Dedicação (vivência do presente)




Para que qualquer nó seja desfeito é necessário que haja concentração na atividade. O estado de concentração pode ser entendido como uma resultante da dedicação. Para se dedicar a alguém ou a alguma coisa é preciso se deter na mesma. A atitude de estar dedicado só existe enquanto percepção do que está sendo percebido aqui-e-agora. Dedicação impõe vivência do presente. Viver em função de dedicações passadas ou futuras não é estar dedicado, é estar agarrado a apoios, a suportes, ou estar mantendo andaimes que farão atingir sonhos ou objetivos futuros. A dedicação se faz e se esgota no aqui-e-agora do vivenciado, consequentemente, do percebido.

Quando se coloca entre parênteses (sentido fenomenológico) os medos e expectativas, se consegue aterrissar no presente: perceber o que está acontecendo, independente dos próprios problemas. Essa vivência pode ser fugaz, rapidamente ser invadida pelas apreensões ou desejos, e assim se perde a dedicação ao vivenciado. Ao perceber que percebe, os problemas e desejos, preocupações e ocupações invadem o percebido, passando a contextuá-lo. Significados, valores são acrescentados e assim desaparece a dedicação ao que se quer resolver, ao nó que se procura desatar. Perdendo a dedicação - a vivência do aqui-e-agora enquanto tal - surge sistematização, surgem caminhos e endereços para solução. O problema, o nó se torna secundário e o que passa a interessar é como utilizá-lo, evitá-lo ou escondê-lo. Sem dedicação perde-se motivação, vivacidade e disponibilidade. Tudo vira esquema, regra e compromisso.

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