Diluir


 

Quando se dissipa o que concentra - como os objetivos e propósitos - se pode perceber as motivações sob forma de polarizantes ou determinantes do que motiva. Toda concentração de motivação implica necessariamente em ela estar voltada para o que ainda não aconteceu, em estar voltada para o que se precisa, o que se quer que aconteça.  Ressaltar a temporalidade, a defasagem entre o que está acontecendo e o que se deseja que aconteça impõe percepção do que está presente. Tudo que acontece, enquanto acontecimento, é presente, consequentemente não sofre acréscimo. 

É o desejar, o precisar que aconteça, que cria ansiedade. Geralmente a ansiedade é instrumentalizada. Inúmeras vezes ela funciona como escada para atingir o que não está presente, e também para preencher o vazio, o gap da expectativa. É um preenchimento arbitrário, consequentemente polarizante, atrator de tudo que se constitui em obstáculo, resíduo alheio ao que está acontecendo.

Diluir expectativas e desejos é uma maneira de deixar claro, de perceber o que acontece, o que está presentificado. Viver em função de resultados, apostar na realização de propósitos e metas gera contorcionismos comprometedores. É o faz de conta, a construção de "castelos na areia", o ser impulsionado pelo próprio sonho, que aliena e destrói a tranquilidade e a paz que só existe ao perceber o que acontece. Mesmo quando o que existe, o que está acontecendo é a guerra, quando ela é percebida surge tranquilidade, pois se sabe onde se pisa, e é essa base, essa segurança que permite mobilidade, ação, luta e perspectiva de vida.

Diluir o que obstaculiza as próprias percepções neutraliza medo, ansiedade e mentiras, traz lucidez, dissipa trevas, marcas de insegurança e apoios alienadores. Dissipar fumaça, misturas (ansiedade) e confusões (conflitos) é vital para perceber o que acontece, detectando assim as próprias motivações e dificuldades.

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