Confluências


 

Todo rio desagua, converge para o mar. Mesmo essa evidência, essa verdade se torna discutível quando outras variáveis interferem no processo. Rios podem ser desviados de seus cursos para criar usinas hidrelétricas ou para privilegiar pequenos ou grandes feudos. O natural, o intrínseco pode ser descentralizado, operado em função de circunstâncias e objetivos outros, extrínsecos às imanências processuais.

Atualmente, no contexto de população e consumo, constatamos inúmeras confluências arbitrárias. Todo indivíduo famoso, desde o que recebe o 1k de curtidas até os "heróis futebolísticos" passam a ser considerados sabedores de tudo. São pessoas bem vistas, cheias de seguidores, curtidas e comentários, consequentemente formadoras de opinião, e assim devem entender do que é bom e melhor para todos e tudo. O super craque de futebol indica a melhor chuteira, mas como é super bem visto, pois ele é um craque de futebol, passa a ser também porta-voz, arauto de tudo que se quer promover ou vender. Nesse mesmo contexto, cantores famosos se colocam como entendedores de filosofia, literatura, política, história e tudo o mais. As opiniões técnicas, de profissionais em cada uma dessas áreas por exemplo, pouco significam, pois sem moldura, sem auréola, não têm a fama e os milhões de curtidas.

Esse panorama atual é propício para a implantação da inteligência artificial na qual toda produção cognitiva passa a ser consequência algorítimica e probabilística de afirmações de antigas verdades, antigas mentiras e antigas dúvidas, agora entronizadas como pareceres alicerçados em conhecimentos super valorizados.

Ao se construir palanques e pódios se desconstrói o curso das verdades. A circunstancialização expressa em quanto mais melhor, possibilita a afirmação do que é e do que não é. Processos icônicos, metafóricos e de super estrutura, são transformados em base para acréscimos e decréscimos, e assim as distorções frutificam.

Atualmente, criar ídolos, superstars, superatletas e entronizá-los como sabedores de tudo - e consequentemente apagando o caminho do conhecimento - é fazer o caminho da desestruturação, do sim e do não como determinantes do estar no mundo. A confluência do saber transformada em opinião é a entronização da ignorância, desde que circunstancializada enquanto resultado, enquanto verdade.

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