Repulsa e restrição

 



Detestar alguém ou algo é reduzir inúmeras variáveis ao próprio padrão, algoritmo de percepção do mundo. Essa redução aos próprios interesses e preferências, traduzida por raiva, medo ou inveja, transtorna e esfacela o real. É o a priori, a vivência antecipada. 

A aversão cria padrões, determina preferências e antipatias, sonega possibilidades. É frequente a incidência dessa conduta nos casos de preconceito racial, de gênero e outras tantas atitudes decorrentes de segregação. Esse tipo de postura é responsável pela miséria, pois com ela se corta metade das cabeças da humanidade (restrição às mulheres) e se segrega cérebros, vitalidade e a capacidade de ao menos dois terços dos habitantes do planeta. É dessa matéria prima da aversão, da repulsa, que são criados xenofobia, racismo e inúmeros outros preconceitos.

Aversão, restrição, preconceitos decorrentes de misérias e situações antecipadamente vivenciadas criam tabus que entravam e apequenam a trajetória humana.

Viver é descobrir, por isso é fundamental ser livre, solto de amarras preconceituosas que reduzem tudo às experiências anteriores consagradas como boas, normais e úteis, ou à experiências consagradas como más, anormais e inúteis. Resumir o humano ao processar do algoritmo ou a padrões prefixados é danoso e prejudicial no cotidiano, nos aspectos fisiológicos, religiosos, psicológicos e sociais, enfim, na vida consigo mesmo e com o outro. Tabelas, regulamentos, mandamentos não conseguem resumir nem abranger a diversidade humana. Ter aversão, ter antipatia é ter medo, é se omitir frente ao diferente, ao novo, ao não catalogado. Viver é caminhar e descobrir, não é armazenar e extrapolar vivências como se fossem regras vitais e civilizatórias.

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