Sem medir, sem contar

 



Não avaliar, não pesar, estar com o outro, com o que acontece independente da avaliação, da verificação de valores e vantagens é humanizador.

Nos relacionamentos humanos acumular, ter o pedaço maior ou o que avalia como o melhor, nada significa pois seis é um acréscimo de uns, de dois etc. a quantidade não expressa a felicidade, não a esgota, nem define.

Perceber o outro, o mundo por meio de limites valorativos estabelece preconceitos. É essa discriminação que alija o outro. É ela que cria conceitos cruéis de inferior, superior, melhor, pior. Atualmente, o dinheiro e o poder são os padrões métricos do ter. As pessoas são avaliadas, são consideradas boas, ruins, superiores, inferiores a depender do que têm. O ser foi diluído, encoberto, transformado pelo ter, essa velha constatação - ser x ter - diariamente assume novas formas desumanizadoras. Avaliar é a chave mestra que tudo codifica e destrói. Nessa codificação existem as pessoas de bem (ricas), as de mal (pobres), as confiáveis (dentro do padrão eleito e definido como bom comportamento) e as não confiáveis. Códigos e regras aviltantes, pois reduzem o ser humano a medições e padrões. Esses padrões de medida são arbitrários e no mínimo sempre estão 25 anos ou uma geração defasados. É o retrógrado da sociedade, é o conservador tomado como base de ação. É o medo, a ignorância determinando e presidindo tudo.

Avaliar, rotular, rejeitar desumaniza, são maneiras de exercer poder, e assim reduzir tudo a pirâmides nas quais os de cima esmagam sua própria base de sustentação. Paradoxo perigoso que nega vida e possibilidade, tanto quanto prepara incômodos e destruição necessários às suas dinâmicas processuais.

Medir (contar é esgotar) é destruir possibilidades ao transformá-las em senhas, moedas de troca e barganha.

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