“Contradição é a regra da verdade, a não contradição é a regra do falso” – Hegel
Um dos principais fundamentos da dialética hegeliana é: “Contradição é a regra da verdade, a não contradição é a regra do falso” (Contradictio est regula veri, non contradictio falsi).
O desenvolvimento do que se evidencia implica sempre e necessariamente em sua negação, é o equivalente a pensar que está aqui porque não está além, ou ainda, é isto, pois não é aquilo, é carvão porque não é neve, por exemplo.
Ser isto ou não ser aquilo é uma maneira de definir e esgotar universos. A afirmação do que existe implica em contradição, essa é a verdade dialética do movimento, da dinâmica e da totalidade. Ao perceber o relógio no pulso são contraditas outras configurações de relógio e de pulso para que, por exemplo, se afirme o relógio no pulso, mas ao afirmar que o relógio sempre está no pulso, essa é uma afirmação falsa, pois não admite contradição.
É infinito o número de situações atingidas quando utilizados esses critérios dialéticos para fatos psicológicos. Por exemplo: o principal lugar da mesa na sala de jantar é ocupado apenas pelo pai. Essa é uma afirmação falsa, pois não admite contradição. Os filhos são sempre cuidados e amados; isso assim expresso sem admissão de contradição é também uma afirmação falsa.
Portanto, definições ou raciocínios sobre a vida ou o comportamento são verdadeiros se expressarem contradição, essa é a dinâmica dos processos. Quando qualquer processo é ensinado, percebido e afirmado como definitivo, a afirmação é falsa, visto que não admite contradição. Na esfera social vemos que todos os preconceitos são falsos, eles, por definição, são considerados afirmações categóricas e absolutas sem contraditórios. A ideia preconceituosa de que a mulher é inferior ao homem, ou ainda a ideia de raças inferiores ou superiores não permitem contradição pois são colocadas como imperiosas e definitivas (preconceitos), são, consequentemente, estabelecidas em premissas falsas, julgamentos apriorísticos, e assim sendo não são verdadeiras.
Psicologicamente quando alguém se sente deprimido e não vê solução ou mudança, a existência dessa impossibilidade de contradição transforma o próprio sentir-se deprimido em falsidade. O mesmo se aplica às inúmeras vivências de felicidade nas quais não cabe contradição. Enfim, perceber uma situação desvinculada de seus contextos, imobilizada em sua dinâmica cria um caudal de falsidades. Exatamente nesse ponto lembro de Karl Marx, que inspirado por Hegel dizia “tudo que é sólido desmancha no ar”. É regra, ensinamento, vida, mudança, é o que dá perspectiva ao estar no mundo com os outros. Essa é a permanente transitoriedade do existir, do ser assim, do estar aqui com o outro.
Vida é efeito, efeito virando causa como já propunham os biólogos, ou como em outra conceituação: ela é mudança. Negar essa dinâmica e inventar que tudo converge e depende de absolutismos, de Deus, ou de deuses é mais uma maneira de negar ao homem seu mundo, sua possibilidade de existir e coexistir em processos. Vida é o estabelecimento contínuo sempre atingido por infinitas variáveis e contradições.
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Edgar Morin propõe o diálogo entre termos tidos como excludentes - a verdade complexa nasce do vinculo entre noções contraditórias. Ao aplicar a lógica Hegeliana à psicologia, você toca num ponto vital: o sofrimento psíquico, como a depressão ou até a felicidade ilusoriamente plena, quando vistos de modo cristalizado e definitivo, perdem sua verdade, tornam-se estáticos, e por isso falsos. É a falta de contradição que desumaniza a experiência. Edgar Morin diria que o sujeito precisa ser pensado em sua complexidade viva, como um sistema em transformação, afetado por múltiplas variáveis, contextos e tempos — exatamente como você propõe ao dizer que "vida é o estabelecimento contínuo sempre atingido por infinitas variáveis e contradições."
ResponderExcluirAugusto, o processo dialético é simples, a vida também. Tenho um artigo sobre Simples e Complexo aqui: https://psicoterapiagestaltista.blogspot.com/2012/01/simples-e-complexo.html
ExcluirSim, sim, já li anteriormente, muito bom! complexo não é o mesmo que complicado.
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