Indivíduo - Sociedade

Metafórica e simplificadamente, a sociedade é a casa, o espaço que habitamos, que vivemos. Este contexto nos suporta, nos abriga, tanto quanto sinaliza e indica - através de valências e significados relacionais - normas, valores e caminhos a percorrer e a evitar. Quanto mais aberta, transparente e verdadeira, no sentido de que o indicado é o indicado, mais consistente a possibilidade de posicionamentos, diálogo e questionamentos. Sociedades regidas por políticas ditatoriais, ou sociedades que, sob o rótulo de democráticas, agem escondendo propostas absolutistas e escusas, funcionam como ambientes escorregadios onde tudo é mantido em função dos dirigentes ou de propósitos açambarcadores de individualidade para pseudo soluções através de regras coletivas.

Viver com leis que garantam a democracia, a igualdade de todos - e não a sinonimização destas leis com privilégios, com regras econômicas e religiosas ou com políticas dogmáticas -, é o que permite diálogo, mudança, crescimento. A sociedade, a vida em grupo, requer regras, instituições, porta-vozes que estabelecem garantias explicitadas em direitos e deveres. Quando tudo isto é manipulado em função de interesses pessoais (poder, dinheiro) ou de políticas partidárias, se esfacela o sentido comunitário, o sentido societário. Tudo fica polarizado em função dos interesses de poucos, árbitros “democráticos” estabelecidos como reguladores dos outros. Os poderosos seguem e orientam a “massa”, o povo. Esta nova configuração transforma nossa casa - a sociedade - em um galpão para abrigar pessoas e abrigar-se de intempéries. O poder se fragmenta, surgem os ajudantes, os capatazes, tanto quanto os alheios ao sistema, os marginais ao mesmo. Assim, o bom abrigo vira o difícil, o aleatório esconderijo, mera camuflagem do bem e do mal. Neste processo, saber como se conduzir, o que evitar, onde encontrar apoio, estabelece submissão, opressão, acentuando a artificialidade dos processos.

Cada vez mais dominados pelas regras de como sobreviver, como se safar de armadilhas, como se camuflar, como vender as aparências e suas montagens, como se pautar pelo mais valorizado, pelo mais importante, mais se  estabelecem as guias e regras de sobrevivência, através de inserções sociais que orientam das roupas que se veste, ao que se come, ao que vale a pena significar e o que pode ser utilizado como base transacional com os outros.

A continuidade deste processo gera autômatos, prestidigitadores e espertos. E assim, o social aniquila o individual,  não mais o abriga.




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