atividade enriquecedora, mas, não exercê-la, não ler todos os dias. Ter vontade de parar de fumar, mas, continuar fumando. São inúmeras discussões que giram em torno da relação entre saber-conhecer, vontade e ação. Afinal, por que, mesmo sabendo que algo deve ser feito, não o fazemos e agimos de uma maneira que, nós próprios, consideramos imprópria? A resposta simplória de que se trata de vontade fraca não esgota a questão. Os gregos chamavam essa atitude de akrasia (falta de domínio).
Akrasia poderia ser definida como incoerência, agir contra o que se pensa e deseja. Essa incongruência, essa incoerência, geralmente é significada, desde Aristóteles, como perda de controle, perda de virtudes, conflito de vontades. É a busca do prazer, é o não exercício da virtude, por exemplo.
Esse aspecto moral da questão chegou à atualidade como um dos problemas predominantes nas sociedades. A divisão entre querer e fazer é constante. As sensações de adiar e de falhar são cada dia mais frequentes, resultando de vidas fragmentadas, parcializadas, inconsistentes, decorrendo, enfim, da despersonalização e alienação que geram insatisfação e incongruências. A incoerência, akrasia, remete à desvitalização, à luta desesperada para realizar o necessário e à consequente impossibilidade de satisfação. É o eterno conflito entre utilidade, conveniência e determinação personalizada.
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"Para haver mudança não basta vontade e desejo de mudar, são necessárias antíteses, situações, realidades que se antagonizem" - Vera Felicidade, in: Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos
"Transformar o indivíduo que está impermeabilizado em participante, via enfoque psicoterápico, é criar novos encontros, novas configurações" - Vera Felicidade, in: Autismo em perspectiva na Psicoterapia Gestaltista




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