Referenciais operacionais



Selecionar pessoas, objetos ou situações é sempre um processo, uma atitude comprometida com outros objetivos, com critérios que transformam os indivíduos, por exemplo, em anônimos aptos a ganhar sinais identificatórios, facilmente resumidos em aptos/inaptos/capazes/incapazes.

A escolha de bom, medio e ruim é variável, muda em função de regras flutuantes, vemos isso claramente quando se trata de objetos: ter muitos livros, estocar vinis ou CDs, manter porcelanas e pratarias foram fundamentais em séculos passados, mas hoje em dia, antes de qualquer coisa, se constituem em objetos difíceis de serem mantidos, precisa-se de museus, mansões colossais, ou ainda, ativação de etiquetas tais como: desuso, recordação, coisas usadas no séc.XX etc.

Selecionar é colocar em função de outros critérios que não os da situação enquanto ela própria. O critério que possibilita a seleção é o mesmo que determina as destruições. Lembremos de Hegel quando afirma que o possível é intrinsecamente contraditório, porque sua estrutura essencial não é a identidade abstrata daquilo que não se contradiz, mas antes a própria contradição.

Comparar é afirmar, tanto quanto destruir. Os critérios utilizados para organizar sociedades/sistemas em definições estão comprometidos com outros referenciais contraditórios com o próprio processo de organização. Em outras palavras, mudar é também manter quando isso corresponde a reorganização dentro de um mesmo padrão. A dificuldade de mudança diante da problemática psicológica, a dificuldade de transformar medo e dependência em atitude de questionamento, é fruto do compromisso com a manutenção do que se estabelece como poder, certeza e garantia. O ouro puro, o diamante sem jaça, são unidades que não se padronizam. O misturado é quase sinônimo do puro que não é o único. O plural já indica somatório, obriga visualizar outra reconfiguração, é uma maneira de endereçar trajetórias: momentos de explicitação da unidade são pequenos trechos reconfigurados ou mantidos a depender dos contextos que o suportem, e nesse sentido se torna compreensível que a grande ação se configure como inação, tanto quanto é possível perceber que a descoberta de si mesmo pode ocorrer na confluência e separação de encontros e descobertas. Permanência, manutenção são critérios que resistem a seleções, pois não estão cogitados enquanto comparação: um segundo é apenas um segundo, fração temporal cogitada enquanto construção lógica de referenciais operacionais. O que se pode ou não se pode fazer nele - em um segundo - como se utiliza ou se perde, já enseja critérios selecionáveis.

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